7.

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Estava frio naquela noite, o bosque silencioso como de costume. As criaturas noturnas saindo para caçar, as presas se escondendo, tudo no mais perfeito equilíbrio.
A única coisa fora do lugar era um garoto alto e branco andando de cueca e descalço no meio da floresta.
Seus olhos, fechados como se estivesse dormindo, seu corpo parecia saber exatamente para onde devia ir. Pela terceira vez ele ouviu um uivo, um uivo muito alto. Continuou seguindo o som.
Então ele parou numa clareira.

Aiden abriu os olhos e viu que estava no meio do bosque. Não sabia como tinha chegado até ali. Olhou em volta procurando algo que pudesse ajuda-lo a entender, quando viu uma silhueta nas sombras. Um homem parado ao lado de uma grande árvore, de costas para ele, observando a lua que se erguia no céu sem estrelas.
- Estava te esperando, Aiden. - disse o homem. Quando se virou, Aiden pôde ver seus olhos, eles brilhavam vermelhos como sangue. Os olhos de um Alfa.
- Como eu vim parar aqui? - perguntou ao homem.
- Eu te chamei. - respondeu calmo. -Um beta deve ouvir quando seu Alfa o chama.

Aiden ficou surpreso, as palavras fugiram-lhe dos lábios, a boca ficou seca e seu corpo começava a suar frio. O homem que estava assassinando pessoas a sangue frio por toda a cidade estava bem ali, na sua frente. Um homem muito perigoso, Aiden sabia.
- Por que você está matando pessoas inocentes?- perguntou Aiden, furioso, a raiva subindo-lhe os olhos.
A expressão calma do homem não se alterou, ele parecia extremamente  confortável em ser chamado de assassino.
- Um pequeno preço a se pagar pela evolução. - respondeu.
Aiden ficou sem entender o que o homem queria dizer com aquilo, mas sabia que ele devia ser um psicopata, matando pessoas por nada.

- À proposito, meu nome é Jonas.

                               ****

Jonas observava pensativo o garoto à sua frente, ainda tinha dúvidas sobre ter feito a escolha certa ao morde-lo. Ainda mais agora que ele estava saindo com a filha do caçador.
Jonas viu os dois juntos várias vezes nos últimos dias, enquanto observava o Beta. Ele os viu andando de mãos dadas, conversando no bosque, até jogando xadrez. Não seria bom se o garoto se apaixonasse pela caçadora.
Jonas estava pensando nisso quando algo lhe ocorreu. Não, talvez seja bom ele se apaixonar pelo inimigo, pensou.

- Eu te mordi por uma razão. - disse Jonas, quebrando o silêncio.

Aiden contraiu o maxilar com raiva.
- E qual foi?

- Eu preciso de uma alcatéia, Aiden.

O garoto se surpreendeu. Ficou ali, encarando Jonas, incrédulo.

- Você vai me ajudar a erradicar os caçadores de Barewood. - explicou Jonas sem sofrer nenhuma alteração no tom de voz.

Erradicar os caçadores. Isso significava Rebecca e sua família. A raiva começou a fluir com mais intensidade dentro de Aiden. Jonas queria ferir Rebecca, e ele nao iria deixar.

Quando se deu por si, já estava com as presas e garras à mostra e saltando sobre Jonas. As garras travadas no alvo, sua garganta, prontas para rasga-la. Mas antes que conseguisse se aproximar o suficiente, Jonas já não estava mais ali. Aiden caiu com tudo no chão.

- Eu posso te dar uma recompensa, caso resolva me ajudar. - disse Jonas, a voz vindo de trás de Aiden. O garoto se virou e o encarou com seus olhos azuis brilhantes na escuridão. - Se você me ajudar a acabar com os caçadores, eu deixo você ficar com a garota. Qual é mesmo o seu nome...? Ah sim, Rebecca. Ela nao precisa morrer.

Aiden entendeu o que ele quis dizer, e teve medo de perguntar mas precisava ter certeza.

- E se eu não quiser me juntar à sua alcatéia? - inquiriu Aiden.

O Alfa ficou observando-o em silêncio por alguns segundos, e depois respondeu.

- Bom, então talvez Rebecca se machuque. - disse, logo depois desaparecendo para a noite fria e silenciosa.

Aiden permaneceu ali, sentado no chão da floresta, pensando em como protegeria Rebecca. Ele sabia o quão grandes eram seus problemas. Há poucos meses descobrira que vivia num mundo onde lobisomens e caçadores travavam uma longa e sangrenta guerra, e agora ele estava bem no meio do fogo cruzado.

                              ****

A flecha de prata atingiu o meio do alvo pintado na arvore, enterrando-se nela. Rebecca abaixou o arco satisfeita com a própria performance.

- Se prata é mais eficaz, por que não usam balas de prata? - indagou ao pai.

- Por que a prata só funciona quando fica alojada no corpo do lobisomem, e também tem menos estabilidade. Por isso usamos balas embebidas em acônito e flechas de Prata.

- Faz sentido. - disse enquanto posicionava outra flecha. Soltou a corda e a flecha cortou o ar até atingir exatamente ao lado da última, no meio do alvo.
Rebecca se virou para o pai novamente, tomando coragem para perguntar o que queria saber a algum tempo.
Respirou fundo.
- Todos eles são maus? Os lobisomens? Seu pai não pareceu surpreso com a pergunta, já imaginava que ela a faria qualquer hora.
- Nem todos, existem alguns que não ferem humanos. Mas é cada vez mais difícil encontra-los por aí, praticamente todos os Alfas hoje estão em guerra contra os caçadores, e para um lobo, ser solitário nao é uma boa escolha.

- Então eles não tem escolha quando se juntam aos maus? - indagou Rebecca.
- Não. Do mesmo jeito que não temos escolha quando eles ferem alguém.

Caçada MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora