É preciso continuar

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Depois do velório, Marco levou Zé Augusto pra casa, Zé Augusto preferiu não ir no enterro, apesar de Marco insistir, ele quis ficar com Elisabete. O menino chegou e foi correndo procurar por tia Elisabete, mas Elisabete ainda estava em choque portanto não deu tanta atenção assim. Ele a abraçou e ela correspondeu seu abraço mas não dissera uma só palavra. Marco manteve sua paciência e mesmo sua filha ainda não ter nascido, ele fez o papel de pai de cuidar de Zé Augusto e o colocar para dormir.

Tulipa observava se se agradava com as atitudes de Marco. Paciente, bondoso, cuidadoso. Não reclamava por cuidar de sua esposa, mas fazia com cuidado e sempre procurava amenizar as coisas. Marco estava se esforçando para mudar e estava conseguindo. Ver sua mulher daquele jeito estava o matando por dentro, e ele via isso como um incentivo para a sua própria mudança. Tulipa permitia que ele cuidasse da esposa e de Zé Augusto, não por preguiça, mas porque ele tinha que fazer seu papel de marido.

Depois que Marco colocou Zé Augusto para dormir procurou sua esposa para tentar reanima-la. Ele não estava disposto a desistir, e mesmo que fosse difícil, deveria sempre persistir pois não há felicidade sem lutas. Talvez o Marco de alguns anos atrás não fizesse metade que esse novo Marco faz, e ele se alegrava com isso. Sabia que estava a fazendo feliz, e por mais que ela estivesse calada, os olhos dela mostravam o quanto ela se orgulhava dele. Caminhou até o quarto e bateu na porta, Elisabete não respondeu, mas mesmo assim ele abriu a porta e pediu para entrar, Elisabete balanço a cabeça positivamente, portanto, Marco deu leves passos até a cama e sentou ao seu lado.

_ Meu amor, gostaria de te contar um pouquinho de como foi o velório. Foi horrível. Eu pensei que velório triste era aquele em que as pessoas se jogam em cima do caixão e suplicam para seus entes queridos não partirem, aqueles em que todos choram, mas hoje eu vi que não. Hoje eu vi que velório triste é aquele em que as pessoas se conformam e não se lamentam, em que as pessoas cochicham e dizem que mais cedo ou mais tarde tal pessoa morreria daquela forma. Isso não é só triste, como assustador. Me perdoa te contar essas coisas mas eu precisava desabafar, não com a Tulipa ou com o padre, com a minha mulher que tanto amo. Meu dia foi duro, e seria ruim de qualquer forma, mas se você estivesse ao meu lado, muita coisa mudaria.

Depois de dizer tantas coisas Marco abaixou sua cabeça, e mais uma vez esperou por aquele silencio que tanto o machucava. Mas Elisabete reagiu, e bem suavemente, Marco escutou sua voz novamente.

_ Me perdoa.

Sua voz era tão baixa que Marco mal conseguiu a ouvir, levantou seu rosto rapidamente e encarou, esperou por mais alguma coisa, porque tudo não poderia passar de uma ilusão, já que ele queria tanto a ouvi-la novamente. 

_ Me perdoa por não está com você nesse momento tão difícil. _ Elisabete disse pausadamente e ainda sim com o tom de voz suave.

_ Elisa, você falou. _ Marco a abraçou.

_ Me perdoa. Você esteve comigo todo esse tempo mas eu fui incapaz de estar com você. Me perdoa.

_ Meu amor, não precisa mais pedir perdão. Eu entendo tudo o que está passando e só de ouvir sua voz novamente, são motivos o suficiente para eu ficar feliz.

_ Marco tudo que eu mais queria agora, era acordar e ver que tudo não passou de um pesadelo, mas eu sei que é real, e isso me machuca tanto. Tudo que eu queria era esquecer esse assunto, eu não aguento mais escutar essas coisas. Eu não entendo. _ Uma lágrima caiu. _ Não entendo porque ela tinha que morrer daquela forma, ela não teve a oportunidade de ser feliz, e mesmo que ela tenha nos atormentado tanto, eu não a desejava mal.

Marco não disse uma palavra, mas a abraçou. A abraçou com cuidado para não machucar sua barriga, mas seu abraço passava confiança e segurança para Elisabete, e foi exatamente dessa forma que ela se sentiu, confiante e segura. Ele estava feliz em vê-la chorando, conversando e colocando suas magoas para fora, mas a ver chorar também o entristecia. Depois de um tempo eles tomaram um banho e foram dormir.

O dia amanheceu, e Elisabete acordou com o cantar dos pássaros. Os raios de sol atravessou as gretas das madeiras da janela entrando no quarto. Seus olhos se abriram vagamente, e bem de leve escutava o cantar dos pássaros, e era tudo que ela estava precisando naquele momento tão difícil. Marco já estava acordado quando a viu acordando, e disse que os raios solares e os cantos dos pássaros eram presentes de Deus para ela conseguir se recuperar melhor, ela sorriu e concordou. Depois desses dias de terror, Elisabete decidiu continuar sua vida, até porque havia uma pequena dentro dela esperando o momento certo para sair. Ela levantou, tomou um banho, escovou seus dentes e com todo o prazer penteou seus cabelos. Marco também levantou e fez todo o processo, logo após saíram do quarto e foram fazer seus afazeres, claro que de começo não seria tudo como antes, mas aos poucos continuariam, Marco foi resolver seus problemas e Elisabete foi falar com Tulipa. Quando ela chegou na cozinha Tulipa se assustou pois não esperava por ela. 

_ Dona Elisabete, como é bom ver a senhora andando de novo. Bendito seja Deus. _ Tulipa a abraçou.

_ A vida segue Tulipa. _ Elisabete a abraçou de volta. _ Mas eu quero te pedir uma coisa, vamos deixar esse assunto de lado e seguir nossas vidas, pode ser?

_ Sim Senhora.

_ Tulipa, sabe quanto tempo Marco decidiu deixar a escola fechada?

_ Senhora, ele disse que iria ficar pelo menos essa semana sem aula.

_ Vamos precisar desse tempo para conseguirmos assimilar tudo.

Elisabete teria que assumir uma responsabilidade maior agora que Zé Augusto estava morando em eles. Mesmo não tendo experiências acreditava que seria bom cuidar dele como ele merecia e que se adaptaria bem nesse processo. Portanto, foi fazer seu papel de mãe, foi até o quarto para acorda-lo, e antes disso, ficou olhando para seu rostinho e deu um beijinho em sua bochecha.

_ Zé Augusto, meu amor, acorda.

Ele abriu seus olhos vagamente. 

_ Bom dia, seu preguiçoso, está na hora de acordar. _ Elisabete riu.

Zé Augusto se despreguiçou e sentou na cama.

_ Zé Augusto? _ Elisabete riu novamente.

_ Bom dia tia, é que eu com muita preguiça.

_ Deixa de preguiça garotinho _ Elisabete apertou suas bochechas.

Zé Augusto riu.

_ Que barriga bonita, tia. _ Passou as mãos em sua barriga.

_ Imagine como ela deve ser fofinha. _ Mas vamos levantar! _ Continuou Elisabete

_ Tia, eu vou tomar banho?

_ É claro que sim, seu porquinho. Já sabe tomar banho sozinho?

_ Não sei não, tia.

_ Ah, mas você vai aprender hoje. Você prefere café com leite ou leite com Nescau?

_ Leite com Nescau.

_ Vou pedir Tulipa para preparar. Agora vamos levantar para tomar banho.

Elisabete o levou para o chuveiro e o ensinou a tomar banho sozinho. Depois ele tomou seu café da manhã e foi assistir desenho. Marco e Elisabete decidiram conversar com ele juntos. Eles sabiam que não seria fácil, as Zé Augusto era um menino bastante inteligente e iria entender as coisas. Chegaram na sala, desligaram a TV.

_ Zé Augusto, o tio Marco e eu precisamos falar com você.

_ Pode falar tia.

A partir de hoje, não somos mais seus tios, e sim seus pais. Você está morando com a gente, e se quiser pode continuar até quando estiver bem grandinho. Se você quiser, pode me chamar de mamãe e o Marco de papai. Só se você quiser.

_ Posso te chamar de mamãe? _ Apontou Para Elisabete _ E ele de papai? _ Apontou para Marco.

_ Só se você quiser, meu amor.

_ Oba, oba, oba. _ Disse repetitivamente. _ Agora a tia Elisabete é minha mamãe e o tio Marco meu papai. _ Zé Augusto levantou pulou em cima do sofá para comemorar e os abraçou.

Desde que ele conheceu o casal, se apaixonou e sempre os viu como pais. Diante da situação que vivia em casa, conseguia enxergar a paz em Elisabete e Marco. E para ele, essa notícia era uma das melhores que recebera em toda sua vida.

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A busca por um casamento felizOnde histórias criam vida. Descubra agora