Natalie era uma adolescente problemática. Ela não ia bem na escola, não se dava bem com a sua família e parecia não se importar com a vida padrão que as pessoas levam. Quando sua mãe perguntava o porquê de tanta rebeldia, ela falava:
— Não acho que posso ter sucesso na vida. Olhe para onde estamos, mãe. Nascemos pobres e não me parece que o mundo tem muitas oportunidades para quem nasce desfavorecido na vida.
A mãe da garota não sabia como mostrar que a vida valia a pena ser vivida.
A única coisa que conseguia fazer Natalie aproveitar o momento e ter prazer era o balé. Ela fazia aulas desde pequena e via aquilo como uma boa diversão e descontração da violência das ruas do bairro em que morava. Ela apenas dançava sem parar, sem se preocupar, e naquele instante nada mais existia.
A mãe de Natalie percebeu que era na hora das aulas de dança que a filha se empolgava, então resolveu falar com a sua professora. Amélia era uma mulher de meia idade que dedicou sua vida a arte dos movimentos corporais. Ela fora reconhecida como uma das melhores dançarinas de sua geração e depois de anos se apresentando pelo mundo decidiu ensinar tudo o que sabia para crianças carentes de sua cidade natal.
Quando a professora ouviu o pedido da mãe da garota, ela concordou em conversar com ela.
— Oi, Natalie! Esteve ótima na aula hoje. Está ficando cada vez melhor!
— Obrigada, professora! Nada como fazer o que gosta, não é mesmo?
— Pois é... Mas preciso conversar contigo sobre outras coisas. Sua mãe anda preocupada. Disse que você não dá mais valor ao que tem e não se anima com muita frequência. Tem algo que te incomoda, Natalie?
A garota deu um suspiro, olhou para baixo e desabafou:
— Professora, você dançou no mundo todo e teve uma vida rica, mas eu não sou como você. Eu nasci e moro em um bairro pobre, não tenho esperanças de ter um futuro bom. Não me dou bem na escola e não gosto da ideia de ter que trabalhar como empregada como minha mãe faz. Por que a vida tem que ser tão dura?
Amélia sorriu. Sorriu porque sabia que são nos momentos difíceis que aprendemos a valorizar o que mais temos de importante.
— Natalie, como você se sente quando dança?
— Eu me sinto como se nada mais em volta existisse. Eu amo dançar!
— E quando você está dançando você fica pensando em quando a música irá acabar?
— De jeito nenhum, professora! Se eu me preocupar com isso eu não conseguiria aproveitar o momento, o movimento, e cada passo que dou.
— Pois bem. Assim também é a vida. Se nós ficarmos pensando se vamos ter sucesso ou riqueza no futuro, não conseguimos parar para aproveitar o momento que estamos passando e acabamos perdendo o que mais nos importa e o que mais amamos. Então deixe de se preocupar com o futuro pois ele é incerto. Apenas aproveite a vida. Curta cada momento como se fosse uma dança e assim você preceberá os prazeres que está deixando de lado e que podem te fazer feliz e aceitar que a vida é beleza e arte, assim como o balé.
Depois desse dia, Natalie entendeu o que sua professora quis dizer. Não importa onde nascemos ou se passamos por dificuldades. O que importa é perceber que cada momento da vida é único e maravilhoso e vale a pena ser vivido. Então ela aproveitou cada passo de sua vida como um momento único, e nunca mais se importou como acabaria, e sim aproveitou cada instante, porque a beleza e o prazer da dança não estão em seu fim, mas sim enquanto ela dura.
E o melhor de tudo, foi que depois de ela começar a aproveitar a vida como uma dança, a vida sorriu de volta para ela. Anos se passaram e a garota ficou conhecida como uma das mais talentosas dançarinas de balé do seu país. E quando a dançarina encontra a sua dança dentro de si mesma, ela encontra a felicidade. E Natalie dançou feliz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Em busca da essência
SpiritualUma compilação de 30 histórias curtas, em formato de parábolas, que trazem reflexões sobre a vida e sobre a espiritualidade, independente de qual religião você siga.