Vinte

357 15 0
                                    

- Não sei o que faria sem você, Ana. - Juliana entrara em minha sala carregando algumas pastas. Ela sorria, estava alegre, diferente da Juliana estressada de todos os dias.
- O que foi? - Perguntei sem ânimo.
- Graças à você, já batemos a meta do mês. Valter a convidou para almoçar conosco. - Sorri sem graça. O senhor muralha nunca reconhecera meus esforços, e me chamar para um simples almoço, já era gratificante.
- Obrigada!
- Esse almoço promete. - Ela despejou as pastas encima da minha mesa – Te vi chegando com o bombeiro. - Instantaneamente senti minhas bochechas queimarem, eu devia estar mais vermelha que um morango, Juliana percebera meu nervoso e caíra na risada.
- Ele me deu uma carona. - Dei de ombros.
- Sei… - Disse desconfiada – Bom, esteja pronta daqui a meia hora. Espero que goste de massas. - Piscou e saiu da sala.

Não que eu amasse massas, mas lasanha é algo de outro mundo. O convite em si era perfeito, além de reconhecer meu trabalho e acertar meu paladar, a frase que Juliana dissera não saíra de minha mente: “esse almoço promete”. Ela nunca brincava em serviço, e sempre fora sincera comigo.

- Anastácia! - Me cumprimentou com dois beijos no rosto. Valter era o tipo de homem capaz de causar calafrios em qualquer ser humano. Ele nunca demonstrava emoções e parecia nunca estar feliz com nada.
- Tudo bem, Valter? - Entramos em seu carro, Juliana na frente e eu atrás. Não demorou muito até chegarmos no restaurante, o qual se encontrava em um dos bairros mais nobres da cidade.

Fizemos nossos pedidos. Por coincidência, todos pediram lasanha. Eu ficaria bem com uma água de bebida, mas Juliana dissera que a ocasião exigia uma bebida a altura, e Valter por sua vez pediu uma garrafa de Chandon.

- Há muito eu não tinha um funcionário tão dedicado como você. - Estávamos sentados frente a frente, e eu prestava atenção em cada palavra dita. - A última foi Juliana, a qual sempre a elogia. - Olhei pra Ju notando sua expressão divertida, na certa estava achando graça da porra toda. - Então, Ana, sem mais delongas. Quero te promover à minha analista direta. - Arregalei meus olhos não acreditando em sua proposta. Na hora me lembrei da conversa tida com Lolita, na qual ela citava o falimento da empresa. O que ela diria ao saber sobre minha promoção? Não pude deixar de sorrir, afinal a semana de fato começara bem.
- Não sei como agradecer.
- Não precisa minha flor! - Juliana enfim dissera algo – Nós que a agradecemos. E será um prazer dividir as tarefas com você, ou melhor assumir, não é? Afinal você já fazia isso.
- Sim, Ana. - Valter disse – A única coisa que mudará será seu salário.

Já ouviu o ditado: “Sorte no jogo e azar no amor”? Eu estava vivenciando isso. Minha vida profissional mudou em questão de poucas semanas, além de um aumento bastante considerável na empresa, ainda tinha a proposta do Leonardo. Por outro lado, eu estava no meio de um dilema: Eu deveria mesmo escolher entre Vinicius e Matheus?

- 1 real por seus pensamentos. - Leonardo dissera divertido enquanto me servia uma taça de vinho.
- O que fazer com um real hoje em dia tendo em vista que até as casas de 99 centavos estão extintas? - Perguntei no mesmo tom.
- Você é uma adorável companhia, Ana.
- Sei disso! - Pisquei pra ele que sorriu. Nós estávamos em seu escritório, o mesmo que nos encontramos da primeira vez que nos vimos.
- E então, docinho, podemos fechar negócio?

Sua proposta era bem atraente. Leonardo me oferecera emprego em sua boite como dançarina de pole dance. Segundo ele, eu lhe traria lucro, já que eu era o perfil que ele procurava. E convenhamos, Leonardo não é do tipo de cara que brinca em serviço; Confesso que na hora dei risada, achando a proposta um absurdo, afinal nem dançar eu sabia, quanto mais dançar no “pau”. Porém ele me garantiu pagar o curso e prestar qualquer apoio quando necessário. Além do mais, qual mulher não gosta de sentir-se desejada e ainda receber por isso? Eu ganharia 4 mil por apresentação, sendo elas aos finais de semana e com uma hora de duração.
Ou seja: 8 mil por semana.

- Sim. - Disse convicta e assim ele me entregou as papeladas para analisar e assinar.
- Tenho certeza de que não irá se arrepender.
- Não irei! - E não ia mesmo. Estávamos fechando contrato entre empregador e empregado, de carteira assinada, seguindo todas as regras da CLT. Leonardo era um empresário bastante conceituado. Ninguém precisava saber que ele era cafetão. Sua boite seguia toda formalidade e burocracia exigidas pelo estado, que para todos os efeitos, era seu ganha pão.
- Ótimo! - Ele disse assim que terminei de assinar os papéis – Um brinde a nós, Ana. - Erguemos nossas taças e brindamos o início de uma bela troca de favores – Janta comigo?
- Não posso, se eu sair daqui agora pego a segunda aula na facul. - Eu não tinha planos de ir à faculdade naquele dia. Mas como nosso encontro fora breve, eu não poderia me dar o luxo de faltar; Leonardo lançou-me um olhar decepcionado, mas pareceu compreender. Porém, algo me fez querer ficar.
- Tudo bem. - Disse levantando-se e pegando seus pertences que estavam em cima da mesa – Eu te deixo lá.
- Não é necessário! - Levantei arrumando meu vestido – O campus é próximo daqui, vou andando.
- Vem logo, docinho. - Ele disse indo em direção à porta, revirei os olhos e o acompanhei.

Anastácia (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora