8.

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Caroline Hawking fechou a porta da lanchonete. Trancou e saiu andando pela rua deserta. Era seu primeiro emprego, tinha 17 anos e precisava ajudar em casa. Já que o pai tinha ido embora e a mae se matava para sustentar as duas. Ainda estava se acostumando com o trabalho, já tinha até parado de ligar para as cantadas dos bêbados que frequentavam o estabelecimento. Só não gostava de ter que fechar a lanchonete e depois ter que andar mais de 1 km até sua casa, sozinha e tarde da noite. Não que houvesse um grande perigo, Barewood era tão pequena que até os casos de violência eram quase nulos. Sem contar os inúmeros ataques de animais que ocorriam na Cidade.
Caroline não entendia o que levava os animais a ficarem agressivos na região, achava aquilo muito estranho. Mas o que poderia pensar? Estava em Barewood, estranho nem começa a definir aquela Cidade.
Digitava uma mensagem para Kate, sua melhor amiga. Contando que o menino que ela gostava a tinha convidado para sair. Seu cabelo loiro caia sobre os ombros, vestia uma blusa branca, um jaqueta preta, um jeans e sapatilhas. Os olhos estavam fixos na tela do celular enquanto digitava.
Começou a sentir os primeiros pingos suaves da chuva que se aproximava. Ótimo, pensou. Acelerou o passo para chegar em casa antes que a chuva a alcançasse.
Quando passou por um beco escuro, algo chamou sua atenção. Um barulho. Foi barulho baixo mas Caroline jurava ter ouvido. Parecia com um animal soltando ar pelo focinho.
Deve ser só um cachorro de rua, pensou enquanto observava o beco escuro.
Então ela viu um par de olhos observando-a de dentro da escuridão. Um par de olhos vermelhos. Aquilo a assustou e ela queria correr, porém nao conseguia. Era como se estivesse hipnotizada por aqueles olhos. Seu coração pulava no peito, como se dissesse: Corra! Saia daí agora. 
Mas ela continuou ali, encarando aqueles olhos. Eles brilhavam e começaram a subir, como se o dono deles estivesse ficando em pé. Quando deviam estar à mais ou menos dois metros e meio do chão, começaram a se aproximar, devagar.
Foi como se seu corpo percebesse a ameaça iminente, de repente conseguiu se mexer novamente. Começou a correr rua abaixo. Corria até seu peito doer. Não via a criatura atrás dela mas mesmo assim nao parava para olhar. Deixou o celular cair e nem se deu ao trabalho de voltar para pegar.
Quando virou a esquina, gotas de chuva caiam em seu rosto e se misturavam ao suor que brotava em sua testa. A garota estava em choque, mas tomou coragem para olhar para trás. Não havia nada atrás dela.
Olhou novamente para a frente e viu um poste com a luz falhando. A luz piscava, ficava uns cinco segundos desligada e voltava a piscar. Quando olhou para o chão viu seu celular, bem debaixo do poste. Contrariando todos os seus instintos, decidiu pega-lo. Foi se aproximando devagar, a respiração ainda acelerada pela corrida. Quando chegou perto do poste, a luz apagou. Caroline tateou o chão em busca do celular, até que suas mãos tocaram em algo frio e metálico. A luz acendeu e ela ficou feliz por ter conseguido encontrar o celular intacto.
Quando Caroline olhou para a frente, viu novamente os olhos vermelhos. Porém, dessa vez podia ver seu corpo, o que viu a fez soltar um grito de pavor.
Um lobo preto de mais de dois metros de altura a encarava com as presas a mostra. A boca do lobo se abriu e ele saltou sobre a garota ajoelhada à sua frente.
                         
                                *****

- Ontem à noite? - perguntou Aiden enquanto entrava na escola seguido por Pete.
- Sim. Eu ouvi o rádio da Polícia. - disse Pete. - Parece que alguém encontrou o corpo em uma lixeira atrás de um restaurante.
Outro assassinato. Aiden sabia que precisava fazer algo para deter Jonas, só não sabia o que; também precisava esconder do pai de Rebecca que ele também era lobisomem, sabia que estava bem ferrado. Teria que deter Jonas sem a ajuda dos caçadores.
Entraram na sala de aula de história. Haviam poucos alunos ali, então foram para o fundo da sala e sentaram nas últimas carteiras ao lado da janela; Pete atrás de Aiden.
O sinal tocou e o senhor Harris entrou na sala, carregando sua bolsa de couro marrom. De dentro da bolsa, tirou uma pilha de papeis e começou a distribuir.
- Os alunos que ficaram abaixo da média não receberão a prova corrigida e terão que fazer a recuperação. - disse o pequeno homem.
Ele foi chamando os nomes dos alunos para retirar as provas até o último. Não chamou o nome de Aiden.
- Você ficou de recuperação? - perguntou Pete.
- Acho que sim...
  
                               *****

- Tá bom, então esse tal de Jonas é o seu Alfa? - perguntou Pete, mesmo já sabendo a resposta.
- Sim. E ele quer que eu o ajude a expulsar os caçadores da cidade. - respondeu Aiden.
- Ele quer começar uma guerra. - o rosto de Pete virou uma mistura de surpresa e medo.

Passaram pelo corredor cheios de alunos apressados para irem embora e saíram pela porta da frente. O estacionamento não estava cheio ainda, então, aproveitaram para correr até o carro de Pete; um velho mustang vinho, a lataria enferrujada estava passando de vinho para ferrugem. Entraram no carro e saíram do estacionamento.
- Falando nisso, você tem visto Rebecca? - perguntou Pete.
- Faz dois dias desde que falei com ela pela última vez.
- Ela também nao veio na escola hoje. - concluiu Pete. - Talvez você devesse mandar uma mensagem. - disse sarcástico e soltou uma risada.

Mais tarde, Aiden estava pensando na conversa que tivera com Jonas. Sabia que não acabaria bem caso o pai de Rebecca descobrisse, mas também não podia deter Jonas sozinho. Talvez deveria contar aos caçadores? Não. Ele não ia deixar que Rebecca descobrisse seu segredo.
Estava perdido em pensamentos quando a campainha tocou, levantou e foi ver quem era, já que a mãe estava trabalhando hoje. Abriu a porta, lá fora, na varanda, havia um homem de sobretudo preto, o cabelo bem alinhado e jogado para trás.
Mesmo sem poder ver seu rosto, Aiden sabia quem era; Jonas.

- Olá garoto. - disse Jonas se virando para a porta. - Posso entrar?

                              *****

- O que você está fazendo aqui? É a minha casa, você nao pode vir aqui! - ralhou Aiden para Jonas.
- Já que você não me deixa entrar, vamos conversar aqui fora mesmo. - disse Jonas, puxando Aiden pela camisa para o jardim da casa.
Ele o arrastou para a grama e o atirou no chão com violência.
- Vamos lá, garoto. - disse abrindo os braços. - Tente me atacar, vamos ver do que é feito.
Aiden sabia que tinha algo por trás disso, mas a raiva o dominou. Pensou em como aquele homem tinha acabado com sua vida quando o transformou em um escravo da Lua e de seus instintos mais selvagens; em todos os problemas que vieram depois. Se levantou e ficou encarando Jonas com o rosto já mudado, os olhos azuis brilhavam, as garras saltavam dos dedos, as presas finas e brancas na boca.
Aiden rugiu com raiva e partiu para cima do Alfa, saltou sobre ele e os dois caíram no chão. Aiden prendeu o joelho no peito de Jonas, que continuava calmo e despreocupado.
- Nada mal. Mas vai precisar de mais que isso para me matar. - Jonas disse com um sorriso.
O que se seguiu foi tão rápido que Aiden não teve tempo de reagir. Jonas se levantara e jogara Aiden ao chão, agora ele que estava por cima. Com as garras a mostra, rasgou a barriga de Aiden, que urrou de dor. Jonas saiu de cima, deixando Aiden encolhido abraçando a barriga.
- Pense nisso como um teste. - disse o Alfa. - Sobreviva e poderá se juntar a mim.
E assim Jonas foi embora desaparecendo na escuridão, deixando Aiden sangrando no chão.

Caçada MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora