A manhã seguinte nasceu com um aspecto meio tenebroso, o céu nublado, um vento frio e não demoraria a chover. Phillip levantou cedo, não dormiu bem, a tarefa que teria pela manhã consumia seus nervos. Não via o pai desde que tinha cinco anos. Lembrou-se instantaneamente do dia em que Mary recebeu a notícia da prisão, de como ela, descontrolada, quebrava tudo em casa; nunca mais foi a mesma depois desse dia, ele também não. Parado na varanda, o pensamento vagava longe, e um cigarro entre os dedos demonstrava o quão essa situação era incômoda e o quanto exigiria dele. A doce Sally o despertou de seu devaneio com uma xícara de café quentinho. Perguntou se por acaso ele não queria levar algo para Kevan, ele negou avidamente, não deixaria toda a raiva de anos acabar em segundos de sentimentalismo. Em seu nervosismo evidente, uma carteira de cigarros se foi apenas pela manhã e já preparava outra pra levar se perguntando se seria suficiente.
O presídio que Kevan estava era em outra cidade, mas relativamente perto de Rogers, então em meio dia Phillip chegou em frente ao presídio de Craighead County Detention Center em Jonesboro a quase cinco horas de Rogers, um presídio que se pode considerar de segurança média, para detentos que tinham um bom comportamento. O nervosismo o dominava cada vez mais, o que o fez voltar da entrada da prisão umas duas vezes. Esmagando o cigarro no chão falou pra si mesmo:
-Tenho sido muito covarde ultimamente.
Buscou bem lá no fundo lembranças boas do pai, aquele sentimento de criança quando sentia a falta dele. Respirou fundo e entrou. Tinha prometido a si mesmo não voltar a presídios e delegacias tão cedo, de preferência nunca mais, com exceção da sua apresentação semanal obrigatória por conta da condicional. Não tinha sido fácil conseguir a autorização de sair de Rogers, explicou aos agentes de Rogers que faria sua apresentação da semana ao sistema prisional em Jonesboro, só assim poderia sair dos limites de sua condicional.
O presídio estava cheio de parentes e amigos que vieram visitar os detentos, respirou fundo mais uma vez e sentiu dificuldade em falar o nome do pai quando um policial da recepção perguntou pelo nome do detento:
-Kevan Kaleo Kuopus, por favor.
-O que você é pra ele?
As palavras engataram na garganta, teve dias que ele nem lembrava que seu pai existia.
- Filho.
-Sua identificação e digitais aqui, por favor. – Hum, parece que você está em condicional, e ainda não se apresentou essa semana. Ah, sim, a apresentação será aqui. Muito bem, depois da visita, procure o agente da condicional, se não você terá problemas. Não esqueça.
Assentiu, o nó na garganta parecia aumentar, as mãos suando e seus cigarros tiveram que ficar do lado de fora. Pouco lembrava do seu pai, talvez nem o reconhecesse. Batia os dedos ansiosamente na mesa, em minutos estaria cara a cara com o pai. Se sentiu um idiota por estar tão nervoso.
Kevan surgiu pela porta acompanhado de um carcereiro e teve um grande espanto quando viu Phillip, reconheceu seu filho mesmo sem tê-lo visto durante vinte anos. Não pensou duas vezes, correu até ele e o abraçou muito forte, tocou em seu rosto, as palavras de Kevan saíam pesadas pelo grande sentimento que carregavam, custando a acreditar que seu filho estava mesmo ali, em carne e osso:
-Phillip meu filho, você veio. Esperei tanto por esse dia. Que belo rapaz você se tornou!
Phillip não abraçou o pai, ficou estático enquanto Kevan o apertava em seus braços. Não queria prolongar essa cena esquisita, lançou sobre Kevan um olhar duro e pensou:
Nem de longe é o homem que eu me lembrava, seus cabelos agora estão salpicados de branco,mas o sorriso sim, o sorriso continua o mesmo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mar de tubarões
Romance"Ela não sabia nadar, mas saiu da água domando as feras do mar." Annie Snows é uma jovem de dezenove anos moradora de Rogers, uma pequena cidade pacata do Arkansas, EUA. Seus pais são um dos casais mais influentes e ricos do local, mas nada parece...