10-INIMIGO OU AMIGO?

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Quando acordei, vesti um sari dourado com detalhes vermelhos e comecei o dia normalmente, mas parece que está tudo irritante, ou repetitivo, quero viajar, visitar Londres. Anne puxou uma mecha do meu cabelo, sem querer, enquanto o arrumava em um delicado coque. O que me fez gritar com ela, e seguir com um humor horrível para o café da manhã com os Lordes e Ministros do rei. Adentrando o salão, todos se levantam e reproduzem uma pequena reverência ensaiada, que me pareceu monótona e contribuiu para que fosse um dos motivos para aumentar meu estresse matinal. Jack também estava presente, e como consequência da noite anterior, sorriu com um carinho que quase me fez desejar um bom dia à ele. Mas como um flash o ignorei e lancei um olhar sem emoções ao meu pai, que provavelmente notou que não era um bom dia para a querida filha dele; ele me devolveu um olhar reprovador para mim e dei de ombros. Quando terminamos, foram propostos alguns projetos, e um deles me chamou a atenção, afinal no projeto, eu era o foco principal, para minha surpresa ou não, essa proposta veio do Duque, que sugeriu que semanalmente, minha presença fosse fundamental em praças públicas e na Câmara, onde eu veria o que se passa pelo meu reino podendo optar em novos projetos ou declarando problemas. Apesar de ter sido uma proposta criativa e benéfica, algo me dizia que ele estava planejando ações ruins contra mim e meu pai. Os Ministros, Lordes e meu pai, acataram a idéia com entusiasmo, seria um motivo para o povo se distrair e não se rebelar contra o governo de meu pai.
Decidida a esclarecer seriamente minhas desconfianças, pedi para conversar com meu pai, antes que fossemos para julgar alguns casos que ficaram atrasados por conta do Baile Real. Ele me recebeu no escritório particular e me tratou de maneira rude e direta:
- O que você queria dizer? Pode ser breve, por favor? Temos que ir daqui a 7 minutos.
- Bom, para começar, admiro a proposta do Duque e acredito nas boas intenções, mas acho que não devemos acatà-la, pelo menos por enquanto, não sei o que me fez tirar essa conclusão mas não devemos dar tanta confiança ao Duque. - minha voz soou como a de uma garota repreendida, que droga! Estava sendo frágil.
Papai riu ironicamente e depois de se acalmar, me observou como se eu fosse uma atriz de comédia. Não gostei dessa atitude.
- Querida e estimada filha, acha mesmo que merece essa chance de falar contra o Duque? Depois do seu mal comportamento hoje de manhã? - E continuou rindo - Não temos culpa se você se encontra em um estado estressante, até para mim, que faz com que mulheres se tornem extremamente irritantes, TPM! - Ele concluiu quase gritando. E voltou a rir, o que haviam colocado no café dele? Pó da risada histérica?
-Quero ver minha mãe. - Disse de repente. Ele se transformou em homem extremamente frio, que eu odiava, pois convivia com essa personalidade em Londres.
- Estamos atrasados! - E começou a seguir para o local onde nos aguardavam para começar os julgamentos, no meu reino, vivemos como um país sofisticado e rico em tecnologia. Atualmente, meu pai decidiu seguir o padrão de Londres, os julgamentos seriam feitos por Juízes em tribunais; porém, os casos de crimes extremos (assassinatos, roubos grandes, entre outros), seriam feitos por nós, o rei e a rainha. Porém a solução não seria a morte de culpados, o cumprimento da pena de assassinato, por exemplo, seria a prisão perpétua, mas casos de roubos, seriam pagos com trabalhos voluntários e vigiados para a Índia. E assim, varia de cada crime o seu pagamento.
- Sabe muito bem que eu preciso dela! Sinto falta de meus irmãos, por favor! - Digo com voz de choro enquanto o sigo, praticamente arrastando meus pés.
- Também sinto falta de meus filhos, mas não podemos nos distrair, nesse momento em que a Índia está se recuperando da dívida que meu pai nos deixou! - sua voz me intimidou o bastante para que eu não o atormentasse com o assunto novamente. Infelizmente, não conseguir esconder meu descontentamento e quando era necessário falar, minha voz saia falha.
No fim da tarde, antes do jantar, vesti um sari muito simples, que escondia a imagem de rainha e fui a cozinha do palácio, saber se o Sam mencionado na carta, trabalhava lá. Quando questionei uma das cozinheiras presentes, ela me observou atenta e por um breve segundo, tive a certeza que ela havia me reconhecido. Então a sua expressão de dúvida desapareceu e ela acenou afirmando, inesperadamente, ela apontou com a mão para um canto da cozinha, onde o mesmo garoto que eu havia entregado a carta, estava. Agradeci e fui em direção ao moço que percebeu minha presença, mas por sorte reconheceu que eu não queria que soubessem da minha presença e fingiu que não era algo importante.
- Olá, sem querer ser mal interpretada, mas o que o seu superior quer? Ou melhor, quem ele é?
- Minha senhora, creio que ele não quer que saiba sem que ele mesmo se apresente e diga suas intenção. - Respondeu com um sorriso. Que atrevido! Quem ele pensa que é pra não me dar respostas, quando exijo?
- Garanto que ele não vai gostar, quando souber que você está desrespeitando a amada dele! - Se é que essa pessoa existe e realmente quer me conhecer. Sam empalideceu e seu rosto parecia assustado. Ótimo, parece que gosta mesmo de mim. Me sinto triunfante por um momento, mas logo passa quando retorno à minha curiosidade inicial.
- Não vai mesmo me contar? - Ele abaixa a cabeça e nega calmamente. Quando olha novamente para mim, me lança um sorriso breve de cumplicidade. Mas ignoro e volto para a porta de entrada. Antes que eu termine de passar pela porta, me viro, e simplesmente digo a idéia mais doida que tive durante o dia:
-Diga pra ele que quero vê lo daqui 100 dias, provavelmente te darei uma carta com todas as instruções que precisar para a minha localização quando o dia estiver próximo. - Ele arregalou os olhos e sorriu com o inesperado.
-Majestade, não quero parecer rude ou aproveitador, mas estamos no século XXI, não pode passar as instruções à "ele" por mensagens? Se não puder eu entendo. Mas está difícil atravessar a fronteira, agora que o rei está um pouco apreensivo, pois ele não permite muitas passagens.
Estou um pouco chocada com essas revelações, e com essa sugestão, mas meu pai não está muito preocupado comigo, então não se importa com esses detalhes. Então acho que seria diferente e encaro isso como uma nova aventura. Até porque meu pai controlava meus contatos e não me deixa falar nem mesmo com minha mãe pelo celular.
Confirmo com a cabeça, e anoto em um pequeno papel que arranco do caderno de anotações que pelo que vi, é aonde anotam os ingredientes que precisam; e escrevo o meu número. Fazendo ele jurar pela própria vida, que irá mandar o número apenas para o superior dele.
Quando volto ao meu quarto, peço desculpas a Anne que estava arrumando meus cobertores. Ela aceitou mas continuou com os olhos baixos, pedi para que ela chamasse algumas criadas, e quando chamaram, pedi para que trouxessem pizzas, muitas batatas fritas, refrigerantes e chocolates; quando trouxeram, agradeci, e pedi para que sentassem e compartilhassem comigo e Anne, todas ficaram maravilhadas e foi como a "Noite das Meninas". Foi uma distração relaxante para mim, comemos e rimos muito, e me senti renovada para o dia seguinte. Quando fui me deitar agradeci a Anne e as garotas, dormi tranquilamente; durante a madrugada, acordei em um susto, pois tive a noção do perigo em que me meti quando passei meu número a um desconhecido, mesmo que possa adquirir todos os celulares que quiser, ainda assim é um risco. Meus pequeninos voltaram para minha cama e voltei a sonhar.

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