Capítulo 11

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                                                                                    Phillip

Presídio de segurança máxima de Benton – Bentonville, meu novo lar por sabe Deus quanto tempo. Nem bem amanhecia o dia por aqui, um carcereiro desgraçado passava pelo corredor batendo nas grades com o seu maldito cassetete, eu sempre me assustava. O sono era a única paz que eu tinha, isso quando eu conseguia dormir, a maior parte do tempo eu ficava pensando em Annie e na merda de sorte que eu tinha.

Dias comuns: depois do café da manhã, todos saiam para o banho de sol, para o almoço sempre tinha aquela comida gosmenta, muitas caras me encarando, como se eu tivesse algum tipo de medo deles, jogando piadinhas, querendo arrumar confusão. Só Deus sabe o autocontrole que eu mantinha para não quebrar aquelas caras feiosas, chegava a doer no meu corpo, meus músculos estavam tensos e eu tinha enxaqueca todo o dia. Acho que quando sair daqui estou pronto pra ser monge, alcancei minha excelência transcendental. Tudo porque eu precisava ganhar a bendita condicional, não queria ficar mais tempo que o necessário nessa gaiola, Annie esperava por mim e eu já não aguentava mais ficar longe dela; ainda que isso significasse mais confusão em minha vida. Era uma confusão com a qual eu podia perfeitamente lidar.

Eu nunca gostei de alguém de verdade, muito menos amado alguém assim como a amo, nem mesmo minha própria família, pois quando eu achava que sabia o que era amor e quando eu mais precisei deles, eles me abandonaram, me negligenciaram, fui tratado como uma porcaria qualquer, tendo que me virar sozinho para comer, porque minha mãe estava tão bêbada ao ponto de nem se lembrar de ela própria comer, ou que eu precisava comer. Quantas vezes eu torci para que ela nunca mais acordasse dos comas alcoólicos que tinha. A chutava de leve ou cutucava pra verificar se estava viva e para meu desapontamento ela resfolegava, desgraçada! Eu dizia e virava as costas e ia embora. Cresci na rua, cortando a grama das casas, até o dia que aquelas moedas já não me satisfaziam mais e eu tive que roubar para poder me vestir, poder calçar, poder comer; sei que não justifica, mas eu escolhi o caminho que parecia mais fácil, se eu soubesse na época que trabalhar num supermercado arrumando prateleiras me pouparia de prisões e agressões eu teria pensado duas vezes. E assim começou a minha vida avessa, e eu gostava de viver assim até que essa garota com sorriso meigo e com cheiro de cupcake me quebrou por dentro e me deixou em cacos. Como ela pôde confiar em mim quando ninguém mais confiava? Como ela pôde me amar, eu sendo assim desse jeito? Como ela pôde se entregar para mim de maneira pura e altruísta, mesmo sabendo quem eu era e as merdas que eu fazia? Sem nunca pedir nada em troca. Meus dias se resumiram a questionar essas coisas e se eu realmente merecia seu amor.

Eu já estava acostumado com sua companhia, seu cuidado, seu amor. Cada maldito dia sem ela parecia uma eternidade, eles passavam a ter 80 horas e não mais 24. Eu preciso dela, não ela de mim. Me pergunto se estamos fazendo o certo? Será que é certo eu transformar a vida dela num inferno? Bagunçar tudo, destruir tudo que ela construiu? Ainda que ela diga que me quer, me pergunto se ela sabe as consequências que isso trará pra vida dela a longo prazo. Tenho medo só de pensar que um dia ela possa olhar pra mim e dizer que se arrependeu. Acho que eu morreria nesse dia.

Não tinha amigos ali dentro, ficava a maior parte do tempo sozinho. Até conhecia alguns daqueles rostos, mas preferi ficar só, chega de confusão por tempo indeterminado. Era o que eu inocentemente pensava.

Aproveitava o banho de sol para me exercitar, aliviar a tensão acumulada. Lá vem os merdinhas fardados dando ordens pra entrar, logo eu que adoro receber ordens... Respira, Phillip, respira. Faltam só quatro meses e alguns dias. Que bosta! A quem estou tentando enganar? Falta uma vida!! Peraí, quem é aquele cara ali? Ele está me encarando, me fuzilando com o olhar, eu retribuí. É, eu conheço aquele cara, foi ele que eu por pouco não matei de porrada, o mesmo que fez essa cicatriz no meu rosto. O clima fechou, isso não vai prestar. Ainda assim vou continuar na minha, torcendo para que nada estrague meus planos de sair rápido dessa merda.

Mar de tubarõesOnde histórias criam vida. Descubra agora