Era sábado de manhã e eu costumava acordar mais tarde, porém não tinha conseguido dormir direito, fiquei pensando em tudo o que Phillip havia dito, derramado algumas poucas lágrimas e atacado a geladeira na madrugada. Doty estava enrolada no edredom, levantei devagar e desci para procurar algo pra comer na cozinha, meus pais já tomavam café e meu pai dizia consternado:
-Encontraram a carcaça do carro na estrada totalmente destruída, se eu pego o desgraçado que fez isso eu mato sem piedade. Eu sei que foi aquele maldito Kuopus, mas ele não deixou rastros e o Holt não encontrou nada que o incriminasse. Mas eu sei que foi aquele bastardo, eu sei.
Quase engasguei com a torrada, ouvi tudo aquilo com certo peso na consciência, por que eu não contava a verdade? Eu deveria, essa situação me maltratava por dentro. Mentir, ocultar, algo que eu não fazia e que agora havia se tornando um pequeno hábito. Mas não poderia incriminá-lo, de jeito nenhum. Minha mãe interrompeu meu profundo dilema:
- Annie, eu juro que ouvi alguém chamando seu nome ontem à noite.
-Já disse que foi engano, o rapaz estava chamando na casa errada. Vou tomar café no quarto. Abby, você me ajuda?
-Você anda muito estranha ultimamente, como está na faculdade? São tantos trabalhos, tantas pesquisas. Você não para mais em casa.
-É o final do semestre mãe, as coisas são mais puxadas.
-O Willys não faz parte da sua equipe? Vocês sempre foram tão unidos, o que houve? Falei com ele ontem e ele me disse que não tem tantos trabalhos assim e que não tem falado com você ultimamente.
Willys falando mais que a boca como sempre, pensa rápido Annie...
-Estamos fazendo laboratórios diferentes mãe. Vou subir agora. Abby me ajuda com essas bandejas?
Acordei Doty e tomamos nosso café da manhã tranquilamente, resolvi ligar o celular e para meu desespero as mensagens dispararam, todas de Phillip, uma imensidão de ligações perdidas, algumas já pela manhã. Meu coração apertou, me vi vivendo um conflito interno. Se ele não se importasse não insistiria tanto assim, mas e tudo o que vi? Eu devia terminar nossa conversa ou abandonar de vez essa história sem nunca mais falar com ele? Minha razão dizia abandona, meu coração dizia o contrário. Ok, eu vou falar com ele.
Enquanto eu pensava com um semblante perdido, o celular tocou e eu despertei do meu pequeno transe, Doty falava como uma matraca, mas eu não ouvi uma única palavra. O celular continuou tocando e era ele. Doty me olhou de maneira travessa e pegou o celular:
-Ah, nem pensar, você não vai atender esse cretino, não mesmo.
Tentei tomar o celular da mão dela, corri atrás dela pelo quarto, por cima da cama e ela correu pro banheiro e trancou a porta. Pensando bem, deixe que sofra mais um pouco. Mas a quem eu quero enganar? Quem mais está sofrendo com essa história toda é a bobona aqui. Queria me convencer que Phillip está apenas brincando comigo, ele não pode gostar de mim de verdade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mar de tubarões
Roman d'amour"Ela não sabia nadar, mas saiu da água domando as feras do mar." Annie Snows é uma jovem de dezenove anos moradora de Rogers, uma pequena cidade pacata do Arkansas, EUA. Seus pais são um dos casais mais influentes e ricos do local, mas nada parece...