Capítulo 28

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Guilo mordeu o lábio inferior e, juntamente com suas duas dúzias de guerreiros,

examinou o vale. De seu ponto de observação a meio caminho nas encostas das montanhas e

escondido entre as rochas, o Covil do Valente parecia uma caldeira que fervia e zumbia com

miríades de espíritos negros, formando uma neblina pululante e viva acima da aglomeração de

prédios. O som de asas era um cantochão constante, grave, cujo eco retornava sobre si dos

penhascos rochosos ao redor do vale. Nesse momento, os demônios estavam alvoroçados, à

semelhança de enraivecido enxame de abelhas.

— Eles estão-se preparando para alguma coisa — observou um dos guerreiros.

— Mesmo assim — disse Guilo — algo não me cheira bem, e eu me arriscaria a dizer

que se relaciona com ela.

Em todo o complexo, furgões e reboques estavam carregados com tudo, desde

equipamento de escritório até os troféus empalhados de Alexander M. Kaseph. O pessoal

repassava os dormitórios, empacotando os pertences e varrendo os quartos. Excitação e

antecipação permeavam tudo, e as pessoas se aglomeravam, tagarelando em suas línguas

nativas.

No casarão de pedra, segregada de toda a atividade, Susan Jacobson trabalhava

apressada em seu aposento particular, consolidando uma enorme caixa de lançamentos, livrosrazão,

documentos, material impresso. Tentava eliminar tudo o de que não tivesse absoluta

necessidade, mas quase todos os itens pareciam indispensáveis. Mesmo assim, tudo teria de

caber em apenas uma mala, que agora estava sobre a cômoda. Até aqui a carga era volumosa

demais para caber na mala, e pesada demais para Susan carregar mesmo que coubesse.

Com algumas orações, murmuradas às pressas, e mais alguns exames rápidos, ela

eliminou metade dos itens. A seguir, tomando o que sobrou, começou a arranjar

meticulosamente na mala, um livro aqui, alguns depoimentos ali, mais documentos, algumas

fotografias, outro livro-razão, um papel impresso no computador, espessa resma de

fotocópias, filmes não revelados.

Passos no corredor. Ela fechou depressa a mala, apertando a tampa a fim de poder

prender os trincos, e a seguir arrastou o pesado objeto para a grande cama em baixo da qual a

fez desaparecer rapidamente. Então jogou os itens que não haviam cabido na mala de volta na

caixa e escondeu-a numa prateleira atrás das roupas de cama num pequeno armário.

Kaseph entrou no quarto sem bater. Vestia-se de modo informal porque também estivera

fazendo as malas e participando de toda aquela atividade.

Ela se dirigiu a ele e o abraçou.

— Oi, como vão as coisas com você?

Ele devolveu-lhe brevemente o abraço, depois deixou cair os braços e começou a olhar

pelo quarto.

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