5.

37 8 0
                                    

No sábado de manhã, Aiden acordou com o toque do celular, era Pete ligando. Respirou fundo, esfregou os olhos e pegou o aparelho na cômoda. Atendeu.
- Cara, eu preciso te contar uma...
- Bom dia pra você também. - interrompeu Aiden. - Não tá meio cedo?
- Nós precisamos conversar. Agora! - retrucou Pete.
- Eu acabei de acordar, tenho umas coisas da escola pra fazer agora. - disse Aiden, bocejando. - Posso passar na sua casa mais tarde.
- Então, sobre isso...
- O quê?
A porta se abriu e Pete entrou no quarto. Com o telefone ainda na orelha, disse.
- Eu tenho a chave, lembra? - explicou quando o outro o olhava surpreso.
Aiden não teve tempo de responder. Pete carregava uma pasta preta em baixo do braço. Foi até a mesa do computador que ficava num canto do quarto e puxou a cadeira, sentando-se. Ficou encarando Aiden por alguns segundo, esfregando as mãos. Depois começou a girar a cadeira. Aiden sabia o que ele tinha. Pete estava nervoso, não sabia por onde começar.
- Desembucha. - disse Aiden impaciente.
Pete concordou com a cabeça.
- Você vai me achar maluco... mas sabe que eu costumo investigar algumas das coisas estranhas que acontecem em Barewood...
Aiden fez sinal pra que Pete continuasse e ele o fez.
- Ontem à noite, uma pessoa foi morta no bosque. Ela estava cheia de mordidas e marcas de garras. O legista concluiu a causa da morte como ataque de animal... - ele parou por um momento e suspirou. - você se lembra do meu avô? - a pergunta pegou Aiden de surpresa.
- Sim, eu lembro que ele levou a gente num jogo de beisebol uma vez.
- Quando eu era criança, antes de falecer, ele me contava algumas histórias. - continuou Pete. - ele dizia que antigamente, Barewood era uma cidade habitada por muitos lobisomens, que existiam alcateias.

Aiden ficou surpreso. Pete havia descoberto seu segredo, ele sabia da existência de licantropos. O que mais o abalou foi a morte da noite anterior, ele não podia acreditar que havia matado alguém e nem se lembrava. O desespero fluía por seu corpo, seu medo se tornara realidade. Agora com certeza o pai de Rebecca o acharia e o mataria.
Pete percebeu a expressão de Aiden e perguntou desconfiado.
- Você sabe de alguma coisa?
- O ataque de ontem, você acha que foi um lobisomem?
- Sim. Quer dizer, talvez... - disse envergonhado. - Eu sei que parece loucura. Meu avô me disse uma vez que já tinha visto um, numa noite de lua cheia, um lobo maior que uma pessoa, de olhos vermelhos. - aquela descrição fez Aiden se lembrar do lobo que o havia mordido. - É claro que não acreditei nele na época, meu pai dizia que eram apenas histórias para assustar crianças bobas. -Pete abriu a pasta e começou a folhear varios papeis de jornais e fotos. - Mas eu passei a madrugada pesquisando... - Aiden o olhou com uma expressão interrogativa. - Que foi? Eu não consegui dormir depois de ouvir o rádio da Polícia.
Aiden se surpreendeu.
- Você tem um rádio da Polícia?
- Não pergunte. - cortou Pete. - Enfim, houveram vários ataques idênticos ao de ontem a noite durante os últimos anos. E vários relatos de lobos gigantes em noites de Lua Cheia. Eu acho que meu avô podia estar me dizendo a verdade.
Aiden estava perdido, havia matado uma pessoa. Não aguentava mais guardar esse segredo de todos, nem seu melhor amigo sabia. Então Aiden decidiu que ele merecia saber. Respirou fundo, se levantou e fechou a porta do quarto.
- Preciso te mostrar uma coisa. - disse. Pete o olhava curioso.
Aiden parou a dois metros do garoto e o olhava fixamente. Abaixou a cabeça e fechou os olhos. Quando voltou a olha-lo, seus olhos tinham adquirido uma cor azul florescente. Em sua face, cresceram pequenas camadas de pelos e em suas mãos, garras.
Pete deu um grito e caiu para trás com a cadeira. Percebendo isso, Aiden voltou ao normal e foi ajuda-lo.
- Que merda foi essa? - perguntou Pete, quase gritando.
- Você estava certo sobre os lobisomens. - respondeu.

                             ****
Aiden explicou tudo ao amigo, que ouviu calado e prestando atenção aos detalhes. Desde a mordida até as transformações na Lua Cheia. Pete só o interrompeu quando ele mencionou os caçadores.
- Espera, então o pai da sua namorada é um caçador de lobisomens, que é exatamente o que você é? - perguntou ainda incrédulo.
- Ela não é minha namorada. - retrucou Aiden. - E sim, o pai dela me mataria se soubesse.
- E ela sabe? - perguntou Peter.
- Não. E nem pode.
Pete pensou por um tempo e depois disse:
- Você acha que ela pode querer seguir os passos do pai, talvez?
- Eu pensei muito nisso já, e sinceramente não sei. Mas não quero arriscar perde-la.
- Entendi. Nós vamos dar um jeito, eu vou te ajudar. - disse Pete dando um tampinha nas costas de Aiden e sorrindo.
Aiden não sorriu.
- Tem mais uma coisa...
- O quê?
- Acho que eu matei aquela pessoa ontem.

Caçada MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora