Capítulo 2

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Marshall entrou depressa no porão da Delegacia de Ashton e imediatamente desejou poder desligar o nariz e os ouvidos. Além da porta cheia de grades que levava à ala das celas, os ruídos e odores que emanavam das celas não diferiam muito dos do parque de diversões na noite anterior. Ao vir para cá, ele havia notado como as ruas estavam quietas esta manhã. Não era de admirar - todo o barulho tinha vindo parar dentro dessa meia-dúzia de celas de pintura descascando, embutidas em concreto frio e ressonante. Aqui estavam todos os drogados, vândalos, desordeiros, bêbados e vagabundos que a polícia tinha podido arrebanhar da face da cidade, recolhidos no que mais parecia um zoológico superlotado.

Alguns estavam transformando aquilo numa festa, jogando pôquer por cigarros, usando cartas todas marcadas de dedos e tentando sobrepujar os outros nas narrativas de aventuras ilícitas. Perto do fim das celas, um bando de jovens machos dirigia comentários obscenos a uma gaiolada de prostitutas que não tinham um lugar melhor para serem trancafiadas. Outros simplesmente se montoavam pelos cantos em estado de embriaguez ou afundados em depressão, ou as duas coisas. Os remanescentes olhavam-nos fixamente por detrás das grades, fazendo comentários maliciosos, pedindo ninharias. Ele ficou contente por ter deixado Kate na entrada.

Jimmy Dunlop, o novo assistente do Delegado, estava estacionado fielmente à mesa da guarda, preenchendo formulários e bebendo café forte.

- Ei, Sr. Hogan - disse ele - o senhor veio logo.

- Eu não podia esperar... e não vou esperar! - disse, brusca mente. Não se estava sentindo bem. Este havia sido o seu primeiro Festival, e só isso já era um mal em si, mas ele jamais esperou, jamais sonhou com um tal prolongamento da agonia. Qual uma torre, ele se elevou à frente da mesa, sua robusta figura inclinando-se para a frente a fim de acentuar a sua impaciência.

- E então? - insistiu.

- Hummm?

- Estou aqui para tirar a minha repórter da cadeia.

- Claro, sei disso. Trouxe a permissão?

- Olhe aqui. Acabei de pagar aqueles engraçadinhos lá em cima. Eles disseram que ligariam aqui para baixo.

- Bem... não fiquei sabendo de nada, e preciso da autorização.

- Jimmy...

- O que é?

- Seu telefone está fora do gancho.

- Oh...

Marshal colocou o telefone à frente do guarda com tanta força que fez o telefone tilintar

de dor.

- Ligue para eles.

Marshall endireitou-se, viu Jimmy discar o número errado, discar novamente, tentar completar a ligação. Ele combina bem com o resto da cidade, pensou Marshall, passando nervosamente os dedos pelos cabelos vermelhos que começavam a ficar grisalhos. Ora, claro que era uma cidade simpática. Engraçadinha, talvez um tanto estúpida, meio como um garotão desajeitado que está sempre se metendo em encrencas. As coisas não eram tão melhores assim na cidade grande, tentou lembrar a si mesmo.

- Ah, Sr. Hogan - disse Jimmy, com a mão sobre o bocal - com quem foi que o senhor falou?

- Kinney.

- Sargento Kinney, por favor. Marshall estava impaciente.

- Passe-me a chave da porta. Quero que ela saiba que estou aqui. Jimmy deu-lhe a chave. Já havia discutido com Marshall Hogan antes.

Uma onda de fingidas boas-vindas jorrou das celas, acompanhada de tocos de cigarros e o som de marchas assobiadas enquanto ele passava. Ele não perdeu tempo em achar a cela que procurava.

Este Mundo Tenebroso - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora