Namastê

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Em uma área remota na China havia um monastério. Vários candidatos a monge chegavam todos os anos em busca de uma oportunidade para aprender os segredos milenares de uma tradição religiosa preservada pelos mestres de lá.

Como não havia espaço para alojar todos os candidatos, era feita uma seleção de quem poderia entrar para o monastério. No dia da escolha, o monge mais antigo do monastério foi falar com os candidatos que estavam reunidos no pátio.

— Bem-vindos. Obrigado a todos pelo interesse e pela boa vontade de estarem aqui. Gostaríamos de abrigar a todos, mas como os recursos são limitados, começaremos hoje mesmo nossa seleção.

A euforia era grande, e todos ouviam atentamente as palavras do monge.

— Mas tenho um aviso a fazer. Esse ano temos somente uma vaga sobrando em nosso alojamento. Então de todos vocês, apenas um será escolhido para ser nosso discípulo.

A decepção foi grande, e os candidatos que estavam sorridentes agora estavam com a boca aberta sem ter o que falar. E o monge continuou:

— A tarefa que dou a vocês é: prestem uma homenagem à divindade! Estão livres para fazer como quiserem. Observaremos todos e no final do dia avaliaremos quem está apto a entrar para nossa casa.

Os candidatos se apressaram e começaram a fazer algo para impressionar. Muitos assumiram postura de meditação ali mesmo, e mantras ecoaram pelo ambiente. Outros correram e se postaram em frente a estátuas de divindades, e ali ficaram, em postura de reverência, sem pronunciar uma única palavra. Mas houve um sujeito que saiu caminhando, indo em direção ao vilarejo, e simplesmente sumiu de vista.

Quando a noite chegou, o monge que dera as instruções voltou ao pátio, e os candidatos se reuniram novamente, incluindo o rapaz que fora para a aldeia. E então o monge se pronunciou:

— Todos foram dignos e fizeram um ótimo trabalho, muitos de vocês eu vi que nem mesmo pararam para comer. É impressionante a devoção de vocês e agradeço a presença de todos. E agora já escolhemos quem entrará para nossa casa.

O monge andou entre os candidatos e, para a surpresa de todos, parou em frente ao rapaz que havia saído para a aldeia. Lhe dirigiu a palavra com um gesto de reverência:

— Bem-vindo ao nosso monastério. Pode entrar e levar suas coisas para dentro. Lhe mostraremos onde dormirá a partir de agora.

A revolta foi grande, e um dos candidatos protestou:

— Como pode escolher alguém que nem ao menos ficou aqui? Não ficou nem um minuto orando e reverenciando a divindade!

O monge sentiu que devia explicações e falou:

— Durante a tarde, fui ao vilarejo buscar comida com alguns amigos lavradores e durante a minha passagem vi o rapaz que escolhemos. Ele estava conversando com as pessoas, parecia muito interessado na vida de todos que moram ali, e sua curiosidade pelos outros se mostrava autêntica. E por isso o escolhemos.

Um outro candidato não entendeu e perguntou:

— Mas não deveríamos reverenciar a divindade?

O monge respondeu:

— Sim. E assim ele fez. A divindade não é reverenciada apenas com mantras e orações. Se quisermos entrar em contato com a divindade, devemos olhar para o próximo, pois o divino mora dentro de cada um de nós. Por que dirigir a mente somente para o céu, se temos a divindade bem aqui do nosso lado, nas pessoas? O homem que tem curiosidade em conhecer o outro, que dá atenção para o outro, está reverenciando o divino. É como diz a antiga saudação: namastê! O deus que mora em mim, saúda o deus que mora em você.

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