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Aiden sentia como se todos os nervos do seu corpo estivessem pegando fogo, a dor se concentrava mais intensamente no abdômen. Ele nao conseguia se mexer sem sentir muita dor, então fez a única coisa que parecia não doer, abriu os olhos. A primeira coisa que pôde ver foi um teto de madeira escura. Sentia que estava deitado sobre uma superfície plana, que fazia seus músculos ficarem rígidos. Aiden se esforçou ao máximo para virar a cabeça e descobrir onde estava.
Quando finalmente conseguiu, viu que estava numa sala de jantar, deitado sobre uma grande mesa de madeira, que agora estava cheia de sangue; viu que as paredes eram azuis e havia um armário cheio de fotos, taças de prata e um jarro de flores brancas que Aiden não soube identificar. Ao passar o olhar por uma das fotos, reconheceu um garoto. Pete usava calça jeans e um pesado casaco vermelho e cinza, estava em pé ao lado de um homem negro que aparentava ter no máximo 40 anos, alto e de cabeça raspada, no topo de uma montanha cercada por florestas. Os dois sorriam.

- Ele acordou! - Aiden ouviu alguém gritar e então ouviu passos vindo em sua direção.

Quando olhou para a porta, viu um Pete em tamanho real, coberto de sangue e com uma mistura de felicidade e surpresa no rosto, como se duvidasse que Aiden sobreviveria. Pete parou ao lado da mesa e ajudou Aiden -depois de muita dor- a se sentar.
- Pensei que você tinha morrido. - disse Pete.
- Não dessa vez. - respondeu Aiden com um sorriso fraco (sorrir também doía).

Por mais que Pete estivesse feliz em ve-lo acordado e vivo, Aiden percebeu os sinais do cansaço implícito em sua face. Ele tinha olheiras fundas, devia estar sem dormir a muitas horas, pois seus olhos pareciam pesados e ele estava um pouco pálido.

Aiden estava um pouco confuso sobre tudo o que havia acontecido. Jonas tentou mata-lo, mas ele queria Aiden na alcateia. Então Aiden começou a se lembrar do que Jonas disse logo antes dele apagar, havia se esquecido por causa da dor insuportável onde Jonas o rasgara. Ele disse: "Pense nisso como um teste, sobreviva e poderá se juntar a mim."

Um teste? Então tudo isso é a droga de um teste? Aiden sentia raiva de Jonas, raiva por ele ser tão sociopata a ponto de brincar com a vida das pessoas como bem entendesse, raiva por ele estar ameaçando Rebecca, raiva por não poder fazer nada a respeito.
Aiden se sentia impotente, fraco, um homem mau estava ameaçando as pessoas que ele amava e ele não era capaz de impedi-lo. Ainda, pensou com rancor.

- Cara, está tudo bem? - Perguntou Pete colocando a mão no ombro de Aiden.

Isso o fez sair de seus devaneios, e voltando a atenção para Pete, ele disse:

- Onde estamos? O que aconteceu depois que Jonas me atacou? - Perguntou Aiden, confuso.

Então, Aiden olhou para a porta e se surpreendeu. O homem que posava na foto junto com Pete estava parado bem ali.
Ele parecia mais alto e forte pessoalmente. Usava uma blusa de manga comprida branca - manchada de sangue - e jeans rasgados no joelho.

- Esse é meu tio, Mitchell. - Explicou Pete.

- Com está o nosso paciente? - Perguntou Mitchell em tom de brincadeira.

Aiden ficou sem entender o que estava acontecendo, até Pete explicar.

- Ele é médico... - sussurou para Aiden.

- Nós iremos te explicar tudo. - Prometeu Mitchell. - mas primeiro me deixe olhar como está seu machucado.

Aiden nem havia notado que estava sem camisa e que havia um enorme curativo em seu abdômen. Ele não podia deixar Mitchell ver o machucado, pois provavelmente estaria cicatrizando - graças a cura acelerada dos lobisomens.
Mitchell aproximou a mão do curativo. Aiden segurou seu pulso e olhou para Pete.

- Desculpe cara, eu tive que contar à ele. - disse Pete. - Mas ele vai guardar segredo. - concluiu.

Aiden estava cansado demais para ficar bravo com Pete, então apenas sorriu fracamente.

- Eu devo admitir - começou Mitchell - eu nunca acreditei quando meu pai dizia que tinha visto um maldito lobisomem. - ele fez uma pausa. - Oh, eu não quis te ofender. - explicou.

Aiden começou a rir fortemente e logo todos riam juntos.

- Rir dói. - reclamou Aiden e riram mais ainda.

Quando pararam de rir, Aiden resolveu que ja era hora de perguntar sobre o tempo que ficou desacordado.

- Pete, como você me achou? - Perguntou.

Pete olhou para Aiden por um momento, como se estivesse se lembrando dos detalhes.

- Nós tinhamos marcado de nos encontrarmos na escola, lembra? - perguntou.

- Sim, eu me lembro. Só que ai Jonas apareceu lá em casa e me atacou.

- Eu fui ate a sua casa pra saber por que você não apareceu e te encontrei caído no gramado, sangrando muito e nao sabia o que fazer.

"Aí eu liguei pro Mitchell e disse pra ele ir até lá. Te trouxemos pra casa dele e tentamos não te deixar morrer." Ele deu uma leve risada.

                              ****

Quando Rebecca se virou para descobrir qual era o barulho que havia vindo de trás dela, descobriu que era apenas um cachorro abandonado procurando comida na estrada.

Acabou voltando para casa com as mesmas duvidas sobre contar aos amigos sobre sua segunda vida, e possivelmente coloca-los em perigo ou não contar e continuar se sentindo só.
Acabou decidindo que seria muito egoísmo coloca-los em risco apenas pelo seu próprio bem estar.

Preciso ligar pro Aiden e explicar - inventar um motivo- por que sumi por esses dias. Pensou enquanto dirigia.

Entrou em casa, subiu para seu quarto e acabou pegando no sono.

Caçada MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora