28. A paciente do Clarence Midowt

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"Os céus se abrem em voluptuosas nuvens brancas. Ela nos engolirá. Sim, elas o farão."

[2 semanas depois...]

O costume o permitiu guardar a PT100- Taurus no armário assim que chegou em casa. Tinha sido mais um dia árduo de trabalho na sala de inspeções criminais e jurídicas da Delegacia de Little Joanesburg. Kyler precisava chegar em casa e ter certeza que os jasmins que enviara pela manhã a Barbara teriam um belo efeito sobre o relacionamento. Queria ouvir uma resposta ao pedido de perdão que durava pelo menos quatorze dias desde a última briga séria que tiveram.

- Tenho certeza que ela o perdoará. - disse Mobby, entrando junto a Kyler na sala de estar do inspetor. - Mamãe adorava flores. Carmélias, de preferência.

- Oh, muito obrigado, espertinha. - Kyler inclinou-se de modo a encarar Mobby a sua altura. Os olhos azuis inocentemente felizes. - Talvez tivesse me dito isso antes de eu comprar jasmins. Agora é tarde demais!

- Acredite... - ela o fez prestar bastante atenção. - ela irá perdoá-lo não pelas flores, mas pela pessoa que é.

Kyler deu um beijo no alto da testa de Mobby e agradeceu. Ela nunca tinha entrado na casa do inspetor antes, mas já tinha visto algumas fotos de Barbara. Fora há dois dias quando Kyler, desapontado pela falta de sensibilidade da mulher ao evitar falar com ele, se abriu para Mobby e Dom. E o quanto se sentia abalado pelo filho, que com toda certeza sentia pelo afastamento dos pais.

Mobby notou um garoto, não mais alto do que ela, cruzar o corredor da cozinha em direção à sala. Os cabelos bagunçados e um pijama unicolor.

- Jake... - Kyler o tomou nos braços e por um minuto o menino pareceu incomodado com a situação. - Ainda não foi para a cama?

O inspetor percebeu a falta de compostura do garoto frente a Mobby, então o pôs de imediato ao chão.

- Oh, Mobby, este é o meu filho, Jacob. - Kyler apontou para o menino que tinha a mesma idade de Mobby, ou talvez um ano a mais. - Ele também está me dando um belo de um apoio com essa situação.

E como duas crianças, apenas sorriram um para o outro, deixando fluir a inocência pelo ambiente, sem troca de olhares ou qualquer palavra que pudesse submeter a uma descompostura.

Quando, enfim, uma mulher surgiu do andar de cima, vestida com o mais belo conjunto de blusa estampada e saia que Mobby já havia visto em alguém, Kyler pareceu esquecer as indiferenças. Ele apertava uma pequena caixa no bolso direito, criando coragem para retirá-la no momento certo.

Jacob, sem perceber foi para o lado de Mobby, então os dois assistiram a cena como dois telespectadores assíduos por uma reconciliação.

- Barbara... - a palavra soou calma e carinhosa.

Então quando a mulher levou um sorriso ao rosto ao se aproximar dele, Mobby tinha certeza que tudo estava resolvido. A noite se vangloriou quando ele mostrou o anel brilhante dentro da caixinha e fez o pedido. Nesse momento uma vozinha a tirou a concentração no casal:

- Papai falou muito de você... - Jacob estava contente. E isso o permitiu falar no momento mais propício. - Ele me contou sobre... o seu...

- Dom. - concluiu Mobby.

Ele balançou a cabeça, enquanto Kyler tinha a ideia de levar a todos para jantarem no PLAZA'S RESTAURANT.

* * *

Embora fosse bastante conturbada a trajetória de justiça, a primeira semana foi onde tudo ocorreu. A Caverna tinha retornado ao comando de Zalete, tudo havia se reorganizado da melhor maneira possível, por mais que fosse duro aceitar que velhos amigos houvessem partido de uma maneira trágica em uma chacina. Todos os mortos, inclusive Alesh Alliot, foram enterrados no Cemitério a norte de Little Joanesburg. Os membros do exército de Jud Primoth estavam presos e pela primeira vez a paz dava o ar da graça. Jud passara de detenta a paciente de um sanatório em dois dias em virtude de comportamentos incoerentes com a racionalidade na própria cela.

O Clarence Midowt tinha sido instalado nas proximidade de Lavern durante a década de 40, para cuidar de pacientes vítimas de traumas. Era um hospital psiquiátrico que abrangia os mais seletos modos de tratamento ao paciente, tratando apenas dos traumas mais problemáticos, em seguida passando a doenças psíquicas e depois a pacientes mais graves. O código de conduta estabelecia regras próprias em Clarence Midowt Sanatório, de modo que para cada paciente havia uma tabela regular de gravidade do problema psíquico. A escala de um a doze apontava de um problema pessoal mais tranquilo de resolução a um problema extremo de perigo social. Jud tinha se encaixado na escala onze.

- As divagações da paciente estão cada vez mais profundas. - disse a psiquiatra Evelyn Royce a um dos enfermeiros. - É um fator grave e recomendo que continuem com a medicação por duas vezes ao dia.

- O comportamento da paciente é bastante agressivo, doutora. - revelou o enfermeiro, tendo entrado em contato com Jud todos os dias. - Da última vez três dos nossos tiveram que ter força o suficiente para que ela tomasse os medicamentos. Ela... tem uma comunicação particular com Deus, que pessoalmente nunca vi igual... talvez tenha percebido... os cortes...

- Oh, sim! Nos ombros e braços... - a psiquiatra engoliu em seco, espantada com o comentário do enfermeiro, lembrando do que tinha visto dentro da sala. - Ela cortou-se com algo pontiagudo que esteja longe do alcance de qualquer profissional daqui. Você sabe qual?

- Não. Quando entramos no quarto havia sangue por todos os lados, os cortes estavam bem a mostra. Talvez mais de trinta deles... e pegadas de sangue marcavam o chão. Não sabemos com o que ela conseguiu fazer isso.

- É necessário uma averiguação mais reforçada por parte da monitoria. Tentem descobrir o que seria, para que eu prossiga meu trabalho com os métodos corretos. - Evelyn tinha um olhar duro ao enfermeiro, era como se estivesse em meio a um mundo surreal onde ela era a última solução. - A paciente foi calma em suas respostas quando a interroguei. E acredite, só os psicopatas conseguem fazer isso. Minha profissão me mostrou isso!

- Talvez tenha razão... - concordou o enfermeiro. - Todos os dias, antes de colocar os pés nesse quarto, tenho certa angústia.

- Angústia? - a psiquiatra franziu a testa. - É... eu senti o mesmo... mas temos que fazer o nosso trabalho, não é mesmo? Até logo, Jon!

Enquanto a mulher se afastava, virando o corredor à direita do sanatório, e Jon entrava na sala de avaliações, Jud em seu quarto conversava...

- Mais uma? - soltou uma risada. - Mais uma? Tudo bem... - outra risada, mais potente.

Ela vestia uma bata de paciente. A peça íntima estava jogada ao canto. Jud Primoth abriu as pernas, levando os dois dedos para a pélvis. Os dedos se enfiaram na vagina e ela revirou os olhos, dando outra risada. Então, puxando devagar, a cruz-pingente começou a sair do interior.

- Mais uma? Tudo bem... - risada. - tudo bem, tudo bem, tudo bem...

Gargalhada.

E levando o pingente, ainda com um leve traço de sangue, ao peito, ela rasgou a pele em formato de cruz.

Jogou-se ao chão. E riu. Até perder o fôlego.



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