PRÓLOGO

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ALERTA DE GATILHO!!! ABUSO 

As carteiras estavam vazias, o professor falava e falava, gesticulava como se regesse uma orquestra, mas acho que era apenas algo sobre Direito Constitucional.

Pela janela eu observava frustrada as pequenas gotas de chuva que começavam a cair. O ponteiro do relógio parecia não sair de 00:00h. Mas por que eu permanecia a essa hora na faculdade, numa sala vazia apenas na companhia de um professor irritantemente empolgado? Não fazia nenhum sentido algum.

Quase 02:00hr da manhã e eu já do lado de fora da faculdade tomava coragem para enfrentar o meu percurso. A chuva continuava caindo tímida e o vento rodopiava frio, passando suas mãos geladas pelos meus braços, me arrepiei inteira. Como eu pude esquecer o casaco?

Comecei a caminhar, por mais que Rogers fosse uma cidade pequena e pacata não se pode dar oportunidade ao azar. Especialmente naquele trecho da igreja abandonada de Saint Vincent De Paul  onde até as cercas vivas eram assustadoras; a chuva fina e a luz fraca dos postes incrementavam o cenário de filme de terror. Ali eu sempre apressava o passo tentando não olhar para os lados, focando o pensamento em coisas aleatórias.

Enquanto caminhava apreensiva, tive a sensação de uma presença, e os pelos do meu braço se eriçaram. Mesmo não querendo, o medo me impulsionou a olhar para trás, e percebi que não muito longe alguém começava a andar rápido para me alcançar. Apertei os livros contra o peito e apressei o passo ainda mais, o coração acelerando a mil. O medo corria por todo meu corpo, meu sangue congelando lentamente pelas veias, mal sentia o chão debaixo dos meus pés.

Pude ver de soslaio a sombra se aproximando e ouvir o ruído dos seus passos apressados. Tentei correr, mas em um movimento rápido,  conseguiu me alcançar. Segurou firme o meu braço e abafou meu grito com a sua mão, todos os meus livros foram para o chão, pisoteados e chutados pra longe enquanto ele me arrastava pela rua na direção do prédio abandonado. Era um homem grande e tinha muita força, conseguiu me imobilizar sem muita dificuldade. A escuridão era total e eu não consegui ver o seu rosto. Inutilmente eu me debatia, batia nele e tentava me soltar, mas eu apenas ouvia sua respiração arfada e seus urros quando eu o acertava e então ele me apertava ainda mais. Uma das portas laterais da igreja já estava aberta, presumi que ele já esperava sua vítima.

O local estava completamente escuro, exceto por uma pequena vela acesa bruxuleando no canto esquerdo. O homem, com toda a sua força, prendeu meus braços e me pressionou contra a parede. Enquanto uma das suas mãos me prendia, a outra deslizava pela minha barriga por dentro da blusa e ele me beijava ferozmente, sua barba arranhando violentamente meu rosto. Eu continuava a me debater, tentava empurrá-lo e desviava desesperadamente o meu rosto da sua boca, mas eu sendo tão pequena comparada a ele, e já ofegante do esforço vão, não consegui mais lutar. A fraca luz revelava de maneira ensombrada a forma dos seus braços, ombros largos, músculos torneados e rígidos.

Me puxou novamente pelo braço e me jogou na escada que dava acesso ao altar, me prendeu embaixo dele e então, com a ajuda da fraca luz, eu pude ver o brilho verde dos seus olhos que enalteciam o olhar faminto, os dentes perfeitos em sua boca entreaberta, o cabelo loiro preso. Ele continuava a não dizer uma palavra. Tocou meu rosto, afastando os fios de cabelo que grudaram no meu suor e me beijou novamente, sua boca descia até o meu pescoço e eu imóvel embaixo dele fitava os anjos pintados no teto e as imagens empoeiradas que nos observavam. Uma prece desesperada e silenciosa ecoava em minha mente. Os olhos de Jesus na cruz me olhavam com piedade.- Senhor, me ajuda! Foi o que consegui balbuciar.

Eu voltei do meu devaneio quando ele rasgou minha blusa, seu olhar era duro e penetrante. Enquanto me olhava, eu imaginei que estivesse lendo minhas emoções, o meu pavor me paralisava e o excitava, sabia que me teria sem objeções. Deu um meio sorriso e levantou a sobrancelha, seu olhar era incrivelmente diabólico, me senti subjugada diante dele, sem forças para encarar. Abriu o zíper da minha calça e meu sutiã com violência, e eu já não mais me debatia, pois estava totalmente entregue àquele homem. Ele aproximou lentamente seu rosto do meu, seus lábios bem próximos aos meus. Minhas mãos apertavam suas costas e uma lágrima escorria pelo meu rosto.

 Aceitando meu trágico destino presa entre o corpo daquele estranho, num rompante milagroso, outro homem adentra a igreja e em ira extrema puxa o agressor pelas costas o lançando altar acima. O loiro levantou-se furioso e os dois se atracaram entre socos. Me arrastei até o banco mais próximo quando vi o brilho de um revólver na mão do meu algoz.

O homem que me salvou levantava com dificuldade, a fraca luz da chama revelou uma imensa tatuagem no braço esquerdo. O rosto não pude ver com facilidade, pois escorria sangue dele. Num reflexo tolo tentei alcançá-lo, mas o tiro explodiu.

O relógio despertou às 07h00 como de costume. Acordei sobressaltada, respiração ofegante. O que foi aquilo? Olhei ao redor e estava no meu quarto e não em uma igreja abandonada.  

Mar de tubarõesOnde histórias criam vida. Descubra agora