Capítulo 15

296 21 2
                                    

Senti o gosto de ferrugem invadir a minha boca, minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento devido as vozes que invadia minha mente cada vez mais alto, e minha garganta ardia tanto que parecia que eu havia gritado por horas.

Abri meus olhos lentamente tentando afastar a forte luz que vinha acima da minha cabeça e então pude ver o Dr.Valack ao meu lado segurando um algodão cheio de sangue.

Olhei em volta tentando me orientar melhor e pude perceber que não estava na minha costumeira cela. Era basicamente um tipo de sala de cirurgia abandonada, com alguns aparelhos que pareciam precários e um toca fitas enorme... E eu desconfiava que esse toca fitas era especialmente pra mim.

Tentei me mover, mas nada aconteceu. Eu estava sentada e com os braços e pernas amarrados ao lado do corpo, mas eu tinha a impressão que mesmo que se não estivesse amarrada, eu não conseguiria fugir. Meu corpo estava totalmente mole e sem vida, essa era verdade.

-Lydia... - Dr.Valack disse se virando na minha direção - Finalmente acordou, essa parte não funcionaria se você não estivesse acordada.

Franzi o cenho confusa, eu não conseguia filtrar absolutamente nada. Sabia que ele conversava comigo, sabia que os gritos na minha cabeça queriam me dizer alguma coisa... Mas eu simplesmente não conseguia entender nada.

-Desde que abri a sua cabeça você começou a gritar, mesmo inconsciente. - ele disse calmamente - Acho que você já deve ter percebido que não vai sobreviver não é?

Encarei-o com dificuldade tentando digerir desesperadamente o que ele dizia, mas nada aconteceu, de novo.

-Preciso arrancar de você tudo o que eu preciso, antes que o seus gritos fiquem tão alto ao ponto de matar uma pessoa.

Matar? Isso era possível? De alguma forma, isso eu tinha conseguido entender... Talvez seja porque o gritos na minha mente tenha parado por algum instante, mas não durou muito.

Trinquei os dentes com força sentindo um forte impulso subir pela minha garganta e as vozes aumentaram de uma só vez. Respirei fundo e abri a boca, soltando um grito ensurdecedor.

Quando finalmente parei, olhei incrédula o Dr.Valack pegar um algodão limpo e passar na lateral da minha cabeça, para logo depois retira-lo encharcado de sangue.

-Minha cabeça... - comecei a dizer, mas parei ao ouvir a minha voz rouca.

-Não se preocupe querida, foi só um pequeno buraco. Mas como você não é humana e ainda por cima uma Banshee... Digamos que graças esses fatores, você não morre imediatamente.

Encarei o canto suja e rachada, dando graças a deus pela altura das vozes terem diminuído.

Ouvi passos pela sala e logo depois o toca fitas foi ligando, um som ambiente tomou conta do lugar. Fazendo minha cabeça começar a doer novamente.

-Preciso que escute isso atentamente, Lydia. - Dr.Valack disse calmamente - Essa é a gravação do massacre que teve em no Kansas à dez anos.

Tudo que uma pessoa normal conseguiria ouvir seria ruídos, o barulho do vento, das árvores e vez ou outra relâmpagos. Mas por baixo de tudo isso, a Banshee conseguiria ouvir os choros dos mortos, o medo, a escuridão, a sensação do sufoco que aquele vento tinha.

O medo corria os meus ossos e se eu fechasse os olhos, poderia jurar que minha mente era transportada pra aquela noite.

-Me diga o que vê, Lydia.

Com os olhos fechados, as vozes tomaram conta da minha mente, me forçando a ver aquele horror.
-A cidade foi totalmente destruída... Tem corpos espalhados por toda parte, crianças, velhos...

A Banshee e o HumanoOnde histórias criam vida. Descubra agora