MURILO

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Um sonhador é aquele que só consegue encontrar seu caminho à luz do luar, e a sua punição é ver o amanhecer antes do resto do mundo.

— OSCAR WILD 



"Sou o tipo de garoto que não diz uma palavra, que se senta no meio-fio e espera pelo mundo, mas estou prestes a fugir. Estou como um criminoso esta noite".

Murilo já havia se esquecido de quantas vezes lhe disseram que ele iria sofrer a maior decepção da sua vida ainda na adolescência, mas que isso no fim lhe renderia coisas boas e inimagináveis. Ele cresceu em uma família onde a venda de previsões era constante. A avó, a madrasta e até mesmo sua irmã pequena dizia ver o futuro ou conseguir conversar com os mortos. Ele mesmo nunca acreditou em nada disso. Era apenas uma profissão. Ele nunca achou que alguém fosse realmente capaz de acertar sobre o futuro de outro, sem ao menos conhecê-lo profundamente, ou um pouquinho que fosse.

Porém as outras pessoas acreditavam e sempre iam à pequena casa laranja na Rua Cenoura, 492, elas nunca se importavam com a natureza imprecisa das leituras de mão de sua doce avó. Na verdade achavam divertido entrar no jogo para descobrir o momento exato que as previsões iriam acontecer. Até mesmo Murilo, que era incrédulo e totalmente cético, entrava no jogo de esperar se avó acertaria dessa vez.

A família de bruxas que Murilo conhecia sempre foi muito unida. Ele sempre pode contar com eles para tudo, mas isso está determinado a mudar, assim como sua avó já tinha lhe dito.

Aquela sexta feira poderia ser uma sexta feira qualquer, como qualquer outra, mas no café da manhã Murilo estava totalmente diferente dos dias habituais. O sorriso estava estampado em seu rosto desde que tinha sentado junto aos familiares à mesa. Ele passou a manteiga no pão quentinho, nem prestando atenção no que fazia, estava sorrindo, tomou um gole do café puro como gostava, se sentindo nas nuvens, o garoto até suspirou.

Eita, eu posso saber qual o motivo dessa alegria toda? — Perguntou o pai do garotando colocando seu próprio sorriso no rosto.

Seu Roberto era um homem simpático, muito bonito e jovem para os seus cinquenta anos. Os cabelos começando a ficar brancos dava um ar sensual para o homem. Pelo menos era o que todos diziam.

— E então? — Seu Roberto perguntou encarando o filho. Coçou a barba e levou mais um pedaço de pão a boca.

— Mas é claro! Hoje eu entro de férias, e ano que vem não preciso voltar para aquele inferno chamado ensino médio, isso é motivo suficiente para eu soltar fogos, além de que em três dias estarei viajando pra São Paulo. Nada pode me deixar mais feliz que isso. — Murilo disse sorrindo e enfiou o pão enrolado dentro do copo de café molhando o pão no líquido escuro.

— Isso é tão nojento sabia? — Falou Luana, a irmã mais nova. A garota tinha os cabelos loiros e lisos amarrado em duas Marias Chiquinha, as sardas no rosto eram evidentes. Olhando para ela e depois para Murilo seria impossível dizer que os dois são irmãos. — Será que você vai fazer isso quando estiver na casa do seu "amigo"? — Ela deu uma ênfase exagerado na palavra amigo.

Murilo respirou fundo e mordeu o pão que estava escorrendo café. Não era necessário fazer aquilo. Ele pensou. Até porque todos os moradores daquela casa sabiam desde sempre que Murilo estava indo conhecer seu namorado, que ele namorava a tempos pela internet, mas ninguém costumava usar a palavra namorado, preferiam usar amigo ou companheiro, era menos constrangedor talvez. Não para Murilo, é claro.

MURILO BEIJA GAROTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora