Triste, Sandy Hogan estava sentada à mesinha de almoço numa praça do campus
sombreada por um caramanchão. Seu olhar estava fixo num hambúrguer pré-preparado e
aquecido em forno de microondas, que esfriava aos poucos, e numa caixinha de leite que aos
poucos ficava morno. Ela conseguira assistir às aulas naquela manhã, nem absorvera a maior
parte delas. A sua mente estava demasiado ocupada consigo mesma, sua família, e seu
belicoso pai. Além disso, tinha sido uma forma horrível de passar a noite, atravessar a cidade
de ponta a ponta, e ficar sentada a noite toda na estação rodoviária de Ashton, lendo o texto de
psicologia. Após a última aula do dia, ela havia tentado tirar uma soneca no gramado do
jardim da escultura, e chegara até a dar um breve cochilo. Quando acordou, o seu mundo não
havia melhorado, e ela tinha apenas duas impressões: fome e solidão.
Agora, sentada naquela mesinha com o almoço comprado na máquina, sua solidão
estava empurrando para longe a fome e ela estava à beira das lágrimas.
— Por que, Papai? — murmurou em tom quase inaudível, mexendo o leite com o
canudo. — Por que você não me consegue amar do jeito que sou?
Como podia ele ter tanta coisa contra ela quando mal a conhecia? Como podia ser tão
inflexível contra os seus pensamentos e filosofias quando nem mesmo conseguia compreendêlos?
Os dois viviam em mundos diferentes, e cada qual desprezava o do outro.
Na noite anterior ela e o pai não haviam trocado palavra, e Sandy fora deitar-se
deprimida e zangada. Mesmo enquanto ouvia os pais apagarem as luzes, escovarem os dentes,
e se deitarem, pareciam estar a meio mundo de distância. Ela desejava chamá-los para virem
ao seu quarto e estender-lhes os braços, mas sabia que não daria certo; o pai faria exigências e
imporia condições ao relacionamento, em vez de amá-la, simplesmente amá-la.
Ela ainda não sabia o que a havia aterrorizado no meio da noite. Tudo o de que
conseguia se recordar era ter acordado acossada por todos os medos que já tivera — medo da
morte, medo do fracasso, medo da solidão. Ela tinha de sair da casa. Ela sabia, mesmo
enquanto se vestia às pressas e saia correndo pela porta, que era tolice e não adiantaria nada,
mas as sensações eram mais fortes do que qualquer bom senso que ela podia invocar.
Agora ela se sentia muito como um pobre animal jogado ao espaço sem meios de voltar,
flutuando inquieto, esperando por nada em particular e sem nenhuma expectativa.
— Oh, Papai — choramingou ela, e então as lágrimas começaram a cair.
Ela deixou que os cabelos cor de fogo caíssem como macios anteparos dos dois lados
do rosto e as lágrimas caíram uma a uma no topo da mesa. Ela ouvia gente passando, mas
essas pessoas preferiam viver em seu próprio mundo e deixá-la a sós no dela. Ela tentou
chorar baixinho, o que era difícil quando as emoções queriam sair como o cascatear de uma
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Este Mundo Tenebroso - Volume 1
EspiritualEste livro conta a história de uma das maiores batalhas espirituais já travadas pelos anjos de Deus contra os principados e potestades deste mundo tenebroso. O episódio tem seu início sob o céu e entre os habitantes da cidadezinha de Bascon, propaga...