meu coração era de vidro e você derrubou

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"Ninguém quer ser aquele que vive para sempre

E ninguém quer ser o único que sente a dor

E agora eu vejo o jeito que você está indo embora

Sem mim

Agora cresça e se afaste

Nenhum brinquedo pode mantê-lo fora

Vá chamá-lo. O som vai

Mãos abertas são difíceis de segurar em qualquer lugar, de qualquer forma 

As mãos abertas são difíceis de segurar de qualquer maneira

De qualquer maneira..." - Open Hands - Ingrid Michaelson



"Ei, moça! Não faça isso pelo amor do que há de mais sagrado, não faça isso!" Ouviu alguém gritar ao longe.

Maite estava na ponte prestes a pular. Ela não viu bem quando ele chegou, ainda estava vestida de camisola e se amparava na grade gélida de ferro enquanto observava o rio selvagem abaixo de si. Seus dedos estavam duros, isso ela sabia, mas não se importava. Maite não sentia frio, na verdade não queria sentir o frio. Percebeu que não estava sozinha quando o estranho se aproximou mais, ela fez menção de se jogar e o fez recuar.

"Por que faz isso?" Ele perguntou preocupado. "Olha, ninguém quer que morra, tenho certeza! Por favor, deixe-me te ajudar!" O estranho ofereceu. "Está mais de dois graus negativos, você vai ter uma hipotermia se continuar assim." Orientou.

"Não quero ser ajudada, não entende cara?" Maite gritou de volta, com os olhos fixos nas águas agitadas abaixo dela.

"Por favor!" Insistiu, dando um passo lento em sua direção. Dessa vez ele notou que a estranha deixou que se aproximasse. Maite olhou rapidamente e notou que o estranho trajava um grande casaco escuro, acompanhado de um cachecol envolta do pescoço. Ele agitava as mãos cobertas por luvas de couro no ar, gesticulando nervoso pela situação.

"Me diga" Ele falou devagar, mas ainda alto, para que ela escutasse com nitidez. "Qual seu nome moça?" Maite hesitou um instante, mas depois se segurou mais firme na grade da ponte e se virou para ele.

"Maite. E o seu?" Devolveu, ainda sem desviar o olhar.

"Alfonso" Ele estendeu sua mão. "Venha, me deixa te ajudar a descer daí. Maite sentiu o corpo se enrijecer com aquela proposta, não demorou para fechar a cara e voltou a encarar o rio novamente. "Não, espera! Não faça isso moça, digo, Ma..Maite, certo?" Ele disse apavorado. "Olha, está muito frio hoje e você está..." Maite não se virou para vê-lo durante a pausa, mas poderia jurar que ele a olhava. Deveria estar rindo da idiota de camisola na beira da ponte. "...Exposta. Tenho certeza que assim como eu não quero que pule, seu namorado, marido ou..."

"Não diga essa droga de palavra!" Interrompeu furiosa. "É ele o culpado! A culpa é toda dele."

As lágrimas no rosto de Maite se aumentaram, pesadas e cheias de dor. Era ele o culpado. Robert Buchmann. Ele não deveria te-la traído e sumido daquele jeito, deixando apenas um bilhete de desculpas. Ela o amava com todas forças de seu corpo e alma, ele era o seu ar, o motivo de sua existência, mas sem ele agora nada teria razão de ser.

"Ele não podia ter feito isso comigo! NÃO PODIA!" O grito foi tão alto que sentiu a garganta doer e a voz falhar na última palavra.

Quando menos esperou, sentiu que os braços fortes de Alfonso envolviam sua cintura, a trazendo para o outro lado da ponte. Ela se debatia contra o corpo que a segurava firmemente e chorava desesperadamente. Maite estava tremendo de frio, mas também estava com calor, um calor que vinha de dentro de si. Seu corpo ficou cada vez mais pesado e então parou de resistir, abraçando o estranho logo em seguida.

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