saí e olhei para cima, olhei para os seus olhos

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"Espera, você disse que beijou Alfonso?" Blair perguntou outra vez, sem ter certeza de ter ouvido da primeira vez. Ela estava a ponto de tirar uma segunda mordida da pizza ainda fria da noite anterior quando a amiga fez a revelação bombástica. Maite havia deixado para contar naquela hora, antes de irem para o trabalho, pois sabia que a amiga iria querer saber de todos os detalhes.

"Sim, eu beijei." Maite repetiu. "Ele estava tão perto, tão lindo que não consegui me segurar, quando vi já estava agarrada a ele." Blair deu um sorrisinho. 

"E então? O que houve depois?" Ela quis saber.

"Ele me disse que eu estava indo rápido demais." Blair aguardou. "Que talvez esse lance com Robert ainda esteja muito recente para começarmos algo e que talvez eu estivesse confundindo os sentimentos"

"Bem, ele não está totalmente errado, Mai. Você acabou de conhecê-lo e acabou de passar por um momento muito difícil." Ponderou a amiga.

"Eu sei, por isso não estou chateada com ele. Eu sinto que meus sentimentos por ele ainda estão borrados, mas sei que sinto algo, entende? Por isso entendi seus motivos e vou respeitá-los." Explicou.

"Olha você toda adulta, que orgulho"

"Você é ridícula" Maite ralhou, revirando os olhos. "Vamos? Não quero que pensem que só porque estou morando com a chefe não devo chegar no horário." Blair levantou da bancada onde estavam tomando café-da-manhã e jogou a caixa de pizza que haviam terminado de comer. 

"Quem está sendo ridícula agora?" Blair rebateu, com um olhar cínico.

Quando chegaram à agência de publicidade em que trabalhavam, Maite foi direto à sua sala e se deparou com diversos mimos. Haviam muitas flores, balões e alguns cartões de melhoras. Ela ficou feliz em perceber o quanto era querida entre os colegas de trabalho e fez questão de ir em cada mesa agradecer pelo carinho. Ao final, ela retornou para sua mesa de trabalho e começou a abrir espaço para poder recomeçar sua rotina e então um buquê de flores lhe chamou atenção. Um pequeno ramalhete de tulipas amarelas amarradas com um laço lhe fez recordar um velho hábito de seu passado. 

Seu coração começou a bater mais rápido pela ansiedade. Rapidamente ela procurou por um cartão e o encontrou entranhado no meio do arranjo. As palavras desenhadas pela caligrafia que tão bem conhecia soavam vazias, a assinatura não veio, mas Maite também não esperava por ela. Apenas as iniciais eram suficientes para identificar o remetente. Robert dizia que estava feliz por ter voltado ao trabalho e que esperava que pudessem se reencontrar em breve e resolver suas diferenças. Dizia que sentia saudades e pediu para que aguardasse um contato em breve, com amor, RP.

As flores eram um símbolo do amor deles. Foi o primeiro presente que ele lhe deu quando se conheceram e se tornou um hábito comemorar quaisquer datas com pelo menos uma tulipa com um laço vermelho em seu caule. Com elas, Robert sempre dizia que o amarelo representava a luz, cor e vida que ela havia trazido para sua vida. 'Retribuir um pouco da cor que você deixou em mim' era o que ele dizia. Era como Robert dizia que a amava.

Ela não acreditava que ele realmente sentisse tudo o que escreveu no papel, apenas sabia que deveria por um fim em tudo de uma vez. Ele já havia causado danos demais para poder continuar fazendo o que lhe dava na telha e isso a irritada profundamente. Ela não o queria mais em sua vida. Não depois de tudo o que ele havia feito. 

Maite jogou o lindo arranjo no lixo e tentou se concentrar nas tarefas do dia. Na agenda haviam diversas reuniões e briefing de algumas campanhas novas. Foi isso que fez, focou sua atenção no trabalho e não se permitiu pensar no mundo lá fora, pelo menos por um tempo. Seu lugar de trabalho era seu porto seguro agora. Ela estava a salvo de seus pensamentos e sentimentos. 

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