Capítulo 24

153 8 0
                                    

Marshall dirigiu quase cinquenta quilômetros ao norte, atravessando a cidadezinha de

Windsor e indo um pouco adiante. Surpreendeu-se ao ver como Ted Harmel ainda morava

perto de Ashton, especialmente depois de se terem encontrado nas montanhas a mais de cento

e cinquenta quilômetros na

Rodovia 27. Esse cara tem de estar louco, pensou Marshall, e talvez eu, ao concordar

com esta bagunça, esteja tão louco quanto ele. O cara é paranóico, um verdadeiro lunático.

Mas ele bem que soara convincente no telefone. Além disso, era uma oportunidade de

reabrir as comunicações, após aquela única entrevista.

Marshall teve de voltar algumas vezes e se reorientar por aquele labirinto de estradas

sinuosas, sem sinalização, em seus esforços de entender as instruções de Harmel. Quando ele

afinal localizou a casa de laterais de madeira no fim de uma longa estrada de pedregulhos,

uma faixa de luz rosada crescia no horizonte. Ele havia levado hora e meia para chegar. Sim,

lá estava o velho carro de Harmel, parado na entrada. Marshall encostou atrás dele e desceu.

A porta da frente estava aberta, a janela quebrada. Marshall agachou-se um instante

atrás do seu carro a fim de estudar a situação. Não estava gostando nada da sensação que o

invadia; suas entranhas já haviam passado por esse tipo de dança antes, na noite em que Sandy

fugira e, como daquela vez, não parecia haver razão óbvia, visível. Ele detestava admitir, mas

estava com medo de dar mais um passo.

— Ted? — chamou ele, não muito alto. Não houve resposta.

A coisa não estava nada boa. Marshall forçou-se a dar volta no carro, caminhar pela

calçada e entrar na varanda muito devagar, com muito cuidado. Mantinha-se à escuta, olhando,

sentindo. Não havia som algum, exceto as batidas violentas do seu coração. Seus sapatos

rangiam de leve nos cacos do vidro da janela. O som parecia ensurdecedor.

Vamos, Hogan, toque em frente.

— Ted? — chamou ele através da porta aberta. — Ted Harmel? Sou Marshall Hogan.

Ninguém respondeu, mas essa tinha de ser a casa do Ted. Lá estava o paletó dele,

pendurado no cabide; na parede acima da mesa de jantar estava emoldurada a primeira página

de uma da edições do Clarim.

Ele se arriscou a entrar.

O lugar estava uma confusão. Os pratos que ficavam na arca do canto estavam agora

espatifados pelo chão. Na sala de estar uma cadeira jazia quebrada logo abaixo de um grande

buraco na parede. As lâmpadas estavam espatifadas. Livros das prateleiras estavam jogados

por toda a parte. A janela lateral também se encontrava quebrada.

E Marshall podia sentir, tão fortemente quanto antes: aquele terror feroz, de retorcer as

entranhas, que havia sentido naquela outra noite.

Ele tentou se livrar dele, tentou ignorá-lo, mas ali estava. Suas palmas suavam; ele se

Este Mundo Tenebroso - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora