quanto tempo até chamar de amor?

104 10 5
                                    

"Alfonso era terrível. Sempre fazia algo para me assustar, pior irmão mais velho." Serena acusou, levando a taça aos lábios. Andrew e Rosa reviravam os olhos, claramente acostumados com a provocação da caçula. "Uma vez ele me trouxe uma lagartixa e colocou na minha cama! Ele sabia o quanto eu tinha medo, mas o fez mesmo assim." As gêmeas riram, se divertindo com a anedota que a mãe contava. 


Logo após a ceia, a família veio para perto da lareira, sentando como podiam, espalhados pelo espaço aconchegante. Serena no colo do marido na grande poltrona. As crianças no chão, os pais de Alfonso no sofá e logo ao canto, perto das crianças, também no chão, Maite descansava entre as pernas de Alfonso, sentindo as carícias em seu braço. 


"O tio colocou lagartixa na cama da mamãe!" Repetiu Julie, risonha. A irmã acompanhou o riso e olhava travessa para o tio que fazia caretas para as pequenas. 

"E ela gritava assim: 'ahhh ahhhh'" Alfonso afinou a voz e gesticulava histérico, imitando como podia sua irmã, com dez anos na época. As gêmeas foram à loucura.

"Você é um cretino" Ralhou a irmã, tacando um pedaço de pão em direção ao irmão. "Meninas, não deem crédito para o bobão do seu tio, ele me fazia chorar" 

"Ah mas isso ele fazia mesmo, e quem tinha que acalmar a coitada era seu pai, no meio da madrugada" Rosa contou, encarando o filho. 

"O que eu podia fazer, mamãe? Serena se impressiona fácil." Maite, que ouvia a historia de como Alfonso era quando criança atenta e ria de como ele assumia autoria pelo o que fazia com orgulho. 


Maite sabia bem como era ter um irmão mais velho, o seu não aprontava tanto, eles tinham uma relação um pouco diferente pois tinham uma diferença de idade maior. Quando ela nasceu, Charles tinha dez anos e quase não tinha como infernizar sua vida como Alfonso fazia com a irmã. Ele sempre foi uma espécie de protetor, era muito carinhoso e sempre a chamava de bonequinha quando estavam sozinhos. Ela gostava. Agora ele tinha uma vida em outro país que ela se esforçava para saber, mas a distancia às vezes tornava-se um obstáculo. 


"E você, Maite? Tem irmãos?" Andrew perguntou, interessado. 

"Tenho sim. Um mais velho, Charles. Ele mora na Austrália e é biólogo marinho. Nunca foi tão terrível como Alfonso, pelo contrário, sempre cuidou muito bem de mim" Contou, ela, lembrando com carinho dos momentos da infância em que Charles a protegia para que nada lhe acontecesse. 

"Talvez seu irmão possa dar uns conselhos para o meu para ver se vira gente" Serena alfinetou, fazendo uma careta para o irmão. 

"É tio, vira gente!" Repetiu Melissa, com a cara travessa. 

"Vira gente? Eu não sou gente, eu sou um monstro que pega criancinhas e abre a barriga delas assim ó" Alfonso afastou Maite para poder chegar até a pequena e fazer cócegas. Logo a irmã, Julie, veio ao socorro e acabou presa também e o ambiente se encheu pelo som das gargalhadas das pequenas. Maite acabou aproveitando o momento para levar a taça para a cozinha. Não notou que tinha companhia até que Andrew surgiu ao seu lado. 

"Quer torta, Maite?" Perguntou, tirando o doce da geladeira. Era uma torta holandesa e parecia estar muito boa.

"Oh, não estou tão cheia! Acho que nem vou conseguir dormir direito" Respondeu ela, com um sorriso. "Mas não me arrependo, porque estava tudo uma delícia"

"Mas dizem que o lugar do doce sempre fica em um compartimento à parte." Ele rebateu e ela concordou. Ela observou ele servir duas porções, uma para ele, uma para ela. Logo depois ele foi até o forno e tirou de lá uma cobertura e a esquentou rapidamente, jogando por cima das fatias já cortadas. "...e voilà" Ele estendeu uma das taças para ela. "Agora não tem como recusar não é?" Maite abriu um sorriso, já pegando o seu. 

"Não quando é feito com tanto capricho." Ela levou uma colherada à boca e teve certeza que nunca provou algo tão delicioso antes. Até deixou escapar um gemido de satisfação. "Está maravilhoso, Sr. Strauss"

"Por favor, me chame de Andrew." Ela assentiu. "Alfonso parece tão à vontade com você, não achei que ele fosse ficar assim em tão pouco tempo." Maite encarou Andrew com a expressão um pouco preocupada. "Isso é bom, fazia tempo que não o via tão feliz." Ele levou o doce à boca e também deixou escapar um gemido de satisfação. "Oh isso está muito bom." Ambos riram, cúmplices. Alfonso pode ouvir da sala. 

"Alfonso me faz muito mais feliz, eu só tento retribuir um pouco do quanto ele me faz." Maite respondeu, tentando parecer casual, antes de colocar outro pedaço da torta na boca. "Oh isso realmente está maravilhoso, Sr. Str..." Ela recebeu um olhar de reprovação e logo se corrigiu. "Andrew."

"Se quiser, posso te passar a receita, não garanto que vai ficar igual, pois essa eu deixei nas mãos de Alfonso."

"Espera, Alfonso fez essa torta? Como eu não sabia que ele cozinhava tão bem?"

"Provavelmente não tem me stalkeado o suficiente" Ouviu o namorado dizer, ao entrar na cozinha. O cabelo estava todo bagunçado, resultado da farra com as gêmeas instantes atrás. Ele pegou uma vasilha para se servir enquanto Andrew se retirava silenciosamente, deixando-os à sós. 

"Por que nunca me fez uma torta como essa?" Perguntou, fazendo charme. 

"Teria ajudado a te conquistar mais rápido?"

"Mas é claro!" Maite respondeu de súbito, causando um riso em Alfonso. "Meu amor, você tem um dom" 

"Amor é?" Alfonso repetiu, era a primeira vez que ela o chamava assim. Maite mordeu o lábio inferior, sinal de que estava nervosa, notou ele. Em seguida balançou os ombros, decidida a não conter mais a palavra dentro de si. 

"Amor" Repetiu, com um sorriso ao final. Alfonso a imitou, a tomando nos braços e selando seus lábios nos dela, transformando em um beijo apaixonado. Ambos sabiam o que sentiam, mas nenhum dos dois tinha coragem de admitir em voz alta. Uma bobagem era o que pensavam agora, o sentimento era real e estava presente, então por que negar?

Mais Que PalavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora