Capítulo 16

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Enquanto dirigiam pela estrada Alex indagou Phillip:

- Então, como você está se sentindo? Lembro quando pedi Sally em casamento há 42 anos, eu também não tinha onde cair morto, mas trabalhei duro e o começo foi bem difícil. Mas graças ao bom Deus Sally é uma mulher muito companheira, nunca reclamou de nada, nem quando tínhamos que dividir um prato de comida, ou quando comíamos pouquíssimo no almoço para poder deixar algo para a janta, ou quando Sally remendava seus vestidos e colava seus sapatos. Foi uma época realmente difícil, mas superamos, e vejo que Annie é assim também, abandonou tudo para ficar com você, está disposta a enfrentar o mundo. Nunca a decepcione Phillip, seja merecedor desse amor e dessa mulher.

-Isso me assusta, nunca imaginei que alguém pudesse sentir algo assim por mim. As pessoas sempre me odiaram ou me ignoraram e eu me acostumei com isso, fiz disso minha fortaleza até que ela chegou e botou a muralha a baixo. Me sinto perdido sem ela agora, como se tudo que eu fui um dia não passasse de um borrão, de imagens desconexas e embaçadas.

- É assim que o amor funciona, ele nos destrói e nos reconstrói e vice e versa.

Phillip observava a vegetação que passava rapidamente, um meio sorriso brotou em seu rosto e ele seguia com os olhos semicerrados, pensando nas palavras de Alex, se seria mesmo merecedor de ser amado dessa maneira.

-É velho, eu realmente me ferrei.

Os dois se entreolharam com sorrisos e a pick up parou em frente ao cartório da cidade. Alex o adverteu:

-Se comporte, não importa o que ele fale, fique calado. Esse velhote cretino é a única pessoa que pode nos ajudar, sem ele não há casamento legal. - Phillip assentiu e bufou. Adentraram o local, um forte cheiro de papel velho tomava conta do lugar. Gerald estava sentado atrás de uma mesa folheando um grande livro que deveria ter uns 30 anos devido suas folhas amarelas e a capa já despedaçada.

-Bom dia Gerald, seu velho cretino, como estão suas amigas traças?

-Veja só... a múmia saiu do sarcófago! Bom dia seu velho gagá, o que te traz por aqui? Veio fazer o testamento? - Quando ele percebeu quem acompanhava Alex, se reservou a um cumprimento seco e desconfiado: - Bom dia pra você também rapaz.

Os dois velhos sorriram e se abraçaram por um tempo, Phillip retribuiu o bom dia com um breve aceno de cabeça, começou a estalar os dedos e sufocou a vontade de rir da forma desconfiada e temerosa com que Gerald olhava para ele. Alex se sentou e fez um sinal para que Phillip sentasse também:

-Testamento? Pra quê se eu ainda vou viver por mais duzentos anos. Não é isso, vim te cobrar aquele favor de 10 anos atrás.

Gerald o olhou com um breve espanto e baixou a cabeça assentindo:

-Velho maldito! Não esquece nada, eu sabia que esse dia ia chegar. Diga o que você quer.

-Preciso que você realize um casamento em no máximo dois dias, estes são os documentos, prepare a papelada. E seja discreto.

Quando ele viu os documentos, arregalou os olhos, balançou a cabeça negativamente e falou:

-Você só pode estar louco mesmo, seu velho idiota, essa é Annie Snows? E vai casar com um Kuopus? Não estou entendendo nada, os pais dela sabem disso? Sinto muito velho, me peça outra coisa, mas isso não. Isso não está me cheirando bem, o que você está aprontando?

-Você tem medo daquele cretino do Snows? Annie tem 19 anos e pode se casar sem a permissão dos pais, você sabe disso.

-Sim eu sei, mas veja bem, que eu saiba essa história não acabou muito bem das últimas vezes, Alex... – Ele tirou um lenço do bolso e começou a limpar o suor que brotava da sua testa. Alex bateu furiosamente a mão na mesa e falou:

Mar de tubarõesOnde histórias criam vida. Descubra agora