Capítulo 23

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Era inacreditável que, ao fim, havíamos conseguido encontrar Mary. Apesar dos meus esforços e do imenso otimismo que me oferecia estar para que Ryan não desmoronasse em um momento tão crucial, não podia negar que dúvidas me passavam pela cabeça.

Aquela era a cena mais linda que havia visto em toda a minha vida. Sei que a minha foi monótona, mas desde que cheguei à New York, tudo em mim ganhou um novo sabor. Era como se eu tivesse vivido um pouco mais do que o comum, mas menos do que tudo que eu poderia ser ou estar — ou... Sentir.

O homem que eu amava estava feliz e radiante, com lágrimas nos olhos que refletiam sua liberdade, por fim. O sorriso de Ryan valia mais do que o próprio ouro e nada se comparava à tê-lo ali, se sentindo completo com a sua família.

Eu disse família? Quero dizer, uma parte dela, porque todos ainda precisavam se reunir. E isso seria, com mais calma, no dia seguinte, depois que se cumprisse toda a burocracia com a polícia.

•••

Tudo conspirou à favor. O dia estava quente, os raios de sol tocavam nossa pele enquanto a esperávamos do lado de fora do prédio ao som de pássaros cantando e crianças correndo pela calçada. Mary vivia em um local mais afastado? Sim, mas havia uma beleza escondida e rara em estar em um bairro menor e mais simples, como a proximidade das pessoas. Era assim na minha cidadezinha em New Jersey e vejo que isso é ainda mais intenso por aqui.

Alguns vizinhos passavam por nós, mas não nos olhavam diretamente e penso que uma parte deles sabia sobre Mary ou descobriram depois da nossa publicação, mas preferiram protegê-la de qualquer risco que aparentamos causar à ela. Se ela desapareceu por conta própria, haviam motivos e eu não podia culpá-los por isso.

— Estamos esperando Mary há mais de dez minutos! — Ryan protestou, logo após olhar seu relógio, batendo a mão contra a coxa. — Será que ela desistiu? Será que devo subir?

— Ela nos disse para esperar aqui. — Aconselhei, tocando seu ombro. — Mulheres demoram, vamos aguardar um pouco mais e se ela não vier, subimos, tudo bem?

Ryan assentiu, mas ainda assim continuou impaciente, olhando para todos os cantos da rua, como se ela fosse surgir em um canto qualquer. Em não mais de cinco minutos, ouvimos o barulho típico de passos na escada e uma Mary mais mulher apareceu na porta do prédio. Com um vestido de cetim rosa claro e um par de sandálias brancas, agora mantinha seu cabelo solto, cobrindo não mais do que seus ombros, diferente da franja, que cobria totalmente sua testa. Seus olhos azuis brilhavam ainda mais intensamente contra a luz do sol e eu, agora, tinha certeza que era isso a coisa que mais se diferenciava de seu irmão.

— Desculpem a demora. Tommy fez xixi na calça porque me ocupei do meu cabelo e esqueci de colocar uma fralda!

Nós rimos e ela também, quando percebeu que não era nada demais. Mary era apenas uma menina e que, naquele devido momento estava nervosa porque deveria encarar seu passado, encontrando um novo futuro.

Ryan segurou Tommy nos braços, como se tivesse feito isso durante a vida toda e o colocou na cadeirinha de bebê, a mesma que ele decidiu comprar à caminho de Washington Heights, naquela manhã. O menino não protestou, mas tinha os olhos fixos na mãe, que parecia pensar duas vezes antes de entrar no carro.

— Você tem certeza que isso não será um problema, Ry? — Mary perguntou baixo. — Se eles me virem e isso parecer errado para eles. Se tudo recomeçar, eu...

— Nada vai dar errado daqui para frente. — Ele tocou seus ombros frágeis, olhando-a fixamente para tranquilizá-la. — Todos sabemos o caminho que você escolheu e vamos aceitar. Qualquer mudança será de sua vontade, ok? Estou aqui.

O cara da sala ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora