Capítulo 22

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O táxi pareceu ir com uma velocidade que eu poderia agradecer. O taxista estava com tanta pressa sem mesmo saber o que aquele momento significava para nós. Para ele. Se Ryan pudesse, dirigiria em seu lugar à caminho da Glam. Podia sentir seu coração palpitando insistentemente quando ele apertou minha mão.

Não podia fazer nada à não ser torcer para que, dessa vez, fosse real.

Tinha que ser real.

As luzes do edifício estavam parcialmente apagadas e as portas fechadas. Era assim que ficava, durante os últimos dias, porque Roger sempre queria que alguém estivesse ali, pronto para atender qualquer chamada, mas ao ver aquilo Ryan ficou confuso.


— Nos chamaram aqui à toa? — Bateu a mão no vidro depois de tentar abrir a porta. — Está fechado!

— Ryan, Ryan! — Coloquei a mão sobre a sua sobre a maçaneta e empurrei a porta mais uma vez, nos dando passagem para dentro. — Você só estava tentando abrir do lado errado.

— Meu Deus, estou tão... — Disse, sem terminar enquanto apertava o botão do elevador incansavelmente.

— Eu sei. Está tudo bem. — Toquei suas costas à fim de acalmá-lo, mas era em vão.


Quanto mais ficávamos próximos do nosso andar, sentia que tudo isso era mesmo real. Nunca vi Ryan daquela forma e isso deveria ser porque ele sentia. Alguém encontrou sua irmã.

Seus pés quase flutuaram no chão à medida que ele caminhava. Roger nos esperava no lugar que ficava a minha mesa e dois oficiais estavam ao seu redor, com um fax em mãos.


— Estou aqui. O que vocês têm à dizer? Encontraram minha irmã? — Ryan estava sem fôlego e apoiou uma mão sobre a mesa.

— Precisamos que você se acalme, agora. — Roger levantou as mãos. — Houve uma ligação, há quase duas horas e as recomendações anônimas condizem com a nossa história.

— Vocês demoraram duas horas para me ligar? — Levantou a voz, irritado.  

— É o procedimento padrão. — Respondeu o policial. — Precisamos conferir antes de repassar aos familiares uma noticia tão importante. Seu caso teve o reconhecimento da mídia e isso te coloca em contato com milhares de civis, nem todos com boas intenções.

— E o que vocês conseguiram? — Perguntei, olhando Roger e o policial. — O que disse a pessoa que ligou?

— A ligação foi de uma senhora de origem latina, dizendo que seu neto viu na Internet toda a repercussão sobre o caso e informou o número que ela deveria ligar, pois ela conhece uma moça idêntica à Mary que chegou ao bairro há algum tempo, sem familiares. Sua irmã não sendo latina não passa desapercebida em lugares assim. — Olhou diretamente para Ryan. — Em todo caso, há alguns pontos que confirmar, porque apesar de ter dado várias descrições, podem divergir da sua irmã, como, por exemplo, ser uma moça de cabelos castanhos e se chamar María.

— María? — Ryan me olhou com estranheza. — Cabelo castanho?

— Vale lembrar que se passaram anos desde sua ultima comunicação com a sua irmã e mudanças acontecem, especialmente em casos de desaparecimento. A cronologia bate com a história da sua irmã, então é essencial conferir. — Prosseguiu um dos policiais.

— Que seja, eu mesmo confiro. — Ryan puxou um post-it e uma caneta da minha mesa. — Qual o endereço?

— Não é apropriado que o senhor vá sem a confirmação, sr. Wentz. Amanhã, pela manhã, teremos uma resposta definitiva e a levaremos até a delegacia para o reconhecimento.

O cara da sala ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora