Prólogo

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O canto do sofá vermelho está me abrigando muito bem. Tanto que não parece que há mais quatro pessoas se apertando aqui, comigo. Ninguém liga realmente para onde está e o que está acontecendo ao redor quando há um jogo de futebol acontecendo na TV. Bem, eu ligo. 

Não consigo me desligar totalmente e noto Rachel se sentar entre minhas pernas. Faço cafuné no seu cabelo macio, que está preso de um jeito que só nela ficaria bem. O carinho está adorável e eu faria mil vezes, porque cuidar dessa garota é o meu melhor trabalho, exceto que, nesse momento, estou me distraindo. 

Desde que cheguei nessa mini-festinha, eu sinto os olhares curiosos de um cara sobre mim e, meu Deus, eu não resisto à encará-lo de volta! É errado e eu sei que é, mas há algo naqueles olhos castanhos que me fazem, simplesmente, seguir com o olhar fixo ao dele. Não é como se esse cara quisesse falar comigo, parece que estamos no "Quem encara mais?" e eu não quero perder.

E não perdi. 

Ele, finalmente se distrai com um amigo e ri baixo, de alguma piadinha interna que não faz diferença, porque eu ganhei dele. Ou não. Ele abriu um sorriso tão bonito e olhou para mim que estou confusa sobre minhas últimas palavras. Noto que Rachel está virada para trás, acompanhando o nosso jogo e volto para o Planeta Terra.


— O que você tanto olha, Anna? — Deu um sorriso travesso e eu senti meu rosto corar com a pergunta.

— Ele me olhou primeiro! Desde que cheguei, não para de me olhar. — Cruzei os braços e tentei me afundar no sofá. Estou surpresa e nervosa. Tenho certeza que Rachel percebeu.

— Acho que ele está apaixonadinho por você! — Ela me cutucou e brincou.

— Eu disse o mesmo para ela! — Stacey se juntou à ela. Estou perdida!

— Oi? Vocês lembram que eu estou noiva? — Será que eu lembro? Virei um pouco o rosto e o olhei, mais uma vez porque sabia que ele estava firme e forte na guerrinha.

— Você lembra? — Stacey me perguntou e Rachel caiu na risada.

— Eu lembro! — Arregalei os olhos e ri, dando um tapinha nos braços das duas. — Ele só é muito bonito.

— Muito mesmo... — Minha garota suspirou e olhou para ele, pela última vez.


Esse ato de Rachel fez os olhos bonitos piscarem para nós e as três, viramos rapidamente para a frente, fingindo prestar atenção no jogo. O que era impossível. Uma risada nervosa tomou conta de mim e contagiou, também, as meninas. Isso foi tão coisa de colegial que é até difícil ter certeza que deixamos a escola, há pelo menos, uns tipo... Dez anos?!

Peter se sentou no chão, ao lado da garota dele e questionou se ela queria saber mais sobre Ryan, o tal dono dos olhos vivos, brilhantes, fascinantes, bonitos e brincalhões de minutos atrás.

Ryan. Que nome interessante. 

Ok, eu preciso parar de pensar nele. 

Decido focar toda a atenção em Pechel e me livrar dessa coisa que acontece em qualquer balada, todos os dias. A diferença é que eu não tenho ido muito à coisas do tipo. Jonathan, meu noivo, não tem mais tempo para isso. 

Estou noiva e eu o amo. Nota mental. 

Dizem que New York pode corromper a vida de uma pessoa, mas eu estou adorando a loucura daqui e ter Rachel por perto me deixa tão protegida e confortável. 

Seria realmente bom se eu pudesse morar por aqui, mas Jonathan diz que vamos ficar bem em New Jersey. Ele sempre sabe o que diz... 

Suspiro, ao tentar me convencer disso e me distraio despedindo da turma, pois já precisamos subir para o apartamento. Minha garota trabalha amanhã e sei que ainda vamos fofocar um pouquinho, antes de dormir. É o que fazemos sempre que dormimos juntas, desde a infância.

Paul libera nossa saída, abrindo a porta para nós, como o extravagante cavalheiro que é. Sinto Ryan olhar cada centímetro do meu corpo quando passamos por ele e minha mandíbula está tensa demais para sequer despedir, então arrisco um sorriso e ele retribui, ainda mantendo o olhar sobre o meu.

É imensa a vontade que tenho de voltar e começar uma conversa com ele e saber o porque dele ter passado as últimas horas me encarando, mas não me arrisco. É uma loucura. Foi algo momentâneo. 

Estou gastando meus pensamentos em algo que nem sei o que realmente foi. Talvez ele só estivesse comentando com os amigos sobre como sou desajeitada demais ou até feia no seu conceito. Os homens são tão cheios de piadinhas.

Afinal, se fosse o contrário, teria falado comigo. Ou não?

Nunca irei saber.

Nunca irei ver esse cara, outra vez.

O cara da sala ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora