O dia seguinte nasceu com um pouco de frio. Em poucas semanas seria Natal, logo a neve começaria a cair e cobrir tudo. Sempre achei o frio solitário e tedioso, esse ano seria diferente, eu tinha uma "fogueira" pra me aquecer. A expectativa era que seria o melhor natal da minha vida; tomei café às pressas, recebi um beijo de boa sorte de Abby e saí. Minha mãe? Falava ao telefone empolgada programando o bazar de caridade de Natal, nem me viu sair, também não fiz questão que me visse.
Ao pôr os pés fora de casa o celular toca, o toque personalizado dele.
-Liguei pra desejar boa sorte, espero não ter te atrapalhado ontem à noite, você vai se sair muito bem minha advogada favorita.
-Claro que não, ajudou e muito na minha concentração. Te vejo depois da prova?
-Ok, te pego na lanchonete, avisa quando terminar.
A prova foi relativamente fácil, terminei em dois tempos, enquanto Doty coçava a cabeça com a ponta do lápis e fazia cara de "eu devia ter lido isso", Willys terminou no mesmo instante que eu. Nossa amizade não era mais a mesma, mas ele nunca deixaria de forçar a barra. Enquanto eu mandava mensagem pra Phill, ele se aproximou me abraçou forte e me convidou para lanchar. Não encontrei nenhuma desculpa melhor:
-Desculpa Will, não vai dar, eu passei a noite estudando, dormi mal e estou com uma dor de cabeça infernal, quero ir pra casa deitar, saímos outro dia, ok?
O deixei parado no corredor vazio e apressei o passo sem olhar pra trás. A lanchonete estava cheia, passei pela frente e me encaminhei pra ruela ao lado, onde sentei e esperei Phillip chegar. Ao longe se ouvia o barulho da Harley, subi na moto, é lógico que em algum momento alguém deve ter nos visto juntos, numa cidade com pouco mais de cinco mil habitantes seria bem difícil passarmos despercebidos, porém Phillip sempre andou com garotas em sua moto e com o capacete eu passava despercebida, era o que eu esperava. Chegamos ao galpão e logo de cara a expressão dos meninos denunciava preocupação, Adrian tentou sinalizar algo para Phill, mas disfarçou quando eu olhei pra ele. Algo muito errado pairava no ar.
Phillip abriu a porta do seu quarto improvisado e para a minha total surpresa, aquela garota estava de novo lá, deitada na cama dele, fazendo cara de deboche, abraçada com o travesseiro e seminua:
-Amor, você disse pra eu ir embora antes dela chegar, mas eu dormi, me desculpa.
A expressão dele era de total espanto igual a minha. Minha boca se escancarou, lancei para ele um olhar de: "De novo não". Ele retribuiu com uma expressão de "Não sei o que está acontecendo tanto quanto você".
-Que diabos você está fazendo aqui sua desgraçada? – Ele se virou pra mim, me abraçando e fixando seus olhos assustados nos meus:
-Annie é mentira, não acredita nela.
Virei de costas, respirei fundo, enquanto ele tentava de todas as formas me convencer que não tinha feito nada de errado, ela só ria. Me soltei do seu abraço e fui na direção dela.
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Mar de tubarões
Romance"Ela não sabia nadar, mas saiu da água domando as feras do mar." Annie Snows é uma jovem de dezenove anos moradora de Rogers, uma pequena cidade pacata do Arkansas, EUA. Seus pais são um dos casais mais influentes e ricos do local, mas nada parece...