Capítulo 8

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Triste, Sandy Hogan estava sentada à mesinha de almoço numa praça do campus

sombreada por um caramanchão. Seu olhar estava fixo num hambúrguer pré-preparado e

aquecido em forno de microondas, que esfriava aos poucos, e numa caixinha de leite que aos

poucos ficava morno. Ela conseguira assistir às aulas naquela manhã, nem absorvera a maior

parte delas. A sua mente estava demasiado ocupada consigo mesma, sua família, e seu

belicoso pai. Além disso, tinha sido uma forma horrível de passar a noite, atravessar a cidade

de ponta a ponta, e ficar sentada a noite toda na estação rodoviária de Ashton, lendo o texto de

psicologia. Após a última aula do dia, ela havia tentado tirar uma soneca no gramado do

jardim da escultura, e chegara até a dar um breve cochilo. Quando acordou, o seu mundo não

havia melhorado, e ela tinha apenas duas impressões: fome e solidão.

Agora, sentada naquela mesinha com o almoço comprado na máquina, sua solidão

estava empurrando para longe a fome e ela estava à beira das lágrimas.

— Por que, Papai? — murmurou em tom quase inaudível, mexendo o leite com o

canudo. — Por que você não me consegue amar do jeito que sou?

Como podia ele ter tanta coisa contra ela quando mal a conhecia? Como podia ser tão

inflexível contra os seus pensamentos e filosofias quando nem mesmo conseguia compreendêlos?

Os dois viviam em mundos diferentes, e cada qual desprezava o do outro.

Na noite anterior ela e o pai não haviam trocado palavra, e Sandy fora deitar-se

deprimida e zangada. Mesmo enquanto ouvia os pais apagarem as luzes, escovarem os dentes,

e se deitarem, pareciam estar a meio mundo de distância. Ela desejava chamá-los para virem

ao seu quarto e estender-lhes os braços, mas sabia que não daria certo; o pai faria exigências e

imporia condições ao relacionamento, em vez de amá-la, simplesmente amá-la.

Ela ainda não sabia o que a havia aterrorizado no meio da noite. Tudo o de que

conseguia se recordar era ter acordado acossada por todos os medos que já tivera — medo da

morte, medo do fracasso, medo da solidão. Ela tinha de sair da casa. Ela sabia, mesmo

enquanto se vestia às pressas e saia correndo pela porta, que era tolice e não adiantaria nada,

mas as sensações eram mais fortes do que qualquer bom senso que ela podia invocar.

Agora ela se sentia muito como um pobre animal jogado ao espaço sem meios de voltar,

flutuando inquieto, esperando por nada em particular e sem nenhuma expectativa.

— Oh, Papai — choramingou ela, e então as lágrimas começaram a cair.

Ela deixou que os cabelos cor de fogo caíssem como macios anteparos dos dois lados

do rosto e as lágrimas caíram uma a uma no topo da mesa. Ela ouvia gente passando, mas

essas pessoas preferiam viver em seu próprio mundo e deixá-la a sós no dela. Ela tentou

chorar baixinho, o que era difícil quando as emoções queriam sair como o cascatear de uma

Este Mundo Tenebroso - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora