No dia seguinte Maite recebeu o doutor Mills mais cedo, logo após o café-da-manhã, na qual ele informou que havia ouvido pelos corredores que ela receberia alta ainda naquele dia, o que foi suficiente para ela ficar animada de imediato.
"Se eu pudesse sair gritando e pulando por aí, acredite eu o faria" Maite disse toda alegre. Joseph riu de seu entusiasmo. "Mas se eu fizesse isso, provavelmente você diria que eu realmente estou louca e então teria viagem direto para o hospício mais perto."
"Eu não seria tão cruel"
"Não dá pra confiar, doutor"
"Ora, eu mereço mais um pouco de crédito. Vim até aqui lhe trazer uma boa notícia, não vim? Você nem deveria saber."
"Está certo. Realmente o senhor merece um pouco mais de crédito" Joseph assentiu satisfeito e ela continuou. "Isso quer dizer que nossas sessões acabam aqui?"
"Ainda nos veremos, Maite. Gostaria de continuar com as sessões. Na verdade é uma recomendação médica. É importante que nós continuemos a conversar e cuidar totalmente das repercussões que sua tentativa pode trazer a curto e longo prazo." Maite ouvia atentamente. "Mas primeiro preciso de um favor. Não, na verdade é outra recomendação médica" Ela aguardou o pedido. "Pelo amor de Deus, tire esse senhor para falar comigo, já somos conhecidos, não? Me chame de Joseph." Ela riu, assentindo.
"Me desculpe, pode deixar. Sem mais senhor, apenas você." Joseph sorriu satisfeito. "E quanto às sessões, não tenho nenhum problema com isso. Gosto das nossas conversas"
"Isso, acredite ou não, já é um grande passo. Espero te ver toda semana. A princípio duas vezes por semana, depois vamos ajustar conforme nossas agendas." Ela assentiu assimilando as informações. "Bom, já que tiramos isso do caminho, vamos começar?"
"Sim, por favor. O que vamos conversar hoje?" Perguntou animada.
"Sobre seu novo amigo, Alfonso é seu nome?" Maite sorriu quase que de imediato, sabia que seria uma boa conversa.
"Sim, esse é seu nome. O quer saber?"
"Vamos começar pelo início. Vocês se conheceram durante sua tentativa de suicídio, não foi? Me conte um pouco mais de detalhes, tudo que você lembrar é importante."
Conforme orientado, Maite contou tudo o que lembrava de seu primeiro encontro com Alfonso. Explicou como pode sobre o que sentiu e como se sentia em relação a eles dois.
"É uma bela amizade, é muito bom criar laços com alguém que possa realmente contribuir com algo em sua vida. Uma pessoa como Alfonso está sendo importante para o momento em que você se encontra. Você estava frágil, ele te resgatou, te impediu de fazer uma loucura. Agora vocês têm essa ligação, algo que só vocês entendem como é. Fico feliz que ele se importa com você também." Ela concordou.
"Ele realmente é uma pessoa muito agradável, me sinto bem ao seu lado. Não sei como agradecer a atitude dele ao se propor a me ajudar naquela madrugada." Joseph assentiu e continuou com a sessão. Assim que doutor Mills saiu, Maite recebeu uma ligação de Blair preocupada.
"Maite ele descobriu, não sei como, mas descobriu que você está no hospital" O coração de Maite batia forte.
"Como assim? Você disse algo a alguém? Como ele pode ter descoberto?"
"Não sei, não sei" Blair respondeu, agitada. Ela estava com raiva por não poder estar lá para a amiga. "Vou cancelar minha agenda e ficar aí com você, caso ele apareça eu o mato aí mesmo."
"Não, Blair!" A amiga interviu. "Estou bem, estou segura. Vou ser liberada ainda hoje, segundo doutor Mills. E eu não posso receber visitas de pessoas fora da lista, lembra? Só parentes e as pessoas da lista. Ele não está na lista. Estou segura aqui, ele não vai poder vir até mim."
"Mas e se ele entrar?"
"Então eu lidarei com ele, não se preocupe, Bee." Blair bufou do outro lado da linha.
"Como ele acha que pode te encontrar assim, como se nada tivesse acontecido? Como se ele não tivesse ferrado com a relação de vocês?"
"Também não sei como ele ainda tem a coragem de me encarar depois do que fez, mas não posso simplesmente sumir como eu queria, o que significa que eu tenho que enfrentá-lo um dia ou outro. Tínhamos uma vida juntos, Bee."
"Como que você está tão calma assim?" A amiga quis saber. "São as sessões com o médico bonitão?" Brincou. Maite riu, lembrando de uma das conversas que teve com ela sobre a beleza incomum de Joseph.
"Joseph está me ajudando bastante, se é o que quer saber" Explicou. "Imagino o que Nathaniel faria se soubesse que você anda suspirando por outros caras." Provocou ela, divertida.
"Joseph, uh? Já estamos íntimas?" Maite revirou os olhos do outro lado da linha, ignorando o comentário da amiga. "Bem, Nate sabe que estou com ele, mas não sou cega. Nem santa. Joseph é lindo sim, não vou negar. Não tem cabimento. Nate também é maravilhoso e ainda é meu noivo. Está tudo certo."
"Está bem então." Houve um breve momento de silêncio.
"Me ligue imediatamente assim que acontecer alguma coisa, okay?"Pediu a amiga.
"Daqui a pouco as enfermeiras vêm fazer a ronda, devo ligar então?" Maite perguntou, travessa.
"Se aquele desgraçado estiver na ronda, claro que pode!" Maite riu.
"Não seja ridícula. Vá trabalhar e não se preocupe comigo. Estarei bem."
"Mas me ligue."
"Eu ligo" Blair murmurou alguma coisa. "O quê?"
"Não, não foi com você, Mai. Foi aqui. Minha reunião com aquela empresa de medicamentos vai começar, te ligo assim que terminar para dizer como foi."
"Está bem. Até mais" E então desligou.
Maite não queria admitir em voz alta, mas dentro de si podia entender a confusão que se formara desde que Blair informou que Robert sabia de seu paradeiro. Ficou curiosa para saber como ele havia descoberto, mas também sentia raiva, medo, e até ansiedade. Não tinha vontade de vê-lo nunca mais, mas um lado seu gostaria de saber a justificativa para o injustificável.
Uma traição para ela sempre foi algo muito delicado. Seu pai havia traído sua mãe durante anos e sabia os efeitos daquela atitude havia causado na mãe. Ouviu sua mãe chorar noites seguidas, sem acreditar que o amor que julgava ser verdadeiro mentir descaradamente dias após dia. Seu pai era seu modelo de homem, sempre dando o exemplo como cidadão, como pai, como marido. Quando recebeu a notícia que seus pais estavam se divorciando queria saber o motivo, mas sua mãe sempre lhe poupou, até que ouviu uma conversa de seus avós maternos e tudo mudou.
A traição não havia sido só com a mãe, mas com ela, com seus sentimentos como filha. Como poderia confiar em alguém que havia machucado tanto a pessoa que mais amava?
Sua mãe se recuperou eventualmente, mas foi dolorido e demorado. Hoje ela havia encontrado alguém, estava bem ao lado de seu companheiro, mas sabia que nunca mais foi a mesma.
Algo que sempre quis saber, mas nunca obteve a resposta era o porquê. Seu pai nunca soube explicar como pôde causar tanta dor, não havia motivo. Com Robert ela queria saber o porquê, ela não poderia ficar sem mais essa resposta.
Ainda mergulhada em suas lembranças, Maite apanhou o celular e discou o número que tão bem conhecia. Após o segundo toque pensou em desligar, mas voltou atrás na decisão. Ela aguardou mais um instante até que a voz grave soou do outro lado.
"Robert." Ele atendeu cordial, como sempre.
"Sou eu" Ela ouviu um arfar de surpresa. "Por quê?"
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Mais Que Palavras
FanfictionUm momento pode mudar sua vida para sempre. E Maite sentiu na pele o que é estar prestes a cometer a maior loucura e ser resgatada por um estranho que mudará sua vida para sempre.