Capítulo 2

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A história que eu vou contar teve início no dia em que eu resolvi me soltar das amarras da vidinha conservadora e monótona de foco cem por cento nos estudos e levantei a cabeça (literalmente). Ao menos uma vez na vida permiti não me importar com o que pensariam a meu respeito, sem me preocupar com o que minhas atitudes pudessem causar ao imponente sobrenome Snows. Afinal aos 19 anos meus pais podiam se orgulhar e dizer aos quatro ventos que eu era uma menina exemplar, prodígio; aos seis anos de idade tocava piano como ninguém. Os estudos sempre foram primordiais para mim, já que um dia eu assumiria o escritório do meu pai sendo que sou filha única, e essa responsabilidade eu carregava comigo desde que comecei a entender sobre o que meu pai fazia e ele descobrir que eu podia ser muito persuasiva e argumentadora quando queria. 

Eu cursava o segundo ano de direito pela faculdade de Phoenix-Northwest. Eu deveria estar em Harvard, esse era o grande sonho do meu pai, me formar onde ele se formou, mas sair de Rogers não era algo que fazia parte dos meus planos. Quando recebia a carta de aceitação de Harvard bati o pé e usei da minha ótima argumentação, e disse NÃO! Cidades grandes não me agradam nem um pouco, todo aquele vai e vem de pessoas me deixa irritada. Resumidamente esse era meu objetivo de vida, me formar em direito e assumir a Snows & Atwill, continuar indo às missas no domingo e ajudar sempre que possível as causas da minha mãe, ainda que nem um pouco entusiasmada. Minha vida social era assim, monótona e parada. Mal sabia eu que o destino tinha traçado planos a seu bel prazer e não incluía monotonia e muito menos quietude.

Toda minha vidinha comportada e simplória começou a mudar desde a fatídica noite em que tive aquele sonho nada conservador. E durante uma  esbarrada na calçada num domingo, eu reconheci o homem do sonho, Phillip Kuopus. Simplesmente só o cara mais barra pesada de Rogers, um homem considerado perigoso e alguém que você não gostaria de encarar. Desde então, não tiro o bad boy da cidade da cabeça, não sei se de uma forma boa. A simples lembrança do sonho fazia meu corpo inteiro estremecer. 

*Wizardz of Oz – Bad men

Nunca antes do acidental esbarro tinha tido nenhum tipo de contato com ele, apenas o conhecia por sua péssima fama, e o temia como todos os cidadãos de bem de Rogers. Porém, é inegável que Phillip é um homem lindo. O tom da sua pele é acobreada é proveniente da origem havaiana do seu pai, músculos bem definidos sempre à mostra em suas camisetas justas. Sim, eu já havia reparado nele, mas nunca, nunquinha que me aproximaria dele em sã consciência. Uma outra vez ficamos lado a lado no balcão da lanchonete, e percebi o quanto eu parecia indefesa e frágil perto dele com seu 1.90m, seus 25 anos e seus ombros largos. Peguei-me de boca aberta o contemplando quando percebi que ele me olhava, meu coração parou por um segundo, ele sorriu cinicamente e eu me afastei o mais rápido que pude. Seu aspecto mais agressivo ficava completo por conta de uma tatuagem no braço esquerdo, uma Maori, típica da cultura havaiana. Ela tomava o ombro, antebraço e parte de seu peitoral em desenhos geométricos hipnotizantes, em sua maioria triângulos em fileiras e formas que idealizavam ondas, que por fim revelava um tubarão. Posteriormente descobri que os triângulos representam dentes de tubarão, que por sua vez, significa braveza e proteção contra os inimigos na cultura Maori/Polinésia.

Os olhos dele, ah os olhos! Perfurantes e ferozes olhos amendoados acompanhados de uma cicatriz no supercílio esquerdo e outras pequenas na maçã do rosto e próximo da boca, que ao invés de dar a ele um ar assustador, era exatamente o contrário, conferia a ele um ar de extremo encanto ameaçador. Ele adorava fazer a linha de bad-boy, encarava todos como se fosse a última pessoa para quem olhariam e tinha um meio sorriso que podemos chamar de "cafajeste mais auto confiante impossível", um sorriso tão sedutor quanto os seus belos olhos castanhos. Phillip é conhecido na cidade como bandido, tem nas costas diversas passagens pela polícia, a maioria delas por perturbação da ordem pública, dirigir sob influência de álcool e agressão. Com esse histórico, é de se constatar que ninguém goste e confie nele, as pessoas o evitam, o temem a ponto de trocar de calçada quando ele está vindo na mesma direção e sentir o coração quase parar se perceberem que ele está olhando pra elas. Ele anda quase sempre acompanhado por um grupo de rapazes que também não são nem um pouco queridos pela cidade, ele é o líder deles, e eles são conhecidos como tubarões, pois cada um tem um tipo diferente de tubarão tatuado.

Mar de tubarõesOnde histórias criam vida. Descubra agora