Doty
Saí correndo do banheiro de roupão, minha mãe dizia que tinha escutado tiros e que agora a polícia estava na casa de Mary. Cheguei na rua com o cabelo escorrendo e descalça. Haviam três viaturas da polícia na frente da casa de Phillip, cheguei a tempo de vê-lo saindo escoltado pelos policiais e algemado. Abri caminho entre as pessoas mexeriqueiras, de roupão e touca. Ele estava dentro da viatura, mantinha um olhar firme, a cabeça erguida, do jeito Kuopus de ser, quando me avistou, lançou um sorriso triste.
Mary correu em direção a viatura, chorando e implorando que não levassem seu filho, ela começou a agredir um dos policiais. Minha mãe foi ajudá-la, tentar confortá-la e acalmá-la. Corri atrás. Ela dizia aos prantos:
- De novo! Aconteceu de novo. Eu avisei, ele não quis me ouvir.
- Mas o que está acontecendo? -Perguntei
-Estão o acusando de estupro, agressão e tentativa de homicídio. Mas é mentira, mentira!
Ela soluçava, meu queixo caiu, alguma coisa estava errada, Phillip não seria capaz de machucar Annie, as viaturas saíram. Corri pra buscar meu celular. Me preocupei imensamente com minha amiga, o que raios está acontecendo?
Ainda presa no meu próprio quarto, eu só conseguia chorar inconsolável e imaginar o que havia acontecido com Phillip, do jeito que meu pai saiu e do jeito que Phill é explosivo, só conseguia visualizar uma grande tragédia acontecendo, e o desespero tomava conta de mim. De que maneira eu iria consertar toda essa confusão? Porque eu tinha que fazer algo. Meu celular vibrou no bolso da calça, um alívio tremendo, pois eu nem lembrava que ele estava ali, era Doty.
-Amiga, pelo amor de Deus, o que está acontecendo? Como você está?
-Você sabe algo sobre Phill? Me fala. - Eu soluçava e Doty já começava a chorar do outro lado.
-Olha, eu quero que você me escute com atenção e fique calma. Por favor amiga, fique calma, a polícia acabou de levar Phillip preso, o acusaram de tentativa de assassinato do seu pai e, e....
-E o quê Doty? Pelo amor de Deus fala de uma vez.
-Es, es, estupro. Seu pai disse que Phillip estuprou você.
Deixei o celular cair da minha mão, não pode ser, meu pai não faria uma coisa dessas. Faria?
Eu não conseguia acreditar, minhas mãos estavam atadas, as lágrimas escorriam incessantemente, ele seria acusado de uma coisa tão monstruosa e eu ali não podia fazer nada. Na verdade, eu podia sim e faria.
-Doty, você ainda está aí? Preciso de sua ajuda mais do que nunca...
Eu ia salvá-lo, nem que eu me jogasse pela janela e foi praticamente o que fiz. Algumas horas mais tarde, no começo da noite, escutei a porta destrancar, minha mãe apareceu com os olhos inchados e vermelhos, ela entrou de cabeça baixa, me olhou uma única vez e desviou do olhar furioso que eu lançava para ela, trouxe na mão um prato de comida, eu continuava encolhida na cama ainda sem parar de chorar; colocou o prato no criado-mudo. Ela permaneceu de pé, em silêncio. Não fiz questão de ver o que era, peguei o prato e o atirei pela janela, gritando para que ela saísse do meu quarto e me deixasse em paz. Ela me olhou assustada e saiu sem dar uma palavra. Pouco tempo depois, a casa se acalma, meu pai havia retornado do hospital e eles tinham ido para o quarto com certeza, me preparei para ajudar Phillip, conforme tinha combinado com Doty que já me esperava lá embaixo.
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Mar de tubarões
Romance"Ela não sabia nadar, mas saiu da água domando as feras do mar." Annie Snows é uma jovem de dezenove anos moradora de Rogers, uma pequena cidade pacata do Arkansas, EUA. Seus pais são um dos casais mais influentes e ricos do local, mas nada parece...