Capítulo 33

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Edith Duster havia sentido o espírito um tanto agitado antes de se deitar naquela noite.

Por isso, ao ser acordada abruptamente por dois seres luminosos em seu quarto, não se

surpreendeu de todo, embora ficasse pasmada.

— Glória a Deus! — exclamou, os olhos muito abertos, a face embevecida.

Os dois homens altos tinham rosto bondoso e compassivo, mas sua expressão era séria.

Um era alto e loiro; o outro, jovem e de cabelos escuros. Ambos chegavam à altura do teto, e

o fulgor de suas túnicas brancas enchia o quarto. Cada um deles trazia bainha e cinto

resplendentes, e o cabo das suas espadas eram do mais puro ouro, cravejados de jóias

cintilantes.

— Edith Duster — disse o loiro alto, com voz profunda e ressonante — vamos entrar

em batalha pela cidade de Ashton. A vitória repousa nas orações dos santos de Deus. Pelo

temor que tem ao Senhor, ore, e convoque os outros à oração. Ore pedindo que o inimigo seja

vencido e os justos libertados.

Então disse o de cabelos escuros.

— O seu pastor, Hank Busche, foi preso. Ele será libertado mediante suas orações.

Chame Mary, a esposa dele. Sirva-lhe de conforto.

De súbito, eles já não estavam ali, e o quarto ficou escuro novamente. De alguma forma,

Edith sabia que já os tinha visto antes, talvez em sonhos, talvez como pessoas comuns,

normais, em diferentes lugares. E ela sabia da importância do pedido que fizeram.

Erguendo-se, ela agarrou o travesseiro e colocou-o no chão, ajoelhando-se a seguir

sobre ele, ao lado da cama. Ela queria rir, queria chorar, queria cantar; sentia de repente uma

responsabilidade e um poder nas profundezas do seu ser, e entrelaçando as mãos trêmulas

sobre a cama, ela curvou a cabeça e começou a orar. As palavras fluíam do mais profundo de

sua alma, clamando em favor do povo

de Deus e da justiça de Deus, uma súplica por poder e vitória em nome de Jesus, pela

repressão das forças do mal que tentavam tomar a própria vida, o próprio coração daquela

comunidade. Nomes e rostos cascatearam diante dos olhos da sua mente e ela intercedeu por

todos, suplicando diante do trono de Deus a sua segurança e salvação. Ela orou. Orou. E orou.

Do alto, a cidade de Ashton estava espalhada como um inocente vilarejo de brinquedo

numa colcha de retalhos, uma comunidade pequenina e despretensiosa ainda adormecida, mas

banhada agora pelo crescente transbordar de rosa e cinza que precedia a aurora, vindo das

montanhas do leste. Até então nada se movia na cidade. Nenhuma luz estava sendo acesa; o

caminhão de leite ainda estava estacionado.

De algum lugar no céu, além das nuvens orladas de cor-de-rosa, principiou um som

solitário, impetuoso. Um guerreiro angélico, pairando no ar como uma gaivota, descreveu

Este Mundo Tenebroso - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora