Cinco longos meses se passaram, já era verão, e em toda a cidade predominava sorvetes e guarda-sóis. Eu ia sempre á praça do bairro para ler minhas cartas, já tinha lido todas uma centena de vezes, mas nunca parecia ser suficiente. As crianças corriam de um lado para outro com suas bochechas rosadas, os casais faziam piqueniques e adormeciam juntos ao sol, alguns faziam cooper, outros apenas passeavam com seus cachorros peludos e eu só observava a tudo como se todos tivessem uma vida pra viver, menos eu.
Falta pouco Annie, tudo indica que mês que vem você o verá outra vez. Meu peito ardia só de imaginar o dia que iria reencontrá-lo. Parece que tudo que vivemos foi a uma vida, mas todos os momentos estão bem vívidos em minha memória e é neles que encontro motivos para levantar da cama todos os dias. Comecei a frequentar Harvard normalmente, fiz amizade com Lucy, uma garota da Pensilvânia. Sobre Phillip, ela apenas sabia que ele estava muito longe e Doty a odiava de todo o seu coração ciumento. Meu ânimo se renovava, cada dia que se aproximava de vê-lo era um colorido a mais no meu coração, que ultimamente andava cinzento. Doty me ligou as cinco da tarde pontualmente como de costume:
-Amiga, amanhã é a audiência que vai decidir se Phillip sai ou não em condicional.
Respirei fundo e comecei minhas preces, Doty continuou:
-Amanhã estarei lá para saber o resultado e te ligo assim que souber.
Não consegui dormir a noite inteira, havia espinhos imaginários em minha cama, levantei e fui para a janela olhar as estrelas. Elas continuavam lá, lindas e brilhantes.
-Phillip conta com vocês estrelinhas, e eu também.
O sol surgiu, minhas olheiras denunciavam que a noite tinha sido uma longa vigília.
-Santo Deus Annie! Por acaso está treinando para se tornar panda? - Minha vó falou ao me ver na cozinha às 05:00 da manhã, não resisti e ri.
-Não consegui pregar o olho a noite inteira vó.
-Ainda os pesadelos?
-Sim, outros tipos de pesadelo.
- Você não quer me contar? Eu posso ajudar, pesquisar o que significam.
-Não vó, está tudo bem. Que café cheiroso!
Passei a manhã na varanda, o celular grudado ao corpo, olhava pra ele de cinco em cinco segundos. Minhas unhas agora eram apenas lembrança de unhas que foram bem feitas um dia. No almoço, eu apenas revirei a comida de um lado para outro.
-Você está me preocupando querida. Me diga o que está acontecendo.
O celular tocou. Santo Deus! Meu coração saiu do peito e voltou, era Doty.
-Nada vó, com licença. – Saí para atender, nem tive oportunidade de dizer oi.
-Amigaaa, ele está livre, livre, livreee.
No emaranhado de emoções não sabia se ria, se chorava, ou se plantava bananeira... Pulei, dancei. O pesadelo enfim estava acabando. Quando consegui falar:
-Quando? Quando Doty?
-Em uma semana.
Uma semana me separava de Phill, só uma bendita semana. Agora sim eu poderia pôr em prática a minha volta. Reunir todo o dinheiro que consegui e fazer as malas discretamente. Sinto muito vó.
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Mar de tubarões
Romance"Ela não sabia nadar, mas saiu da água domando as feras do mar." Annie Snows é uma jovem de dezenove anos moradora de Rogers, uma pequena cidade pacata do Arkansas, EUA. Seus pais são um dos casais mais influentes e ricos do local, mas nada parece...