Rafael e Liliane eram um casal que estavam juntos há dois anos. Eles moravam em uma grande cidade e dedicavam suas vidas trabalhando em grandes empresas.
O tempo foi passando e os dias dentro de escritórios ficavam cada vez mais cansativos e monótonos. Graças a essa falta de aventura no cotidiano, eles decidiram tirar férias e viajar para alguma cidade distante, para descansar e conhecer uma nova cultura. Depois de muita pesquisa, decidiram ir para uma cidade litorânea no norte do país.
Arrumaram as malas, se despediram da família e amigos e partiram. Chegando à cidade, eles se hospedaram em um simples chalé que ficava em meio a um vilarejo de pescadores. Eles podiam ver o mar e relaxar observando o voo das gaivotas.
Os dias foram passando e eles se divertiram muito até que a viagem estava chegando ao fim. Só de lembrar de ter que voltar para o trabalho na empresa Rafael se sentia mal e Liliane não sentia vontade alguma de voltar. Foi nesses dias que eles começaram a se questionar porque trabalhar era algo tão penoso. E foi pensando nessa questão que eles repararam como os pescadores e as outras pessoas daquele lugar trabalhavam felizes e sem preocupações. Como isso era possível?
No último dia de estadia na cidade eles foram conversar com um dos pescadores que havia pescado muitos dos peixes que eles haviam comido. Esse homem nunca tinha pedido sequer uma gorjeta, e parecia não se importar em ter que trabalhar mais por causa dos turistas. Isso chamou a atenção do casal.
— Boa tarde, amigo!
Rafael se aproximou para uma conversa.
— Boa tarde, sinhô! Tudo bão?
— Tudo bem! E parece que aí está tudo tranquilo também, não é mesmo?
— Tudo bão! Sempre ta tudo bão!
E o pescador riu.
— Me diga uma coisa, amigo. Fiquei hospedado aqui no vilarejo por vários dias e fiquei impressionado como o senhor trabalha tanto e sempre parece feliz. Lá onde eu moro eu trabalho tanto, mas nunca consigo terminar o dia com o sorriso como o senhor tem. Me conte! Qual é o seu segredo?
O pescador olhou e não pareceu surpreso com a pergunta. Provavelmente já respondera essa questão outras vezes.
— O sinhô é da cidade grande, né?
— Sou sim. Da capital. Respondeu Rafael.
— É por isso. Eu já vivi lá um tempo. E sei como é difícil trabalhar por lá. Por isso vim trabalhar aqui. Como pescador.
O casal apenas olhou apreensivo, esperando ouvir o resto da história. Então o homem continuou:
— Na cidade grande todo mundo trabalha esperando ser recompensado. Todo mundo trabalha querendo prêmio, querendo medalha. O que cêis fazem lá não é trabalho, é competição. E eu num gosto dessas coisas não, sinhô.
Ao ouvir isso, Liliane perguntou:
— O que o senhor gosta, então?
Eu gosto é de trabalhar, dona! Sabe... As pessoa da cidade grande devia parar de competir umas com as outras, parar de querer ser reconhecido. O que dá gosto mesmo é poder trabalhar sem se preocupar com essas coisas. É chegar ao fim do dia e saber que dei o meu melhor. Eu não importo se os outros vão elogiar o peixe que eu peguei ou não, porque eu sei que eu dei o meu melhor e não preciso ganhar elogio pra saber disso. A felicidade, dona, está no fazer. No prazer de fazer pelo fazer, e não no fazer pra mostrar pros outros que ta fazendo. Entende?
Liliane ficou em silêncio por um instante. Refletia nas palavras simples do pescador. O quanto ela não trabalhava apenas para conseguir uma promoção na empresa? O quanto ela não tirou diplomas e ficou trabalhando até tarde para ser reconhecida e ganhar um elogio do chefe? E nessas preocupações "da cidade grande" ela se esquecera do prazer que tinha em fazer o seu trabalho. Ela se esquecera que um dia tinha escolhido a sua profissão porque aquilo lhe dava prazer em fazer, e sem se importar com o que os outros iam achar. Porque quando você faz algo com o coração, o que mais importa é aquele momento. Aquele simples momento em que tudo em volta parece não existir, e você está imerso em algo, em um fazer que faz parte de você. E é nesse momento que não existe mais o trabalho e o trabalhador, mas sim eles são uma coisa só. E então se encontra a felicidade.
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Em busca da essência
SpiritualeUma compilação de 30 histórias curtas, em formato de parábolas, que trazem reflexões sobre a vida e sobre a espiritualidade, independente de qual religião você siga.