Vivendo um sonho

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"A vida é curta se passarmos todo o nosso tempo de forma automática e sem buscar nossos sonhos. Mas se ela for vivida com amor, ela será intensa e eterna."

Século XXI. O nosso mundo teve uma evolução tecnológica incrível nas últimas décadas. A ciência melhorou nossas vidas em tudo, mas algumas coisas parecem não estarem tão boas quanto os comerciais da televisão nos dizem.

Lilian é uma mulher que mora em uma grande cidade. Ela estudou durante toda a sua juventude para finalmente ter uma carreira profissional e conseguir casar com um homem de boa aparência e com algum dinheiro. Ensinaram a ela que era assim que a vida tinha que ser. Ela acordava cedo todos os dias e passava uma boa parte do seu tempo para chegar ao trabalho. Ruas lotadas, muito barulho e uma paisagem cinza como uma prisão.

Ao chegar ao trabalho, ela seguia uma rotina e fazia algumas coisas que ela gostava e outras que não sonharia nem de longe fazer, mas, mesmo assim, fazia. Ela conversava com algumas pessoas que gostava, mas fingia ser educada com outras que nunca quis chegar perto.

A vida de Lilian é comum como muitas outras vidas de pessoas que escolheram viver a rotina das grandes cidades. Até que um dia algo mudou. Em um exame de rotina seu médico teve que lhe dar uma notícia:

— Como vai, Lilian?

— Muito bem, doutor. Meio estressada como sempre. Mas é normal não é mesmo?

— Tudo bem... Preciso falar sobre os seus exames.

Ela olhou para o médico enquanto cruzava bem forte os braços. Nunca imaginara que fosse ter problemas de saúde, afinal, ela não bebia, não fumava e se alimentava bem. Ouviu o que o médico tinha a dizer. E foi um choque quando descobriu que estava com uma doença rara e, caso passasse por um intenso tratamento, poderia ter a chance de viver por mais alguns meses, talvez até um ano.

— Como isso pode estar acontecendo, doutor? – Lilian falava quase sem força na voz — Uma mulher nova como eu ter uma doença como essas. Não acredito!

O médico passou todas as informações necessárias para ela tomar as decisões que precisava e passar pelo tratamento. Chegando em casa, ela contou ao marido o que estava por vir. Ambos choraram e se sentiam muito mal por pensar que tudo o que tinham passado juntos ia terminar de forma inesperada.

Algumas horas se passaram e após muito refletir sobre o inevitável, Juliano, seu marido, sentiu que precisava falar sem falsas esperanças para tomarem uma decisão:

— Amor, você acha que passar os seus últimos meses de vida presa em um quarto de hospital fará sua vida terminar bem?

Com lágrimas nos olhos ela respondeu:

— Não acho. Se eu vou partir desse mundo, eu não quero que seja assim.

— Então sei o que devemos fazer. — Respondeu Juliano — Vamos largar tudo o que nunca deveríamos ter perdido tempo e vamos aproveitar cada minuto que nos resta juntos. Vamos ser felizes e, quando tudo acabar, o que ficará na lembrança serão esses bons momentos.

Os dois sabiam que era a melhor decisão a tomar. Por que gastar os últimos momentos da vida sofrendo? Eles pegaram papel e caneta. Começaram a anotar todas as atividades que faziam em suas rotinas diárias. Após listar tudo, Juliano tomou a iniciativa:

— Vamos riscar da lista tudo o que fazemos hoje e que não gostamos e que não queremos mais perder tempo com isso. Não precisamos mais fazer o que não queremos e nem o que não nos beneficia em nada. Não importa mais.

Eles foram riscando item a item. Trabalho, reuniões, encontros com pessoas que não gostavam, alguns passatempos sem sentido, passar horas no trânsito, comprar coisas que não precisavam, entre outros itens, quase tudo foi riscado.

Quando terminaram de riscar, sobraram poucos itens. Passar tempo com quem se ama, viajar, fazer amor, conhecer novas culturas, conversar com os amigos, visitar a família. Eles sabiam o que tinham que fazer para aproveitar cada momento que lhe restavam juntos.

As semanas seguintes foram turbulentas. Venderam o apartamento, o carro, pediram demissão de seus empregos e, com todo o dinheiro que sobrou, embarcaram em uma viagem que sempre sonharam em fazer, mas nunca tiveram coragem. Iriam enfim conhecer o mundo!

A cada lugar que passavam se maravilharam com as belezas de cada cultura que descobriam. Conheceram pessoas maravilhosas no caminho e também encontraram muitos amigos e parentes que moravam longe. Cada momento que tiveram foi como eles tinham planejado naquela noite que receberam aquela notícia. Foram momentos mágicos!

Os meses foram passando e a doença de Lilian começou a se mostrar cada vez mais grave. Em uma tarde cinzenta de Outubro ela estava pronta para dar os seus últimos suspiros. Deitada em uma cama, em um lugar onde se podia ouvir o barulho do mar, ela disse as últimas palavras ao seu marido:

— Obrigado por tudo, amor. Esses foram os melhores dias da minha vida. Eu te amo e sempre te amarei. E agora só lhe peço um último pedido.

— Pode falar... Farei qualquer coisa. — Ele respondia com lágrimas nos olhos.

— Passe uma mensagem a todos que conhecemos e a todos que quiserem ouvir. Diga para eles não desperdiçarem suas vidas por causa de dinheiro ou trabalho. Diga para passarem mais tempo com as pessoas que amam e para se aventurarem a fazer o que sonham. Diga para que não esperem uma doença como a minha aparecer para mudarem de atitude. O mundo foi feito para sermos felizes. Então não vamos esperar a morte chegar para mudarmos. Todos podem fazer muito mais e ser muito mais enquanto ainda é tempo.

Eles se olharam e deram um último beijo. E, quando Lilian fechou os olhos pela última vez, Juliano falou bem baixinho em seu ouvido:

— Eu prometo. A nossa história vai inspirar muitas pessoas um dia. Por amor.

Em busca da essênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora