"Eu te vi hoje, depois de tanto tempo, me senti como antes, falamos por horas sobre uma vida diferente. Nos cercamos de memórias, nós estávamos perto, nunca perto o suficiente. Onde estamos agora? Com este papo de que podemos reatar não exclui a hipótese"
Murilo se jogou na antiga poltrona na varanda nos fundos da casa. Os outros ainda estavam almoçando, todos sentados à mesa. Os pensamentos estavam no mesmo lugar. Ele só queria esquecer, mas tudo o fazia lembrar. Ouviu palmas na frente da casa. E se levantou.
— Não meu amor, pode deixar que eu vá. — A vó disse e levantou-se também. — Deve ser pra mim, algum cliente que acredita que vou trabalhar hoje para lhes informar como será o novo ano, não perca seu tempo com isso.
Ele riu e sentou-se de novo, assistiu à vozinha caminhar com certa dificuldade e pensou no quanto ela estava velhinha. Ficou sentado assistindo sua irmã lhe fazer caretas enquanto comia. Ele balançou a cabeça em negativa e mostrou a língua para a garota.
Viu a vó voltar sorrindo.
— É pra você! — Ela disse baixinho e então voltou para a mesa. Sentou-se e começou a cochichar baixinho com os outros familiares. Eles olharam todos para ele.
Murilo levantou-se e começou a caminhar com pressa para frente da casa. Não fazia ideia de quem pudesse ser. Não tinha amigos, e achou impossível que Samuel deixasse o conforto de sua casa para ir até ali aquele horário. Abriu a porta da sala e desceu os degraus. Avistou-o.
Estava lindo.
Ele sentiu o estômago dançar com força.
Respirou fundo.
Ficou olhando para Tomaz. O garoto estava mesmo ali em sua frente.
Bonito como sempre. Usando branco, os cabelos bagunçados e uma cara de cansaço. Ele se perguntou se o garoto tinha passado por um furacão antes de chegar ali. Sentiu vontade de rir, mas invés disso mordeu o lábio antes de falar.
— Tomaz? — Ele falou testando a palavra em sua boca. Era estranho dize-la depois desses dias. Dizer o nome de quem ele tinha jurado esquecer.
Então ele viu o outro levantar a cabeça, os olhos já tão conhecidos. A mesma chama ali. O mesmo olhar que ele estava sentindo falta, então engoliu em seco e respirou fundo. O outro segurou em seu portão como se quisesse arranca-lo com a força do corpo. Ele assistiu.
— Eu! E eu vim até aqui por que... Murilo, só diga que me ama, apenas por hoje, mesmo que seja só por hoje. Eu quero sentir as chamas queimando quando diz meu nome, quero sentir a paixão percorrendo meus ossos como o sangue em minhas veias. Eu preciso de você. Eu quero você, não consigo viver longe de você. — Escutou o outro dizer e mordeu os lábios. Ele não podia estar ali agora. Não quando ele tinha decidido o esquecer.
— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou olhando pra trás para ver se algum dos seus parentes tinha visto assistir a cena.
— Eu estou aqui por você. Eu simplesmente não posso ficar longe de você. Não mais. Essa semana foi um inferno pra mim. Eu não morri, mas fiquei ferido sentindo a agonia de não ter você comigo. E eu estou aqui agora. — O garoto pausou. — Você pediu para eu dizer que te amo. E eu travei, estava em choque. Ver você partindo, saber que o Rafael estava sentado no meu sofá, tudo aquilo me deixou querendo sumir. E então eu não disse e cometi o maior erro da minha vida. E eu te amo, eu o amo com todas as forças que eu tenho. E eu não ligo se você não me amar de volta porque eu não vou desistir de você se você não me mandar fazer isso, e eu fico assustado com a possibilidade de você querer isso.
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MURILO BEIJA GAROTOS
RomanceUm deles é tímido, do interior e nunca levou uma vida normal, não bastasse ser alvo de piadas constante na escola, ele ainda tinha que lidar com a mediunidade de sua família, lhe dizendo sempre que ele sofreria uma grande desilusão ainda na adolescê...