Capítulo 35

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O hotel em Orting era simpático, exótico, caseiro, exatamente como o resto dessa cidade
situada ao longo do rio Judd, na fronteira da floresta nacional. Era uma hospedaria para
esportistas, construído e decorado em agradável tema de caça e pesca, de passeio nos
bosques. Susan não queria encrencas ou atenção, portanto pagou para ter mais dois ocupantes
no quarto aquela noite. Eles se dirigiram ao aposento e abaixaram os estores. Todos deram
uma passada pelo banheiro, mas Berenice ficou lá um pouco mais, cuidadosamente enrolando
de novo as faixas em torno das costelas e a seguir lavando o rosto. Mirou-se ao espelho e
tocou os machucados muito de leve, assobiando com o que viu. Só poderia melhorar dali em
diante.
Entrementes, Susan havia jogado a grande mala sobre a cama e a havia aberto. Quando
Berenice finalmente saiu, Susan tirou um livrinho da mala e entregou-lhe.
— Foi aqui que tudo começou — disse ela. — É o diário de sua irmã.
Berenice não sabia o que dizer. Um brilhante não teria constituído tesouro maior. Pôde
apenas baixar os olhos ao pequeno diário azul, o último elo restante a ligá-la à irmã morta, e a
luta para acreditar que ele realmente ali se encontrava.
— Onde... como conseguiu isto?
— Juleen Langstrat assegurou-se de que ninguém o visse. Fez com que fosse roubado do
quarto de Pat e deu-o a Kaseph, de quem eu roubei. Tornei-me a garota de Kaseph, como sabe;
sua Serva, como ele dizia. Tinha acesso regular a ele o tempo todo, e ele confiava em mim.
Encontrei o diário por acaso certo dia quando arrumava o seu escritório, e reconheci-o
imediatamente pois costumava ver Pat escrever nele quase todas as noites no nosso quarto do
dormitório. Tirei-o às escondidas, li-o, e ele me despertou. Eu achava que Alexander Kaseph
era... bem, o Messias, a resposta para toda a humanidade, um verdadeiro profeta da paz e da
fraternidade universais...
Susan fez ar de quem estava ficando enjoada.
— Oh, ele me encheu a cabeça com todo esse tipo de conversa, mas em algum lugar
dentro de mim sempre tive minhas dúvidas. Esse livrinho aí disse-me que desse ouvido às
dúvidas e não a ele.
Berenice folheou as páginas do diário. Datava de alguns anos atrás, e parecia muito
detalhado. Susan continuou:
— Você pode não querer ler neste exato momento. Quando li esse diário... bem, fiquei
nauseada durante dias.
Berenice queria o fim da história.
— Susan, você sabe como minha irmã realmente morreu? Susan disse enraivecida:
— Sua irmã Pat foi metódica e selvagemente destruída pela Sociedade da Percepção Universal, ou eu deveria dizer pelas forças por trás da sociedade. Ela cometeu o mesmo erro
fatal que vi tantos outros cometerem: descobriu muita coisa a respeito da Sociedade,
demonstrou ser inimiga de Alexander Kaseph. Escute, o que Kaseph quer, ele consegue, e não
se importa com quem tenha de ser destruído, assassinado ou mutilado para garantir isso —.
Ela meneou a cabeça. — Eu tinha de estar cega para não ver o que estava acontecendo com
Pat. Era exatamente o que deveria esperar!
— E que me diz de um homem chamado Thomas? Susan respondeu diretamente:
— Sim, foi Thomas. Ele foi o responsável pela morte de Pat —.
Em seguida, ela acrescentou um tanto enigmaticamente:
— Mas ele não era homem.
Berenice estava aos poucos começando a entender esse novo jogo com suas regras
muito esquisitas.
— E agora vai me dizer que também não era mulher.
— Pat tinha um curso de psicologia, e um dos requerimentos era o de que ela
participasse de um grupo de "cobaias" para experiências psicológicas... está no diário, lerá
tudo. Um amigo persuadiu-a a participar de uma experiência que envolvia técnicas de
descontração, e foi durante essa experiência que ela teve o que chamou de experiência
psíquica, certo tipo de percepção de um mundo superior, como ela disse.
— Serei breve; pode ler tudo isso por si mesma depois. Ela se apaixonou
profundamente pela experiência e não via ligação alguma entre essa exploração "científica" e
as práticas "místicas" de que eu estava participando. Ela voltou frequentemente, continuou a
tomar parte nas experiências, e por fim entrou em contato com aquilo que chamou de "ser
humano altamente evoluído e desencarnado" de outra dimensão, um ser muito sábio e
inteligente chamado Thomas.
Berenice achou difícil aceitar o que estava ouvindo, mas segurava a documentação do
relato de Susan, o diário da irmã.
— Então, quem era realmente esse Thomas? Apenas invenção dela?
— Há coisas que simplesmente terá de aceitar por enquanto replicou Susan com um
suspiro. — Falamos de Deus, brincamos com a idéia de anjos; tentemos agora anjos malignos,
entidades espirituais malignas. Para os cientistas ateus, eles poderiam aparecer como seres
extraterrenos, geralmente em suas próprias naves espaciais; aos evolucionistas, podem alegar
serem seres altamente evoluídos; aos solitários, podem aparecer como parentes há muito
mortos, falando de além túmulo; psicólogos jungianos consideram-nos "imagens arquétipas"
desenterradas do consciente coletivo da raça humana.
— O quê?
— Ei, escute, qualquer descrição ou definição serve, qualquer que seja o formato,
qualquer que seja a aparência necessária para conquistar a confiança da pessoa e apelar à sua
vaidade, essa é a aparência que eles tomam. E dizem à iludida pessoa que busca a verdade o
que ela quiser ouvir até terem completo domínio sobre ela.
— Como um conto do vigário, em outras palavras.
— É tudo um conto do vigário: meditação oriental, bruxaria, feitiçaria, Ciência da
Mente, cura psíquica, educação integralizada... oh, a lista não tem fim, é tudo a mesma coisa,
nada mais que uma tapeação para tomar a mente e o espírito das pessoas, e até seus corpos.
Berenice repassou lembrança após lembrança de sua investigação, e as alegações de
Susan encaixavam-se direitinho.
Susan continuou:
— Berenice, estamos lidando com uma conspiração de entidades espirituais. Eu sei.
Kaseph está envolvido com muitas dessas entidades e recebe ordens delas. Elas fazem o
trabalho sujo dele. Se alguém se mete no caminho dele, ele dispõe de inúmeros recursos no
mundo espiritual para desvencilhar-se do problema da maneira que seja mais conveniente.
Ted Harmel, pensou Berenice. Os Carluccis. Quantos outros?
— Você não é a primeira pessoa que me diz isso.
— Espero ser a última que terá de fazê-lo. Kevin fez-se ouvir.
— Sim, lembro-me de como Pat falava em Thomas. Ele nunca dava a impressão de ser
humano. Ela agia mais como se ele fosse um deus. Tinha de consultá-lo antes mesmo de
resolver o que comer no café da manhã. Eu... eu achei que ela tinha arranjado um namorado,
sabe, algum tipo machão chauvinista.
Susan entrou suavemente no arremate da história.
— Pat havia entregue a vontade a Thomas. Não demorou muito; geralmente não demora,
uma vez que a pessoa realmente se submeta à influência de um espírito. Sem dúvida ele
passou a controlá-la, depois a aterrorizá-la, depois convenceu-a de que... bem, os hindus
chamam isso de carma; é a ilusão de que sua próxima vida será melhor que esta porque você
fez um número suficiente de pontos. No caso de Pat, uma morte auto-infligida nada mais seria
do que a forma de escapar ao mal deste mundo inferior e juntar-se a Thomas num estado
superior de existência.
Susan folheou delicadamente as páginas do diário que ainda se encontrava nas mãos de
Berenice, e encontrou o última anotação.
— Aí está. A última coisa no diário de Pat é uma carta de amor a Thomas. Ela
planejava juntar-se a ele em breve, e chega a mencionar como fará isso.
A idéia de ler essa carta repelia Berenice, mas ela pôs-se a repassar as últimas páginas
do diário da irmã. Pat escrevera no estilo de alguém que estivesse sob uma ilusão muito
estranha que soava grandiosa, mas ficava patente que ela também estava desorientada por um
medo irracional da própria vida. Terrível sofrimento e angústia espiritual haviam tomado
conta de sua alma, transformando-a da despreocupada Patrícia Krueger com quem Berenice
havia sido criada em uma psicótica aterrorizada, sem rumo, totalmente desligada da realidade.
Berenice tentou continuar a leitura, mas começou a sentir antigas mágoas reabrindo-se;
emoções que haviam esperado por esse exato momento de revelação final explodiram de seus esconderijos como um rio através da comporta aberta. As palavras rabiscadas e errantes nas
páginas borraram atrás de súbita cascata de lágrimas, e todo o seu corpo foi sacudido por
soluços. Tudo o que ela queria fazer era excluir o mundo, não dar atenção a essa mulher
galante e a esse pobre madeireiro desgrenhado, deitar-se na cama, e chorar. E foi o que fez.
Hank dormia tranquilamente em seu leito na cela. Marshall não conseguia pegar no sono.
Achava-se sentado no escuro, as costas de encontro às grades frias e duras da cela, a cabeça
pendida, a mão dando voltinhas nervosas em torno do rosto.
Ele havia levado chumbo nas entranhas. Essa era a impressão que tinha. Nalgum canto,
ele havia perdido a proteção do seu escudo, a força, a fachada forte e durona. Sempre havia
sido Marshall Hogan, o caçador, o perseguidor, o que conseguia tudo o que queria com a
atitude de saia-da-minha-frente, um inimigo que não podia ser subestimado, um cara que se
virava sozinho.
Um estafermo, isso é o que era, e nada mais que um tolo. Esse Hank Busche tinha razão.
Olhe para você, Hogan. Não se preocupe com Deus pisar na bola; você já pisou há muito
tempo. Deu com os burros na água, cara. Achou que tinha tudo sob controle, e agora onde está
a sua família, e onde está você?
Talvez tenha caído na esparrela desses demônios de quem Hank esteve falando, mas
pode ser também que tenha caído na sua própria esparrela. Convenhamos, Marshall, que sabe
por que lesou a sua família. Pura negligência, a mesma velha história. E gostou de trabalhar
com a sua repórter bonita, não gostou? Provocando-a, ati-rando-lhe bolinhas de papel, ora
essa! Quantos anos tem, dezesseis?
Marshall deixou que a mente e o coração lhe dissessem a verdade, e sentiu que muito do
que falaram já era do seu conhecimento em algum lugar mas ele nunca havia escutado. Por
quanto tempo, começou a perguntar-se, tinha mentido para si mesmo?
— Kate — sussurrou ali no escuro, os olhos brilhantes de lágrimas. — Kate, o que foi
que fiz?
Uma grande mão atravessou a cela e tocou o ombro de Hank. Hank mexeu-se, abriu os
olhos e disse baixinho:
— Sim, o que é?
Marshall chorava e disse em voz muito baixa:
— Hank, não presto. Preciso de Deus. Preciso de Jesus. Quantas vezes na vida havia
Hank dito as palavras "Vamos orar."
Depois que diversos minutos se haviam passado, Berenice começou a sentir o dilúvio
amainar. Ela se sentou, ainda fungando, mas tentado retornar ao negócio diante deles.
— Foi o que me despertou — reiterou Susan. — Achei que esses seres eram
benevolentes; achei que Kaseph tinha todas as respostas. Mas vi a todos como realmente eram
ao ler o que fizeram com a minha melhor amiga, Sua irmã.
Kevin perguntou:
— Então foi por isso que você me procurou no parque de diversões e pediu o meu
número?
— Kaseph tinha uma reunião especial na cidade com Langstrat e outros conspiradores
vitais, Oliver Young e Alf Brummel. Eu fui a Ashton com Kaseph, acompanhando-o como
sempre, mas quando tive a oportunidade, escapuli. Tinha de aproveitar a chance de talvez
encontrá-lo em algum lugar. Talvez tenha sido Deus outra vez; foi nada menos que milagroso o
fato de ter encontrado você no parque. Eu precisava de um amigo no lado de fora em quem eu
pudesse confiar, alguém obscuro.
Kevin sorriu.
— É, essa descrição me assenta muito bem. Susan continuou:
— Kaseph nunca gostou de sentir que não tinha controle absoluto sobre mim. Quando
desapareci de vista no parque, ele provavelmente disse aos outros que fora ele quem me
enviara lá e que eles se encontrariam comigo. Quando ele me encontrou e me arrastou atrás
daquela barraca idiota, falou aos outros como se eu tivesse ido à frente e escolhido aquele
lugar.
Berenice disse:
— E foi nessa hora que apareci e tirei a foto de vocês!
— E Alf Brummel passou umas notas àquelas duas prostitutas e algumas instruções a
alguns de seus amigos de Windsor, e você sabe o resto.
Susan dirigiu-se à mala.
— Mas vamos agora à notícia realmente importante. Kaseph fará a sua jogada amanhã.
Há uma reunião especial marcada com os membros do conselho diretor da Faculdade
Whitmore para as 14:00hs. A Omni S.A., como uma frente da Sociedade da Percepção
Universal, tem planos de comprar a Faculdade Whitmore, e Kaseph vai fechar o negócio.
Os olhos de Berenice se escancararam de horror.
— Então tínhamos razão! Ele quer-se apoderar da faculdade!
— É boa estratégia. A cidade inteira de Ashton está praticamente construída em torno da
faculdade. Uma vez que a Sociedade e Kaseph se estabeleçam em Whitmore, exercerão
influência avassaladora so-
bre o resto da cidade. O pessoal da Sociedade afluirá ali como um enxame e Ashton se
tornará outra "Cidade Sagrada da Mente Universal". Já aconteceu um número suficiente de
vezes antes, em outras cidades, em outros países. Berenice deu um soco na cama em
frustração.
— Susan, temos os registros das transações financeiras de Eugene Baylor, prova que
poderia mostrar como a faculdade foi arruinada. Mas não conseguimos entender nada daquilo!
Susan tirou uma latinha da mala.
— Na realidade, vocês só têm metade do quadro. Baylor não é nenhum bobo; sabia que
teria de esconder o que fazia de forma que seu desfalque em favor da Omni não fosse
percebido. Você precisa é da outra metade das transações: os registros do próprio Kaseph —.
Ela estendeu a latinha para que eles vissem. — Eu não tinha espaço para todo o material. Não
obstante, fotografei-o, e se pudéssemos revelar este filme...
— Temos um quarto escuro no Clarim. Poderíamos fazer as fotos imediatamente.
— Vamos sair daqui. Eles andaram depressa.
O Remanescente continuava orando. Nenhum deles tinha podido ver ou mesmo receber
notícias de Hank desde que fora preso. A delegacia estava o tempo todo nas mãos de policiais
estranhos que ninguém jamais vira em Ashton antes, e nenhum deles sabia coisa alguma a
respeito de como visitar alguém na cadeia, ou como pagar-lhes a fiança, nem permitiam que se
tentasse descobrir como fazer isso. Parecia que Ashton se havia tornado um estado totalitário.
Medo, raiva e oração aumentaram. Algo terrível estava acontecendo à cidade, e todos
eles sabiam disso vividamente, mas o que podia ser feito numa cidade cujas autoridades
estavam surdas, em um município cujos gabinetes estavam fechados para o fim-de-semana?
As linhas telefônicas continuavam zumbindo, tanto dentro da cidade quanto em
chamadas interurbanas a parentes e amigos, e todos esses caíram de joelhos em intercessão e
ligaram para suas próprias autoridades e legisladores.
Alf Brummel manteve-se afastado do seu gabinete, evitando assim algum cristão
aborrecido que lhe viesse com sermões acerca dos direitos constitucionais do seu pastor, ou
do dever de um funcionário público de fazer a vontade do povo, ou qualquer outra coisa.
Permaneceu no apartamento de Langstrat andando de um lado a outro, preocupado, suando,
esperando as 14:00 horas do domingo.
Vovó Duster continuava a orar e a assegurar a todos que Deus tinha tudo sob controle.
Lembrou-lhes do que os anjos lhe haviam dito, e a seguir relembrou-os daquilo com que eles
haviam sonhado, ou ouvido em pensamento enquanto oravam, ou visto numa visão, ou sentido
em seus espíritos. E eles continuavam a orar pela cidade.
E por toda a parte, de todas as direções, novos visitantes continuavam a chegar a
Ashton, transportados em caminhões de feno ou passando-os na estrada, pedindo carona como
fazem excursionistas no verão, deslizando pelos milharais e a seguir pelas ruas secundárias,
rugindo cidade adentro como motoqueiros doidos, chegando agarradinhos como colegiais,
escondidos em porta-malas e debaixo do bojo de todo o veículo que passava pela Rodovia
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E continuamente os escaninhos, as frestas, os aposentos que ninguém usava, e
incontáveis esconderijos além desses em toda a cidade ficaram repletos de vultos quietos,
calados, as mãos robustas nas espadas, os olhos dourados penetrantes e alertas, os ouvidos
sintonizados a um som específico de uma trombeta específica.
Acima da cidade, escondido nas árvores, Tal ainda podia olhar do outro lado do vasto
vale e ver Rafar na grande árvore morta, supervisionando as atividades de seus demônios.
Capitão Tal continuava a vigiar e esperar.
No vale remoto, uma nuvem rapidamente crescente de espíritos demoníacos se revolvia
em raio de uns três quilômetros em redor da fazenda, elevando-se à altura dos picos das
montanhas. Era impossível contar o seu número, sua densidade era tal que a nuvem obscurecia
por completo qualquer coisa que envolvesse. Os espíritos dançavam e sibilavam como
desordeiros bêbados, abanando as espadas, endoidecidos e babando, os olhos selvagens de
loucura. Miríades deles saíam aos pares, combatendo, atacando e defendendo, testando a
habilidade um do outro.
No escurecido centro da nuvem, no casarão de pedra, sentava-se o Valente com olhos
meio fechados e um risinho torto que tornava mais profundas as dobras de sua grande cara
flácida. Na companhia de seus generais, ele tirou tempo para vangloriar-se com as notícias
que havia acabado de receber de Ashton.
— O Príncipe Rafar satisfez a meus desejos, cumpriu sua missão — disse o Valente,
pondo à mostra em seguida as presas de marfim em um sorriso baboso. — Vou gostar daquela
cidadezinha. Em minhas mãos, ela crescerá como uma árvore e encherá os campos.
Ele saboreou seu próximo pensamento:
— Pode ser que jamais tenha de deslocar-me daquele lugar. O que acham? Teremos
nosso lar enfim?
Os altos e odiosos generais murmuraram todos afirmativamente. O Valente ergueu-se do
seu assento, e os outros puseram-se de chofre em rígida e aprumada posição de sentido.
— O nosso Sr. Kaseph tem-me chamado por algum tempo agora. Preparem as tropas.
Partiremos imediatamente.
Os generais arrojaram-se através do teto da casa nuvem adentro, ganindo ordens,
reunindo as tropas.
O Valente desfraldou as asas com pose real, depois qual abutre monstruoso, pesadão,
flutuou ao aposento no porão onde Alexander Kaseph, sentado de pernas cruzadas sobre uma
grande almofada, entoava o nome do Valente vez após vez. O Valente aterrizou à frente de
Kaseph e observou-o por um momento, sorvendo a adoração e servilidade espirituais de
Kaseph. Então, num movimento rápido, adiantou-se e deixou seu enorme vulto dissolver-se no
corpo de Kaseph enquanto o homem se crispava e contorcia grotescamente. Em um instante, a
possessão era completa, e Alexander Kaseph despertou da meditação.
— Chegou a hora! — disse ele, com a expressão do Valente nos olhos.

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