Cap.16 - Jack

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Boatos. Muito e fortíssimos boatos se seguiram sobre Max e eu. As pessoas cochichavam umas paras as outras quando me viam. Mas tirando isso, a matilha estava a mesma coisa de sempre. Todos me ignoravam. Todos inclusive Max.

Eva me disse que não era essa a intenção dele. Ela me contou que ele estava ocupado demais com os problemas das alcatéias, ocupado demais com os ataques dos humanos. Enfim, ocupado demais para me ver. Isso devia ser bom, refleti. Eu não queria vê-lo. E naquela noite que Thom me abordou ele me disse justamente isso. Disse que Max era perigoso e que eu não devia ficar perto dele.

Soltei uma risada áspera. Como se eu já não soubesse. Max era perigoso com aquela boca irresistível como arma. Também era perigoso com aquele corpo músculoso e grande. E era perigoso demais com aquele olhar quente que me despia por inteiro.
Ele era definitivamente perigoso.

- Jack? - minha mãe murmurou do outro lado da mesa. - Tudo bem?

- Estou bem. - resmunguei.

Hoje teria mais uma prova. E era a que eu mais odiava e temia. Combate corpo á corpo. Essa prova nasceu para ferrar totalmente com a minha vida. Eu não sabia nada sobre técnicas de lutas. Nada mesmo. Algo me dizia que eu não abriria o olho tão cedo dependendo de com quem lutasse. Depois do café da manhã me juntei a Shepley que me prometeu mostrar alguns socos e chutes. Nós estávamos na parte de trás de Badwyn Hall, ali havia um grande e vazio jardim onde Shepy sempre treinava todas as manhãs. Ele me ensinou tudo com impaciência e quase sempre se zangava quando eu fazia algo errado.

- Você está agindo como o nosso pai. - me escutei dizendo, enquanto lançava um Jab.

- Obrigado.

- Não foi um elogio. - desviei de um soco seu, e lancei um cruzado porém meu punho passou longe de seu rosto.

- Você não controla seus membros? - disse ele, irritado. - domine seus músculos, Jack.

- Estou dominado. Estou dominando. - Repeti pela milésima vez. - Não grite! Não sou surdo.

- Você não me escuta! - brandou ele. - Veja... faça assim e assim...

Shepley me mostrou uma série de socos e chutes mas eu aprendia apenas a metade.

- Todos lutam justo? - comecei. - posso muito bem dar um chute entre as pernas e pronto.

- Está louco? - fez uma careta de reprovação. - os Badwyn não lutam covardemente desse jeito.

- E o que tem? - ergui os ombros. - É um modo mais fácil de...

- Não, Jackson.

Depois disso eu me mostrei surdo e impenetrável por seus comentários irritados. Tentei aprender o máximo possivel, absorver tudo e mais um pouco, mas então meu pai surgiu e disse que já estava na hora. Sim, já estava na hora... na hora de minha morte! Todos só podiam estar loucos. Eu, Jackson Badwyn, não havia nascido para violência, não importa o que digam todos. Violência é uma estúpida válvula de escape. Uma tremenda e ridícula demonstração de poder.

Quando enfim cheguei em um pequeno espaço elaborado notei que várias pessoas se acumulavam unidos sentandos em tronco de árvores. Observei minha mãe por debaixo dos cílios e como se sentisse meu olhar, ela deslocou os olhos para mim e sorriu. Me esforcei para não lançar um careta de desgosto e desviei o olhar. Como ela pode sorrir em meio a esse caos? Ela não tem nenhuma noção de que minha vida pode estar por um fio? Certo, Jack, se acalme. Nervosismo não dá em nada.

Nesse momento Shepley passou por mim com Rick e Thom em suas costas. Meu irmão se virou e inclinou a cabeça, enquanto Rick me lançava um olhar tórrido de desdém e Thom... bom, eu não sabia e nem queria decifrar o olhar dele.

Lua Cheia (Romance Gay) - Crônicas Lunares Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora