MURILO

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Afinal, se coisas boas se vão é para que coisas melhores possam vir. Esqueça o passado, desapego é o segredo! Fernando Pessoa



— Como assim? — Perguntou Murilo com os olhos saltando e encarando o garoto em sua frente. Ele só pode estar maluco. Não é possível. Pensou o garoto. Ele mordeu o canudo da sua bebida enquanto pensava. Sentiu vontade de rir e agradeceu por estar com a boca ocupada. — É sério isso, como assim? — Murilo completou arrancando a boca do canudo.

Tomaz sorriu sacana e não demorou a falar. O jovem parecia animado, esperançoso e tinha um olhar de quem estava pronto para aprontar a maior aventura de sua vida.

— É uma ótima ideia, você não vê? Você vai lá pra casa mesmo, e assim nós dois iremos poupar constrangimentos. Eu apenas apresentarei você como sendo o meu namorado Rafael, e daqui a um mês quando você chegar a sua casa, você irá dizer que foram as férias da sua vida com esse cara que você namorava, e então depois de um tempo nós contamos para nossas famílias que não deu certo e que nossos relacionamentos acabaram. — Ele deu uma pausa como se estivesse cansado. — E então nós dois não iremos nem precisar nos ver mais se você assim quiser. Mas nossos problemas terão sido revolvidos e teremos grandes histórias para contar para os nossos netos. — Ele concluiu.

— Você não está percebendo que isso é uma maluquice, né? — Perguntou Murilo sentindo um pouco de esperança, pouca, mas ainda assim esperança, podia talvez enxergar uma luz no fim do túnel se colocasse seus óculos.

— Por que é uma maluquice? A minha família não conhece o Rafael. Ele é lá do Rio, a minha mãe viu umas fotos dele, porém você lembra muito ele, ela não vai nem perceber. Até eu fiquei assustado quando o vi na rodoviária. — Falou Tomaz puxando o resto de sua bebida pelo canudo estreito e fazendo um barulho.

— Olha encontramos o primeiro erro. Você disse que ele é do Rio de Janeiro! — Falou Murilo dando uma ênfase exagerado no nome da cidade. — E eu sou do interior. — Ele concluiu frisando bem no erre evidenciando seu sotaque.

— E daí? Vai ser como atuar. Nós podemos inventar que o Rafael morou aqui até a adolescência e ainda não perdeu seu sotaque. Minha família não sabe muito sobre ele, nem eu sabia, não vai haver riscos na nossa fraude. — Tomaz disse sorrindo e então mostrou os dentes brancos num sorriso, e piscou para Murilo.— Você precisa aceitar, por favor. Eu iria ajudar você, salvaria sua pele de ter que dormir naquela rodoviária, não custa me ajudar e se ajudar.

Filho da puta! Está me chantageando, pensou Murilo. Mas ele próprio tem que concordar, assim de longe até parece uma boa ideia, vai ajudar e beneficiar os dois.

— Então se eu aceitar, nós vamos ter que fingir que estamos apaixonados? — Ele perguntou fazendo uma cara meio estranha. Murilo tentou esconder seu desconforto, porém foi óbvio.

— Sim, nós iremos fingir isso. Mas não precisa se preocupar, já que você não vai fazer nada de errado, até porque você não namora mais aquele cara, e tem mais, nós não vamos ter que ficar nos beijando na frente dos meus pais para provar que estamos juntos. Talvez vai ser preciso na frente dos meus amigos, mas... Não precisa se preocupar com isso, vai ser como atuar, eu já disse. — Tomaz diz decidido e encarou Murilo de uma forma estranha.

Murilo sentiu-se frustrado e com vergonha, sua vontade foi levantar e dizer não. Dizer que não iria mais precisar ficar na casa dele. Como contar para um cara que acabei de conhecer que sou bv e que nunca beijei? Pensou.

MURILO BEIJA GAROTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora