Capítulo 6

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The way it was – The Killers

Acordei com uma perspectiva diferente, eu não sabia como encarar um namoro, ainda mais com uma pessoa de extremos como Phillip, não seria um namoro comum com o namorado jantando com seus pais, ou te visitando na sua casa no fim da tarde. Eu podia lidar com esse desafio, namorar escondido com um cara odiado pelos meus pais e pela cidade inteira não estava nos meus planos. Mas estava incrivelmente feliz e era ele mesmo que queria pra mim. Nos encontramos ás margens do lago Beaver. Dessa vez deixei Doty de fora, ela nem ao menos sabia que além de termos feito as pazes, agora éramos oficialmente namorados. Foi tudo como antes, como se nunca tivéssemos nos desentendido, foi a noite que tomei uma decisão importante. Nos dávamos muito bem, conversávamos por horas, ríamos como bobos e a cada dia que passava eu sentia que o amava cada vez mais. Então não tinha porque esperar mais.

Fizemos nosso típico lanche fast-food, tiramos muitas fotos, elaboramos vários planos deitados na grama como dois adolescentes, minha cabeça pousada no braço dele, ficamos apenas em silêncio olhando o céu, que nessa noite estava particularmente estrelado e batia um vento suave. Ele interrompeu o silêncio:

-A primeira vez que fiz isso eu tinha cinco anos, foi quando eu "fugi" de casa. Me escondi no quintal, levei um travesseiro e meu boneco preferido. Tinha uma caixa grande do fogão que meu pai tinha acabado de comprar, uns dias antes de ser preso. Me deitei lá dentro por um tempo agarrado ao boneco. Então achei uma posição melhor, coloquei a cabeça pra fora da caixa pra poder ver o céu, de alguma forma me senti confortado. Sabe o que aconteceu nesse dia?

Eu senti que o tom de voz mudou, tinha peso em suas palavras, respondi bem baixinho, enquanto fazia carinho em sua barriga: - Não, me conta.

-Nesse dia, Mary até tinha acordado bem, apesar de eu saber que ela passou a noite chorando por conta da prisão do meu pai; ela me levou ao banheiro para me ajudar no banho. Enquanto eu me ensaboava, ela saiu e trancou a porta. Voltou depois de três horas, completamente bêbada, ela me esqueceu lá. Eu quase morri de frio, o banheiro é pequeno e só tinha uma cortina de plástico dividindo o chuveiro do resto, ainda assim estava tudo molhado. Eu fiquei durante duas horas gritando por ela, nu. Quando cansei de chorar e chamar por ela, eu dormi sentado no vaso tremendo de frio, meus dentes batiam, era inverno... – Ele fez uma pausa e respirou fundo, percebi que ainda doía para ele lembrar dessas coisas. Ele continuou:

-E quando ela voltou, eu corri pra abraçá-la, chamando mãe, mãezinha e ela me olhou como se tivesse passado somente um minuto e disse: Você ainda não terminou essa merda de banho? Eu não entendi o porquê daquele tratamento, fiquei confuso e me doeu quando ela só jogou a toalha na minha cara e saiu tropeçando pela casa. Eu achei que ela não gostava mais de mim e resolvi "fugir" para o quintal. É por isso que eu odeio aquela maldita bêbada. A caixa foi meu reduto durante algum tempo até se desfazer com a chuva, chorei tanto quando a vi toda rasgada. Lembro de ter pensado: Pra onde eu vou agora? Por isso eu me sinto tão bem quando venho aqui, eu olho pro céu e sinto que meus problemas e toda a raiva que eu sinto diminuem. Me sinto minúsculo... –Ele se virou pra poder olhar pra mim... - Me promete uma coisa?

-O quê?

-Promete que nunca vai me abandonar? Que nunca vai desistir de mim?

Ele me abraçou forte e eu olhando nos olhos dele e passando a mão em seu cabelo, respondi:

- Prometo, com as estrelas como testemunhas, eu prometo.

-E nem contar pra ninguém sobre essa nossa conversa? Tenho uma má reputação pra manter, sabe como é.

Mar de tubarõesOnde histórias criam vida. Descubra agora