Capítulo 20

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Nos meses que seguiram tivemos paz e muito trabalho, eu a cada dia ficando mais cansada, a barriga já grande dificultava as menores tarefas que fossem, reta final para a chegada do bebê, oitavo mês de gestação. Nunca me disseram que seria assim tão antirromântico, e parece-me que a pior parte ainda está por vir.

Kevan e Phillip tocaram os negócios de maneira excelente, aperfeiçoaram a produção de queijo que Alex fazia de forma modesta e a cada dia a produção aumentava mais. Kevan era muito bom em negociações e em pouco tempo já estávamos produzindo e vendendo para as cidades mais próximas, até precisamos contratar algumas pessoas para ajudar na produção. Claro que o nome do queijo não podia ser outro, Warmen cheese. Fizemos empréstimo e compramos maquinários e mais alguns animais, nossa produção de frutas e verduras também crescia. Phillip se tornou um homem respeitado na cidade, as pessoas acenavam, falavam com ele, confiavam nele agora, e eu estava extremamente orgulhosa.

Meu pai continuava preso, nunca mais o vi desde o dia do julgamento, onde tive que testemunhar contra ele, acusá-lo. Esse foi um dia que eu incluí nos piores da minha vida. O julgamento foi a júri popular, todas as cadeiras estavam ocupadas e equipes de jornalismo acamparam em frente ao tribunal a fim de transmitir a repercussão do julgamento. Faixas e cartazes pediam justiça, o povo de Rogers compareceu em peso para acompanhar e dar apoio a nós e a família de Anders. Como o assassinato dele ainda não tinha prescrito, meu pai foi acusado pelos dois assassinatos, as duas tentativas de assassinato de Phillip e a que eu sofri no dia do casamento, perjúrio por ter mentido sobre o assassinato de Anders e sobre a tentativa de incriminar Phill por tentativa de homicídio e estupro. Foi sentenciado a pagar 30 anos por cada assassinato, 20 anos por cada tentativa de homicídio e 05 anos por cada perjúrio o que resulta no total de 130 anos de prisão, ou seja, prisão perpétua. Não foi nada fácil ver meu pai no banco dos réus, sempre de cabeça baixa, sério, eu tentava não olhar pra ele, não encontrar seus olhos, apesar de sentir a fúria dele ao ver que eu estava grávida. Foi apresentada a gravação da câmera de Doty, nessa hora foi uma choradeira só, eu, Doty, Sally, minha mãe, Phillip se levantou, pulou a cerca de proteção e correu para agredir o meu pai, mas foi impedido pelos agentes, foram necessários quatro policiais para arrasta-lo, ele ficou detido numa sala do tribunal, proibido de participar do julgamento até a conclusão. Foi muito difícil reviver aquele dia, rever aquelas imagens, Sally chegou a passar mal e ser retirada às pressas do tribunal.

Meu pai não negou mais nada, confirmou que havia planejado o assassinato de Anders de modo a acusar Kevan Kuopus. Ele contou os detalhes:

-Atraí Kevan através de Anders, pedi que dissesse a ele que Judy esperava por ele no bosque e dissesse a mesma coisa a ela. Eu disse a ele que desconfiava que Kevan tentaria algo contra ela e pedi que ficasse comigo escondido para que pudéssemos testemunhar e chamar a polícia. Anders aceitou, e quando Kevan estava próximo, eu atirei em Anders e joguei a arma na clareira, Kevan chegou, encontrou a arma e o burro o suficeinte, a pegou. Enquanto isso eu já havia chamado a polícia. Disse a eles que fui encontrar Kevan a pedido dele e que ele tentara me matar, mas acabou acertando Anders. Uns dias antes, Kevan e Anders tiveram um desentendimento o que foi fácil para eu escolher a pessoa certa a morrer e não deixar dúvidas de que teria sido Kevan. Quando Kevan encontrou o corpo de Anders foi exatamente no momento em que Judy chegou, a arma estava na mão dele.

Minha mãe chorava muito e os presentes começavam a falar, a juíza ordenou que o tribunal se calasse, meu pai continuou:

- Então eu disse a Judy que fui acompanhar Anders, pois Kevan o havia ameaçado e o chamado para resolverem seus problemas na clareira e que eu estava lá para ajudá-lo caso Kevan tentasse agredi-lo. A polícia chegou em seguida e o prendeu. 

Me custava muito acreditar que aquele homem confessando toda essa barbaridade com certa tranquilidade na voz e um sorriso maldoso, era o meu pai, aquele que me carregou no colo, me levava pra escola. Saí da sala profundamente abalada, minha mãe me seguiu. Já tinha dado meu depoimento, não precisava mais ficar ali. Passei dias com a voz dele em minha cabeça contando como havia feito tudo, não só do assassinato de Anders, mas as tentativas que Phillip sofreu na prisão e dias depois no hospital.

Mar de tubarõesOnde histórias criam vida. Descubra agora