Propósito Divino

Prologue (Prólogo)

"Muitas vezes me disseram para desistir. Sou a prova viva de que isso não vale a pena."
Isabelle

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Para Deus, que ocupa o primeiro lugar em minha vida, meus pais e meu irmão mais novo. Vocês são tudo para mim.

Também quero dedicar aos meus verdadeiros amigos, que sempre estiveram comigo quando eu precisei.

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Acho que é aqui onde as coisas começam, afinal. Nada existe sem que tenha sido, antes, criado. Eu, particularmente, acredito que todas as coisas que podem ser criadas também podem ser salvas. É por isso que eu estou escrevendo essa história.

Ao longo de minha vida, me baseei em uma teoria onde todas as pessoas podem ser separadas em três grandes categorias: 

- As que gostam mais de coisas salgadas do que doces;

- As que gostam mais de coisas doces do que salgadas;

- As que gostam dos dois.

Eu sou o tipo de pessoa que gosta mais de coisas doces do que salgadas. Logo, depois de muito pensar, decidi que abriria uma loja onde venderia cupcakes, doces que, rapidamente descobri, se você souber bem como preparar, nunca irão enjoar.

A primeira leva de cupcakes é sempre a mais especial. Você trabalha a massa com todo cuidado, misturando junto um pouco de ansiedade, nervosismo, dedicação, carinho e muito amor. São, por mais incrível que possa parecer, os cupcakes mais gostosos que você fará em toda a sua vida e é neles em que toda a minha história vai se basear.

Annecy, França

2021

- *Mademoiselle Geneviève! -Gritou o Chefe Enzo, a plenos pulmões, me fazendo pular de susto.

Eu havia acabado de fazer a minha primeira leva de cupcakes. Dez de brigadeiro e dez de baunilla. Eu não sabia a fria em que estava me metendo. Agradeci a Deus por ter me permitido fazer tudo no tempo certo sem que nenhum bolinho (teoricamente) saísse prejudicado.

- Às ordens! -Gritei de volta.

Ouvi sons de passos logo seguidos do próprio Chefe vindo até mim. Sim, ele é o estereótipo perfeito de um chefe de cozinha: gordo, vestido com um avental que um dia fora branco e que agora está colorido, coberto com todo tipo de doce em que for capaz de pensar, além do típico bigodinho sujo e o chapéu comprido branco.

- Deixe-me ver isso. -Ele diz com um ar sereno.

Franzo a testa e mexo o nariz (mania comum quando estou pensando ou desconfiando de alguma coisa). Entrego a bandeja de cupcakes para ele.

Certo, essa é uma parte que eu gostaria de guardar só para mim, mas infelizmente isso não é possível. Enzo inclinou-se para frente e enfiou seu longo nariz nos meus recém-feitos cupcakes.

Não sei por quanto tempo eu prendi o fôlego, mas solto o ar aliviada quando vejo o Chefe erguer a cabeça. Isso foi só até, bom, eu ver a cara dele.

- Tem um cupcake de brigadeiro estragado aqui. -Ele diz sério.

- Não tem não, senhor. -Digo prontamente.

- Então passe o Herbert nele e vamos ver o diagnóstico. -Ele retruca.

Herbert é o nome do nosso aparelho de checagem dos doces. Se há qualquer bactéria nociva ou ingrediente estragado, Herbert é o "cara" certo para nos falar.

Enzo aponta para o Herbert e depois para um dos cupcakes na bandeja. Engulo em seco, pego o cupcake com a mão direita tremendo levemente e vou em direção ao balcão, onde Herbert descansa tranquilamente.

Assim que me aproximo, Herbert acorda e começa a bipar constantemente. Meus olhos se enchem de lágrimas e o meu corpo de pavor. Meu cupcake está realmente contaminado.

Sabe quando você faz algo que não dá certo e se sente inútil, porque todas as coisas que você faz nunca dão certo? É assim que eu me sinto agora. Não sirvo para nada, faço tudo errado e no meu primeiro dia em um emprego no qual eu verdadeiramente me sentia feliz e realizada, seria despedida.

Viro-me para o Chefe, com uma expressão de fracasso e derrota estampada no rosto.

- Se tem algo para me dizer é melhor falar agora ou calar-se para sempre. -Diz o Chefe suavemente.

Foi então que, nos meus últimos segundos de *procrastinação, eu tive a pior ideia da minha vida.

- Eu posso explicar, Enzo. -Digo fria. Eu sou outra pessoa agora.

- Então, explique-se. -Ele diz surpreso.

- A verdade é que eu coloquei nesse cupcake as bactérias benéficas Lactobacilos bulgaricus que, em condições ambientes, estão realizando, neste momento, fermentação bacteriana, transformando o açúcar presente no leite em ácido láctico e, por consequência, cinquenta por cento do sabor deste cupcake de brigadeiro em iogurte de morango.

Sim, eu menti. Descaradamente e brilhantemente, não nego, mas pela primeira vez na vida eu não me senti um fracasso total. Eu tive orgulho de mim.

- *Magnifique! Então separe este cupcake para um comprador especial, capiche?

- Sim, senhor!

- Você vai monitorar esse comprador vinte e quatro horas por dia, desde o momento em que ele comer o cupcake até vinte e nove dias depois. Será que você pode fazer isso ou terei que pedir para alguém fazer em seu lugar, mademoiselle?

Eu entendi muito bem o que ele quis dizer com "pedir para alguém fazer em seu lugar". Se eu não seguisse a pessoa, o Chefe iria me demitir na hora. O que eu faço? E se o cupcake estiver tão estragado a ponto da pessoa ir parar no hospital? E se ela morrer?

Onde eu fui me meter?

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Vocabulário:

*Mademoiselle: Palavra francesa que significa moça ou mulher respeitada/respeitosa, de boa educação e conduta.

*Xenofóbica: Pessoa que desconfia, tem temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza; por pessoas ou coisas que vêm de fora do país.

*Procrastinação: Adiamento; demora; delonga.

*Magnifique: Magnífico.

*Capiche: É o correspondente à conjugação do verbo "entender" em português.