O encontro com a Morte

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Lá estava Carlos em sua cama a noite, esperando o sono chegar. Mas quem chegou não foi o sono, mas a Morte que apareceu para levá-lo. O que ele não esperava era que ela se mostrasse tão doce.

Uma bela dama de cabelos negros com um vestido longo e olhos cobertos por um véu negro entrou suavemente no quarto. Tinha um corpo esguio e era linda, apesar de não expressar emoção alguma em sua face. Seus movimentos eram sutis e precisos.

Carlos ficou tão assustado com a aparição que pensou ser um sonho, mas não era. E então perguntou:

— Quem é você e o que faz aqui? Assombração!

— Boa noite, Carlos. Eu sou a Morte.

— Meu Deus! Você é a morte? Por que veio agora? Não é possível! Sou tão novo, não fiz quase nada na vida... Mas... Espere um pouco! A morte é uma mulher bonita?

O jovem estava perturbado. Pensou em correr, em fugir, mas não conseguia mover suas pernas.

— O que esperava? Uma velha? Um esqueleto ambulante? Ou um vulto branco e deformado? A morte é tão bela quanto a vida, e tão encantadora quanto o pôr do sol. É uma pena que a maioria das pessoas demore a reconhecer a minha beleza.

Ainda não acreditando no que estava vendo, Carlos começou a surtar.

— Não! NÃO! Não posso morrer agora! Ainda não terminei meu trabalh! Ainda não me casei e nem tive filhos! Viajei tão pouco e não conheço nada do mundo! Ainda não sou feliz como queria ser. Não me leve, por favor!

A morte não demonstrava emoção, piedade ou dó do homem. Afinal, ela sabe muito bem da história dele, e de todos nós. Ela não precisa de piedade, pois ela sabe da importância de sua função e da verdade que existe no fim de cada ciclo. E então ela falou:

— Esse é o preço que se paga por ter vendido o seu tempo. Todos tem o tempo que precisam para serem felizes e realizarem seus sonhos, mas poucos sabem aproveitá-lo. Você não realizou seus sonhos por que não quis. Você teve medo e se deixou levar. Foi escravo da vontade dos outros e apenas trabalhou para enriquecê-los. Enquanto suas aspirações foram jogadas no lixo.

Carlos ainda apavorado começou a suplicar:

— Me perdoe! Me dê mais uma chance! Por favor! Eu juro que farei o que você quiser. Qual é o seu preço? Me diga!

— Você acha que pode subornar a morte? Eu não sou como vocês, humanos gananciosos que vendem a vida por dinheiro, status e um falso poder na sociedade. Esqueça! Agora não há mais tempo. Você irá para uma nova realidade em um novo lugar. Te levarei até lá. Você querendo ou não.

— Me desculpe... Tudo bem, eu vou. Mas me diga. O que fiz errado? Eu só fiz o que as pessoas esperam de um bom homem. Trabalhei, dei duro e fui honesto. O que mais poderia ter feito?

A Morte olhou-o nos olhos e disse:

— Você não agiu para si mesmo e para seus sonhos. Agiu apenas para os outros. Esse foi o seu erro. E por isso desperdiçou uma vida que poderia ter sido muito mais bem aproveitada. Agora não espere por uma próxima vez. O tempo que você vendeu ontem, não voltará mais amanhã.

A escuridão tomou conta do quarto. No dia seguinte, o patrão de Carlos estranhou a ausência dele e mandou alguns criados buscarem ele em sua casa. Quando eles chegaram, ninguém abriu a porta. Um corpo morto esperava no andar de cima. Ele não poderia mais vender o seu tempo para um trabalho que consumiu toda a sua vida. E também não poderia mais realizar os sonhos que deixou para trás.

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