Capítulo 3

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Dor de cabeça e tontura. Levo uma das mãos à minha testa enquanto tento voltar ao presente e me lembrar onde estou. Certo. Estou no estúdio do "Louco do bar" e ele continua dormindo. Admiro suas costas livres do edredom, me cobrindo ainda mais e tentando pensar no que fazer depois de tudo.

Eu não tenho um plano e nunca imaginei que acabaria na cama de alguém tão rápido. Minha cabeça tenta me culpar, mas sei que não tem nada errado nisso. Estou solteira e, até onde percebi, ele também. Ambos podemos usar nosso corpo como preferirmos. E apesar do que possa parecer não foi uma vingança. Não mesmo! Eu me senti realmente bem com ele e não lembro qual foi a última vez que me senti assim.

Ainda assim, tem um erro, aqui. Eu menti e menti muito. Tudo bem, eu posso fugir das reuniões fraternais que Rachel e Peter fizerem e não vê-lo nunca mais, mas não posso ficar sustentando essa mentira por muito tempo. Mentir não é minha especialidade, então vou acabar me atropelando com isso, se continuar fingindo. Por outro lado, não conheço esse cara tanto assim. Ele foi gentil e carinhoso comigo, mas ainda seria igual se eu dissesse que menti para ele? Estamos sozinhos, não vou arriscar isso.

Eu preciso ir embora. É isso! Preciso escapar daqui antes que ele me veja. Antes que eu precise seguir com isso. Coloco meus pés para fora da cama e me arrasto, lentamente, recolhendo minha roupa e me vestindo. Pego meus saltos e caminho até a porta quando me lembro que esqueci algo por aqui — a foto que ele me deu. Volto, devagar e revisto o lugar com os olhos. Nada. Acho algumas das fotos que ele tirou, no chão e outras sobre a cômoda, mas a minha... Está embaixo do braço dele!

Resolvo tapar meus olhos e espiar entre os dedos enquanto puxo devagar. Ele se mexe um pouco e eu estremeço, mas continua dormindo. Deu certo! Dou mais uma olhada para aquele rosto que me prende tanta atenção e suspiro antes de ir.

Uma pontada de culpa e tristeza percorrem meu corpo. Eu nunca mais irei vê-lo e se o vir, terei muito à explicar. Nada vai ser igual ao que foi. É uma pena, mas também é o melhor. Se eu tivesse dito a verdade, provavelmente eu decidisse passar mais algumas horas aqui e talvez ele quisesse mais horas, mais dias, mais semanas em uma relação ou coisa parecida. E eu estou pronta para isso? Não.

Quando me metia em algum problema, era bem fácil ligar para Jonathan. Ele sempre tinha a resposta perfeita e cuidava de tudo, mas agora, estou por minha conta, tendo que entender que eu me meti nisso e tenho que sair. Posso até contar para as minhas amigas, mas sei que me repreenderiam e não consigo lidar com isso. Não hoje. Preciso colocar minha cabeça no lugar.
Calço meus sapatos dentro do elevador e saio rápido do prédio, dando uma checada na rua. É claro que não sei onde estou e andar à pé não parece uma opção, então espero um táxi e entro, assim que vejo um, pedindo para me levar para um hostel. Olho minhas economias na carteira e sei que isso acabaria em poucos dias em um hotel comum, dessa cidade, mas eu sou apenas uma e preciso de um lugar simples para ficar. Para quem morava em uma garagem, um hostel é um quarto cinco estrelas. 

Depois de algumas ruas, o taxista pára em um lugar comum e eu logo entro. Um senhor careca com uma barriguinha saliente vem me atender e me oferece um quarto com outras três garotas, mas logo encontra um quarto vazio e eu decido ficar com o mesmo. Don Pancho, o recepcionista, sobe comigo um lance de escada e me mostra o meu novo lugar. Dessa vez, eu tenho uma janela grande, mas dormirei em uma beliche, com um guarda-roupa de frente para mim. As paredes são brancas e cintilantes, muito limpas e claras, que dão a ilusão do ambiente ser maior. É perfeito para mim. Pancho explica que tem uma cozinha compartilhada e isso me deixa animada, porque seria difícil comer em restaurantes o tempo todo. Dou uma gorjeta e ele me deixa sozinha na minha nova casa, ou pelo menos até o apartamento ficar pronto. Sento na cama, tentando absorver minha manhã e decido tomar um banho, o que não foi nada esperto, porque não tinha outra roupa em mãos. Ainda rindo da minha esperteza sem tamanho, liguei para Rach que se propôs à trazer minha mala. A campainha toca pouco tempo depois e não deu tempo sequer de meu cabelo secar. Ela é mesmo a melhor amiga do mundo todo.

O cara da sala ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora