TOMAZ

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"Essa conversa de que só damos o devido valor quando perdermos não é uma conversa totalmente verdadeira. Pois cada um sabe exatamente o que tem consigo. O problema é que ninguém acredita que um dia vai perder."


Ele olha para o menino que acabou de beijar e sorri. Mas Murilo retribui o sorriso de uma forma murcha. Foi o que ele disse. Ele tem certeza disso. Então apenas desvia o olhar e continua ouvindo os outros gritarem coisas sem sentido. Fica em silêncio por muito tempo, talvez minutos e vê que a gritaria sessou. Estão todos quietos olhando o céu. Já passa das quatro horas da manhã quando o garoto olha o celular. Ele boceja e vê que Murilo estremece. A temperatura caiu um pouco para uma madrugada do verão, então levanta a pega o casaco do terno que o outro deixou no banco e olha para o chão.

— Ei, vamos dar uma volta! — Ele diz baixinho olhando nos olhos de Murilo.

— Eita, será que vai ter sexo na moita? — Pergunta a Joana que agora voltou a beber. Tomaz olha a amiga e vê que ela deveria já ter parado com a bebedeira faz um tempo. — É uma pena que a gente não possa ver.

— Eu não quero mesmo, deve ser bem estranho ver nosso amigo trepando e urrando de prazer. — Fala Caco que guardou o violão e está do lado da Batata implicando com ela.

Tomaz olha para o outro amigo. Ogrão está quieto demais porque já caiu no sono e dorme deitado no chão mesmo.

— Cala a boca você dois, vem meu amor! — Ele diz mais uma vez encarando Murilo. Percebe que o outro está relutante em levantar e o acompanhar. Caminha pra frente e espera Murilo.

Percebe quando Murilo chega ao seu lado. Estava cambaleando quando caminha. Ele resolve então segurar o outro pela cintura e prende seus dedos com pouca força. Finge que não notou que o outro estremeceu e parece não querer o seu toque. Respira fundo e começa a caminhar devagar em direção as trilhas e distante dos outros.

— Para onde está me levando? — Murilo pergunta com a voz embargada por causa da bebida.

— Para dar uma volta, ficar um tempo só eu e você. — Ele diz baixo.

— Pra que? Eu só quero que essa noite termine. Eu quero ir pra sua casa, entrar no seu quarto e parar de fingir por pelo menos oito horas enquanto durmo. Eu acho que vou vomitar. — Murilo diz tentando se soltar.

Tomaz segura o outro com mais força.

— Você não deveria ter bebido tanto. É a sua primeira vez, deveria ter pegado mais leve. — Ele diz.

— Foda-se. Eu me diverti bebendo. E gostei dos seus amigos. Acho que me daria bem com eles se tivesse mais tempo para conhecê-los. — Diz Murilo com um pesar na voz que Tomaz logo entende.

Tomaz olha para as árvores ao seu lado. Esta tudo escuro, apesar da luz da lua cheia. Ele morde a língua tentando as palavras, porém elas saem assim mesmo.

— Eu não quis dizer aquilo. Mas eu precisei. Nós estamos fingindo lembra? — Ele diz irritado.

Tomaz sente um solavanco em seu corpo e sente Murilo se afastar. Ele fica sem entender e olha para trás. Os amigos não estão vendo isso.

— O que você queria que eu dissesse? Que eu dissesse: eu te amo, Murilo? — Ele fala baixo e olha os próprios pés. A respiração instável. Odeia beber, fica mais difícil controlar sua raiva ao efeito do álcool.

MURILO BEIJA GAROTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora