0.4| Laríque, part.1

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POV LARISSA

À algumas semanas eu fiz um exame de sangue que comprovou a minha gravidez. Por mais que eu estivesse levemente assustada com o fato de ter que lidar com duas crianças (Caíque e o Baby Gama) a partir de agora, eu estava feliz. Estava grávida do homem que eu amo, em um bom momento da minha vida e cercada de pessoas que estavam tão felizes quanto eu. Era perfeito, não?

Caíque chegou cheio de presentes para mim e para o Baby, mal dava para acreditar que aquilo tava acontecendo. Era uma coisa mais linda e fofa que a outra, Caíque tem um ótimo gosto. Dá para ver isso pela namorada dele, não é?
















Brincadeira.

Se você tem uma melhor amiga, ela mora com você e tem uma boca maior que o mundo, jogue ela pela janela. É o que eu faria com Bea se não estivesse grávida, mas não posso deixar meu filho viver sozinho com Caíque e eu na cadeia.

Estávamos no elevador, Caíque estava sério, com os braços cruzados. Ignorando completamente a minha presença.

- Ken. - chamei e ele continuou imóvel. - Ken! - balancei ele.

- Fala cacete. - ele revirou os olhos.

- Que cara é essa? - passei a mão por seus cabelos.

- Pergunta pro Fiu e sua família vindo pro aniversário dele. - disse ríspido.

- Argh... Nada a ver isso, meu irmão é amigo dele, nossas mães são amigas... E outra, eu não vou nessa festa. - expliquei.

- Mas não vai mesmo. Duvido que eu deixo você levar meu filho pra festa daquele palhaço. - saímos do elevador.

- Exatamente. - ri fraco e seguimos até o carro.

. . .

Durante o caminho, nós cantamos, rimos e brincamos de "Eu Vejo Com Os Meus Olhinhos". Somos infantis, eu sei. Mas isso não me importava, eu e Caíque nos conhecemos à pouco tempo, mas, quando eu olho para ele, sinto uma conexão incrível. Como se eu já o amasse em outras vidas. Apesar de tudo, já éramos uma família. Uma família amada.

- Boa tarde. - o doutor nos cumprimentou assim que entramos no consultório.

- Boa tarde. - eu e Caíque dissemos juntos e nos sentamos.

- Larissa Da Silva Barboza? - ele perguntou e eu assentei. - Quantos anos você tem, Larissa?

- Tenho vinte. - sorri fraco.

- Ótimo. Sua primeira gestação? - assentei. - Bom, vou precisar que se deite ali e levante a blusa. Vamos ver como está o seu bebezinho.

Me levantei e caminhei até a maca, Caíque estava ao meu lado. Levantei a blusa e segurei na mão de Caíque, que parecia ter tatuado o sorriso no rosto. O doutor passou o gel em minha barriga, senti um arrepio pois era gelado. Ele começou a passar o aparelho e eu e Caíque olhamos a tela. Tão pequeno, tão frágil, tão puro. Meu primeiro filho. E eu tenho certeza que teria milhões se fosse me sentir assim sempre que lembrasse que há uma vida dentro de mim.

- Ok, esse é o seu bebê. - ele anunciou apontando para a bolinha na tela, olhei para Caíque e ele continuava com o mesmo sorriso. - Trouxeram um CD virgem?

- Sim, vou pegar. - Caíque se virou, abriu minha bolsa e pegou o CD, em seguida entregou ao doutor.

O mesmo colocou na máquina.

- Vamos ouvir o coraçãozinho. - ele disse e Caíque apertou minha mão.

O doutor passou o aparelho pelo local diversas vezes, e nada. Meu coração estava começando à acelerar, talvez o meu soasse no áudio. Caíque me olhou confuso e eu engoli em seco.

- Aconteceu alguma coisa? - Caíque perguntou preocupado.

- Seis semanas? - ele perguntou a mim e eu assentei, ele suspirou e desligou a máquina. - Sinto muito.

POV CAÍQUE

Sabe quando você sente que algo se quebrou dentro de você? Então, era assim que eu me sentia. Foram seis semanas acreditando que seria pai e anisoso para o futuro. Não que eu não estivesse assustado com as possibilidades e as coisa que essa responsabilidade iria me causar. Mas, ainda assim eu queria. Queria ser pai, ser pai de um filho da mulher que eu amo. Queria poder cuidar daquela criança. Era o meu sonho, mas, eu acabei de acordar. E acho que essa realidade é ainda pior que um pesadelo.

E eu fiquei ali, observando ela enquanto ela fitava o teto branco. O doutor disse que iria nos deixar à sós e logo a enfermeira iria vir conversar conosco. Mas eu não ligava para quem iria vir, ligava para ela que não expressava nenhuma reação. Não fazia idéia do que se passava em sua cabeça, mas tinha certeza que era algo bem doloroso. Tudo o que eu consegui fazer foi entrelaçar nossos dedos e esperar que ela dissesse ou fizesse algo.

Ela soltou minha mão e se levantou, pegou um guardanapo e limpou o gel em sua barriga, ouvi um suspiro dela e a mesma passou a mão pelos cabelos, me aproximei lentamente.

- Meu amor...

- ...está tudo bem. - ela interrompeu fria.

- Não, não está. - a abracei por trás. - Sei que é triste, mas eu estou com você.

- Eu não quero falar sobre isso. - ela afastou minhas mãos que estavam em sua barriga e as colocou em seu quadril. - Pelo menos não agora.

- Respeito sua decisão. - beijei o topo de sua cabeça. - Mas quando você quiser conversar, eu vou estar aqui. Vou te ouvir e...

Ela me interrompeu com um beijo, rápido e sem emoção. Apenas me abraçou e apertou o tecido de minha camisa entre os dedos. Levei minha mão até sua cabeça afagando seus cabelos. A força dela era algo admirável, era possível notar sua tristeza apenas na forma como ela respirava. Mas, ela não chorava. Enquanto eu lutava contra as lágrimas, ela apenas repousava em meu peito.

. . .

- ...bom, depois de todos esses procedimentos, vocês precisarão de no mínimo dois meses para que o útero esteja completamente limpo e fértil novamente. - o doutor terminou de falar.

Larissa ouvia tudo em silêncio, olhando para o médico como se nada tivesse acontecido. Apenas séria, calada. Me doía ver ela daquela forma, mas eu precisava respeitar sua dor.

- Alguma dúvida? - perguntou sereno.

- Não. - eu e Lari dissemos juntos.

- Tudo bem, então terminamos por aqui. Sinto muito pelo bebê de vocês, mas ainda são jovens e terão muitos filhos. Boa sorte.

Seus Detalhes (2) CANCELADAOnde histórias criam vida. Descubra agora