"Uma verdade pode se esconder atrás de um homem e torná-lo um guardião do segredo do mundo."
Há uma parte de Mobby que desenvolve a capacidade de lidar com as mais extremas situações. Ela se recusava a acreditar que tinha perdido a mãe e mais ainda, que tinha perdido a ingenuidade de uma criança. A pouca idade que tinha agora era somente um número. Tinha passado por conflitos demais para manter a cabeça pregando uma estúpida inocência que agora de nada valia. Uma desconfiança moldava-se em sua mente como uma argila feita a base de nervos, moderando seus pensamentos que divagavam sobre os recortes.
O caso dos Shawton ainda batucava em sua cabeça como uma marreta surrando uma estaca em solo firme. E o que aqueles recortes estariam fazendo em um quarto na Caverna? Tão bem escondidos que duvidaria que alguém os achasse se não tivesse bisbilhotando como ela.
Encontrou Dom na varanda da casa de Eric Marbow. Refletiu sobre contar a verdade para ele, que o tio de Leda era o xerife que tomara conta do caso dos Shawton. Mas para isso teria que mostrar os recortes que encontrara. Não tinha saída.
- Meus pulsos, - ele estendeu o braço a frente e a sombra se alongou na madeira. - as cordas os prenderam com firmeza.
E realmente havia uma marca ao redor deles, onde a pele ganhava cor avermelhada.
- Ah, oi, lindinha. - disse Dom quando viu Mobby vindo pela direita e tocando seu pulso com os dedos pequeninos. - Estou impressionado com a gentileza de Leda. Quer dizer, até pouco tempo ela tinha péssimas relações com muitos na Caverna, e agora, sabe... mudou! Ela me explicou tudo. Agora entendo que ela não queria verdadeiramente rasgar minha garganta com aquela faca. - ele tocou no pomo de Adão e se arrepiou só de voltar a cena na cabeça.
- Dom... - a voz mansa de Mobby não impediu o falatório dele.
- Oh, espero que todos fiquem bem na Caverna. Pelo menos, por enquanto. Tenho de pensar em algo. Fazer com que todos eles escapem de lá, sem riscos ou sacrifícios.
- Dom...
- Nunca imaginei enfrentar alguém como Jud Primoth. Eu tive uma visão na sela, e então... quando despertei estava no quarto da tia Wendy, quer dizer... não era bem mais o quarto dela. Estava... não sei... bem diferente! Quase não percebi que era o mesmo lugar...
- Dom!
Ele virou o rosto e se deparou com os olhos azulados e aflitos de Mobby.
- Oh, lindinha. Desculpe. Mas é que estou tão... extasiado com tudo, que... fale! Sou todo ouvidos!
Lá dentro da casa tio e sobrinha riam. Mobby retirou os recortes do bolso do vestido, entregando-os a Dom.
* * *
"SEM CORPO, SEM RASTROS
O corpo da filha mais velha de Anna e George Shawton não foi encontrado na cena do crime. Peritos confirmaram a morte do casal e dos dois filhos gêmeos. A polícia local investiga o parecer de Samantha Shawton, p...t...er.........ado (parte borrada do jornal. Ilegível)"
- Eu lembro de ter lido isso na época. - todos se reuniam na sala de estar. Eric Marbow segurava o recorte na mão, enquanto Dom e Mobby concordavam em ter feito a coisa certa. - Eu... não sei se devo retornar meus pensamentos a isso... ainda tento esquecer tudo o que ocorreu durante todos aqueles anos.
- O senhor cuidou desse caso por nove anos? - perguntou Leda, tão curiosa quanto Mobby e Dom.
Eric Marbow esticou o braço e pegou outro recorte de jornal sobre a mesa de centro. Seus olhos cintilaram de alguma forma. Mobby notou que ele segurava uma fotografia menor da família Shawton. Eles estavam do lado de fora da casa. O pai partia um toco de lenha com o machado, a mãe tinha o bebê no colo, um sorrindo para o outro. Sentados na grama os gêmeos separavam sabugos de milho em um saco grande. Todos notaram quando Eric mostrou, a outra filha sentada a um canto da árvore plantada na lateral da casa. Inexpressiva.
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Olhos Trágicos
ParanormalEm uma pequena cidade de nome Little Joanesburg não é comum se ver comentar muito sobre catástrofes ou problemas sociais. Com uma bela igreja no centro da cidade, lojas de utensílios maquinais e diversidades sendo frequentadas todos os dias, uma pr...