Capítulo 6 - Psiu, morena

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— Não vai jantar? — Mamãe perguntou, entrando em meu quarto. Eu estava sentada ao pé da cama, segurando o dinheiro sujo que eu havia conquistado. — Fiz aquela sopa que você gosta.

— Já estou indo. — Respondi, oferecendo-lhe um sorriso amarelo. Ela retribuiu o mesmo e saiu do quarto, fazendo-me voltar a fitar os 900 reais que eu tinha em mãos. O valor correspondia a 18% da minha dívida, e só de imaginar que eu teria que atender mais caras como Ricardo, fez-me entrar em colapso.

Após guardar o dinheiro e respirar fundo, fui até a cozinha, onde esquentei a sopa. Meus pais ainda assistiam algo na televisão, me juntei a eles, sentido parte do meu sofrimento passar assim que provei da sopa. Quando terminei de jantar, recostei-me sobre o sofá, onde cochilei em questão de minutos. Eu teria dormido ali mesmo, se não fosse pelo toque estridente do meu celular, anunciado que alguém me ligava. Desbloqueei a tela, assustando-me ao ver cinco chamadas perdidas e mais algumas mensagens de texto.

“Estou preocupado...” — Ricardo havia me enviado. Rolei os olhos, segurando-me para não mandá-lo a puta que pariu.

“Com o quê?” — Enviei de volta.

“Você pode estar grávida!”

“Na boa, Ricardo... Sério?” — Eu não tinha que respondê-lo com educação. O cara havia me acordado para me lembrar de algo que eu queria esquecer?

“Não tem como você tomar a pílula do dia seguinte?”

“Ricardo... Boa noite!”

“Espera! Eu pago, Anastácia. Pense bem... Nem eu nem você queremos uma criança.” — Amaldiçoado seria esse fruto. Respirei fundo antes de respondê-lo. Ele estava certo... A camisinha havia furado.

“E como fazemos?”

“Você tem conta no Bradesco? Se tiver, faço a transferência agora mesmo.”

“Até tenho... O problema é que estou devendo o banco. Se você fizer a transferência, não irei ver nem a cor do dinheiro.”

“E quanto deve?”

“O banco? R$800”

“Me passa sua conta. Irei fazer a transferência.” — Eu neguei de imediato. Ricardo era uma pessoa boa, e eu não queria ser apenas mais uma garota interessada em seu dinheiro. Mas ele insistiu, alegando ter adorado minha companhia. Disse que eu havia lhe feito um bem enorme e que o mínimo que ele poderia fazer, era retribuir de alguma forma. Ele transferiu o dinheiro assim que lhe passei o número da conta, totalizando 34% da minha dívida.

Meu celular tornou a tocar, deixando-me irritada. Entretanto, me surpreendi ao ver que as ligações perdidas não eram de Ricardo, e sim de um número desconhecido.

― Alô? ― Falei receosa, atendendo a chamada.

― Te acordei, né? ― Perguntou a voz rouca e masculina. ― Desculpe, mas eu precisava mesmo falar com você.

― Quem é? ― Indaguei, apertando os olhos, a fim de enxergar a hora no aparelho da TV. Faltava pouco para às 2h.

― Pensei que fosse reconhecer minha voz. ― Disse num tom divertido. ― É o Matheus... Nos conhecemos no Vitrine. ― Por um motivo desconhecido, senti meu coração acelerar e minha boca secar.

― Pensei que não fosse ligar. ― Respondi com a voz baixa, arrancando-lhe uma leve risada.

― Como não? Você está com minha jaqueta!

― Sinto em dizer... Mas minha irmã já se apossou dela. ― Falei com pesar, lembrando-me do dia que cheguei em casa e encontrei Tereza usando a jaqueta.

Anastácia (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora