MURILO BEIJA GAROTOS

TOMAZ

"Vai dar certo. Eu sei que tudo isso vai dar certo, nós só precisamos nos empenhar."

É nisso que Tomaz está pensando enquanto desce as escadas e encontra sua família esparramada pelos sofás da sala de estar, é um momento realmente histórico. Ele nunca viu a família reunida naquela sala assistindo a comédias românticas. Ele ri e caminhava até um lugar vago do sofá entre sua irmã e uma de suas sobrinhas.

— Ué, mas cadê o Rafael? — Pergunta sua irmã Joyce que levava uma das mãos até o braço do irmão e acaricia de leve.

Ela vivia fazendo aquilo, acariciando o irmão quando achava que algo não estava certo com ele. Ela o conhecia melhor que qualquer pessoa, talvez até mais que ele mesmo.

— Ele resolveu tomar um banho. Está cansado da viagem! Não dormiu bem a última noite, assim como eu. — Tomaz diz baixo para não atrapalhar o filme que os outros estão vendo. Não é uma mentira, mas não é uma verdade, ele torce para que a irmã não perceba.

— Ele é meio esquisitão, não é? — A irmã mais velha diz rindo. Ela tem a risada mais bonita que ele já ouviu na vida. — Sem ofensas é claro. Mas o garoto é meio disperso, parece estar no mundo da lua. Aquela hora que a mãe ficou chamando ele, e tipo ele não respondia nada, eu senti vontade de rir, foi hilário. Eu achei que a mãe ia jogar um dos pratos nele.

Tomaz faz uma carranca e se sente incomodado com o comentário da irmã. Ele sabia que sua mãe estava ficando vermelha e realmente puta. Era sempre assim com ela, as coisas tinham que ser do jeito certo, ou então não prestavam, mas ele não gostou do jeito que sua irmã estava rindo de Murilo. Mas por quê? Eu nem o conheço. Ele pensa e balança a cabeça em negativa.

— Ele apenas está tímido. Ele não se adaptou a toda essa nossa vida. Lá no Rio é somente ele e a mãe. Não deve estar habituado a ter uma família inteira reunida à mesa para um almoço e se sentiu deslocado, dá um desconto pra o cara, o Muri... Rafael é super gente fina. Você vai gostar dele se deixar ele te conhecer. — Ele argumenta enquanto olha para a irmã de cara feia. Não tinha ideia do porque estava falando tudo aquilo

Joyce sente-se confusa e apenas sorri. Ela sabia que tinha algo errado, mas Tomaz percebeu que a irmão não perguntaria nada, iria esperar ele dizer, mas dessa vez, ele não iria.

— Cadê o menino? Você o largou sozinho no quarto? Que coisa mais feia, pudim. Você deveria estar com ele agora mesmo. É a primeira vez que vocês se veem o que foi? Não gostou tanto dele por fora das telas da internet? — Pergunta o pai meio sério e tirando os olhos do filme.

Telas da internet? Oh sim, como o senhor está integrado ao mundo virtual paizinho. Pensa Tomaz e faz uma cara de desgosto. Ele encara o pai e está preparando seu discurso quando a fala de sua mãe o assusta. Ela parecia estar dormindo aninhada nos braços do marido.

— Pois eu acho ótimo, pra ser sincera meu filho, eu não gostei muito dele não. É um garoto estranho e mal educado, que coisa horrível me deixar falando sozinha. Eu nunca faria isso e sei que nenhum de vocês, os criei muito bem. — Marta fala e franze a testa indicando seu total desgosto. — Eu achei muito deselegante. E que história é essa dele ter acabado o fundamental agora? É repetente? Você não disse que ele era mais velho que você?

Porra. Estou fodido.

Ele sorri sem graça e encara a mãe enquanto pensa no que dizer, precisa pensar rápido e não deixar a mulher perceber que tem algo errado.

— Eu apenas me enganei, mãe. Ele queria parecer mais interessante e inventou essa pequena mentirinha, nada demais. É algo totalmente normal na internet, às pessoas estão sempre inventando algumas mentiras, até mesmo eu fiz isso. — Ele comete seu maior erro.

— Pela deusa, meu filho! Eu garoto que um relacionamento que começa com mentiras não vai dar certo mesmo. Se ele começou mentindo para você, imagina o que ele não faz as escondidas lá no estado dele. — A mulher fala séria.

Tomaz sente um soco no estômago.

Apesar de a situação ser totalmente diferente, ele sente o peso das palavras da mãe. Rafael nem apareceu. Será que estava bêbado depois de uma noitada? Será que estava com outro? Era impossível saber. Ele reprime a raiva e tentaficar calmo.

— Não liga pra isso, a mamãe só é implicante mesmo. — Fala Joyce encarando o irmão, ela sabia que ele estava a ponto de explodir, abre seu melhor sorriso acolhedor.

Mas nem isso resolve.

— Você gostou mesmo desse menino? Porque se não tiver gostado seria uma ótima ideia você manda-lo embora. — A mulher diz fazendo uma cara de nojo e então vira a cabeça para a televisão novamente. — Pense nisso, nunca é tarde para terminar um relacionamento.

— Eu vou pensar, se me deram licença eu vou voltar pro quarto, o clima aqui tá bem diferente de horas antes naquele almoço. — Tomaz fala triste e levanta do sofá.

— Eu não quis ser chata, meu filho. O garoto é legal. É realmente legal. E se você gosta dele eu apoio totalmente. Eu sempre te apoio em tudo, você sabe disso. — A mulher diz tentando consertar seu erro, mas Tomaz sabe que é mais uma das mentiras dela. Ela só mente.

— É mãe, apoia sim!

Tomaz sai da sala e resolve ir lá fora fumar. Precisa pensar no que está fazendo, será que o Murilo tinha razão? Esse foi mesmo o meu maior erro? Ele indaga enquanto caminha em direção o jardim da casa. Não, não foi. Estou certo do que fiz. Minha mãe provavelmente diria coisas piores se soubesse que fui chutado por um cara que conheci na internet. Eu só preciso fazer com que ela goste do Murilo. Não do Murilo. Ela tem que gostar do Rafael. Porra, que caralho eu estou fazendo?