Capítulo 18

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Ryan


Nunca pensei que esse dia fosse chegar ou ao menos tão rápido.

Por dois anos guardei esse segredo baixo sete chaves, sem que ninguém pudesse entrar e perturbar o que me sobrava de paz. 

Todo esse segredo, essa dor, essa má experiência estava refletida nos meus olhos, entretanto. O modo em que me fechei e me transformei por algo do qual não cabia ajuda, demonstrava à todos que algo estava errado. Ou até mesmo que alguns justificassem meu comportamento como meu jeito ou em função da introspecção que pode acompanhar e assombrar um fotógrafo, Anna pareceu nunca acreditar nisso.

E, então, aqui estava ela para arrancar todas as minhas confissões.

Será que ela faz a menor ideia de quantas garotas ganharam respostas vagas por eu conseguir me esquivar desta conversa?

Será que ela se dá conta, a mais mínima conta de que havia conseguido se infiltrar no meu maior segredo apenas por ser ela mesma?

Anna seguia com olhos impassíveis sobre mim, tentando absorver o que eu disse. E era apenas a ponta do iceberg. Seus joelhos caíram no chão e seus polegares traçaram meu rosto, tentando secar meus olhos teimosos. Esse dia carregava a certeza de mais de dois anos sem ver minha menininha. Minha Mary, a irmã caçula e a única que tinha. Esse dia marcava uma sensação como se nunca fosse vê-la outra vez.

Aproximei as fotos de nós dois e comecei à reuni-las. Meu ritual na Glam tinha acabado, poderia seguir em casa antes que alguém mais se desse conta do meu segredo e me achasse estranho demais para trabalhar perto de famosos — que também não costumam ser as melhores pessoas e as mais normais do mundo.


— Você não precisa me contar nada. De verdade. — Anna colocou o cabelo liso atrás da orelha, mordendo o lábio com vergonha. — Só quero te levar para casa.

— Pode me perguntar o que quiser. — Minhas pernas resolveram me colocar em pé.

— Não precisamos conversar sobre isso agora. — Rebateu.


A morena me deu um sorriso encorajador quando guardei as fotos na pasta e nos dirigimos em direção ao elevador. Durante o caminho para casa, não houve nenhuma palavra de alguma das partes. Seu rosto parecia tão absorto em pensamentos e tendo perguntas, mas seu auto controle foi admirável.

Ela decidiu entrar comigo em meu apartamento e fazer um chá para mim, na minha própria cozinha enquanto optei por um banho. Estava próxima ao balcão de madeira quando retornei.


— Fiz algo para você tomar antes de descansar ou chorar mais um pouco. Vai te fazer bem. — Olhou em volta. — Tive que usar sua cozinha... E seu chá.

— Percebi. — Arrisquei um sorriso, mas meu rosto parecia pesado. — Hora das perguntas.

— Eu só... — Suspirou, como se tivesse sido vencida pela curiosidade. — Achei tão parecida com Seline.

— Eu sei e como sei. Quando vi Seline precisava continuar olhando para ela.

— Olhando? Tem certeza? — Me atacou.

— Em minha defesa, ela causou todo o resto. Só queria poder... Olhar algo como Mary outra vez.

— Não é saudável, Ryan.

O cara da sala ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora